Rio - Reconhecida como vital em qualquer grande companhia, a área de TI está passando — em muitas companhias — de alvo principal das demandas internas à posição de demandante. Na esteira do avanço da computação em nuvem, serviços antes desenvolvidos pela própria empresa passaram a ser contratados junto a fornecedores externos. À medida em que aplicações mais “tradicionais”, como correio eletrônico e armazenamento de dados, vão sendo migradas para a nuvem, departamentos de tecnologia da informação ganham mais autonomia e flexibilidade para se concentrar no negócio principal da empresa. Do outro lado da moeda, está o risco de os executivos de TI perderem terreno dentro de suas companhias e, com isto, deixarem de ser relevantes.
“Com a contratação de um parceiro externo, a empresa deixou de investir R$ 5 milhões. Oito servidores de arquivo espalhados por oito sites da empresa foram eliminados”, conta Guilherme Cruz, diretor de TI do Grupo Wilson Sons. Com atuação em sete segmentos de negócios, incluindo logística e terminais portuários, o grupo contratou em 2012 o Google, inicialmente para prover o serviço de e-mail. Posteriormente, foram adotadas todas as ferramentas da plataforma corporativa Google for Work.
“Houve uma inversão de papéis. Nós, que antes éramos uma área extremamente demandada, passamos a cobrar das outras áreas da empresa o uso da plataforma”, constata Cruz, que hoje viaja a trabalho apenas com um notebook leve ou mesmo um tablet, por conta dos dados armazenados na nuvem. Apesar das mudanças, a Wilson Sons — que no país tem cerca de seis mil empregados espalhados por 30 sites de trabalho — continua a desenvolver “dentro de casa” serviços que dependem de ambientes controlados (mais seguros) e aplicações pesadas.
Especializada em meios de pagamento, a brasileira Cappta optou por terceirizar completamente a infraestrutura de data centers utilizada em seu negócio, que atualmente engloba 13 mil estabelecimentos varejistas. As máquinas da Cappta aceitam todas as bandeiras nacionais de cartões e outras cem regionais. “Se fôssemos desenvolver tudo internamente, com o nível de segurança exigido pelo mercado, precisaríamos de uma estrutura gigantesca”, afirma Thiago Teixeira, sócio e diretor de Relacionamento com Cliente da Cappta, acrescentando que a equipe do diretor de TI da empresa conta com apenas quatro empregados.
A empresa recorreu à Microsoft para prover a infraestrutura tecnológica que viabiliza seu portal de transações, no qual os varejistas podem acompanhar o histórico de vendas. “Queremos focar no que somos bons”, justifica Teixeira.
Além dos ganhos potenciais de produtividade, a migração em direção à nuvem — via terceirização — ganhou mais apelo com a piora das condições macroeconômicas do país. “A pressão é muito forte na direção de cortes de custos. Os orçamentos estão mais restritos”, explica Guilherme Bujes, diretor de Serviços de Consultoria para América Latina da EMC, empresa americana que atua nas áreas de armazenamento de dados, big data e computação em nuvem, entre outras. “O CIO (sigla em inglês para diretor de Tecnologia) é desafiado a ser cada vez mais relevante”. Bujes reconhece que, em última instância, uma companhia pode migrar boa parte da infraestrutura de TI para um ambiente externo.
Mas, na prática, o que vem ocorrendo é uma tentativa de balancear os prós e contras da transferência de serviços para parceiros externos. O uso de infraestrutura alheia por meio da nuvem computacional permite, por exemplo, que as empresas ofereçam a seus empregados e-mail com capacidade de armazenamento ilimitada, em vez de terem de investir na aquisição de novos servidores. Quando se trata do provisionamento de infraestrutura de TI, ou seja, de torná-la disponível para o usuário final, um prazo de 250 a 300 dias pode ser reduzido para questão de alguns poucos dias, argumenta Bujes, da EMC.
Apesar de o mercado brasileiro de cloud computing ser disputado por players globais, o Google não teme a competição, garante Alessandro Leal, diretor de Negócios da companhia no Brasil. “Nossa grande vantagem sobre a concorrência é que já nascemos na nuvem, ao contrário de outros concorrentes que estão indo para ela por causa da escalabilidade”, argumenta o executivo.