Por diana.dantas

E parece que o uso abusivo do WhatsApp está passando dos limites. No Facebook, a amiga Bety Orsini pede socorro: “Preciso de uma solução para um problema que está me tirando do sério. As duas moças que trabalham aqui em casa vivem o dia inteiro (mas é o dia inteiro mesmo) trocando mensagens no WhatsApp e atrapalhando o trabalho. E olha que não sou nenhuma exigente. A coisa está me deixando nervosa. Gostaria de saber se alguém conhece alguma coisa (um aparelho, o desligamento de algum botão, sei lá) que possa impedir de essa coisa funcionar aqui no meu apartamento.”

O problema é generalizado. No setor de serviços no Rio, que é vergonhoso, você invariavelmente tem que esperar que a atendente da lojinha (ou o taxista, ou o trocador do ônibus, ou o PM etc.) leia e responda seus ‘zapzaps’ antes de atendê-lo.

É um terror, mas a triste notícia é que esse condicionamento um tanto vergonhoso está apenas começando. Semana passada, o Jack London deu uma ótima aula sobre o que devemos esperar das novas tecnologias. E a chamada virtualização do real está no nosso caminho. Diz que, cada vez mais, vamos substituir a presença física pelas interações a distância, via dispositivos ‘vestíveis’, como óculos ou luvas ou o que vier por aí, tudo conectado ao resto do planeta, via internet.

De certa maneira, isso já existe há um tempo, até porque todas as TICs estão aí para extender nossos sentidos, na mais bela tradição MacLuhan. Mas a velocidade com que aparecem as novidades é que está cada vez mais acelerada.

Assim, esta internet nossa de cada dia, usando PCs e quetais, vai ficando para trás — e o mercado já começa a dizer isso, à medida que ano a ano cai a venda de desktops e notebooks. Também não é à toa que vemos, por outro lado, a indústria vai investindo justamente nas tecnologias vestíveis (um nome ainda deveras estranho em português, mas que é equivalente ao wearable). Até mesmo (ou principalmente) o Facebook, que vive aparentemente do tráfego de letrinhas entre seus usuários, sabe que o futuro está na chamada expressão digital.

A questão é que estamos hoje começando a viver o fim da expressão escrita tal qual a conhecemos. Foi bom enquanto durou, mas a fila anda. Considerando uns cinco milhões de anos de história humana, temos pouquíssimo tempo usando a linguagem escrita. É coisa recente, afinal, com não mais que cinco mil anos. E a tal da invenção do Gutenberg, nosso rei, tem pouco mais de 500 anos.

Só que, pelo jeito, essa preponderância das letrinhas não vai durar muito. Estamos vivendo no que o Thomas Pettitt chama de ‘Parênteses de Gutenberg’, que já comentamos aqui: uma lacuna na história da expressão oral.

No fim das contas, vamos ver que é justamente a linguagem oral que manda na Humanidade, e as nossas tecnologias digitais estão ajudando-a a retomar sua força. (Lembremos que, infelizmente, a escrita não é o forte de grande parte da população mundial e nada indica que será diferente...)
Não por acaso, e para desespero das operadoras, o WhatsApp tratou de criar uma ferramenta permitindo a transmissão de voz. Imagine, Bety Orsini, imagine quando nossos prestadores de maus serviços começarem a trocar mensagens faladas - em alto e bom som, como de costume... Ou seja, a promessa é assustadora.

Para variar, haverá quem jogue a ‘culpa’ desse desvio na tecnologia. Como se sabe há milênios, a tecnologia não é um mal em si. O problema é o uso que se faz dela. Ou a falta de educação.
Penso, por exemplo, na Bel Pesce. Jovem empreendedora, ela não larga do smartphone ao longo do dia, onde quer que esteja. Está o tempo todo trocando mensagens (de voz ou não) com seus funcionários. Mas é incapaz de incomodar a turma que está por perto. Esse ‘manual de bom comportamento’ é que está faltando a boa parte dos 800 milhões de usuários em todo o mundo.
Enfim, vamos nos falando. A ideia é essa...

Unisys: menos é mais

Tenho andado particularmente interessado em levantar casos de empresas que tenham vivido crises sérias e, rearrumando a casa, conseguiram se reerguer. Dia desses citei a BlackBerry, que ainda apanha mas está no caminho. A Unisys é outro bom exemplo.

Até o início deste século, ela era uma gigante da tecnologia que rivalizava com a IBM, sobretudo no mercado de mainframes. Mas a receita desandou e, em meados dos anos 2010, a dívida bateu níveis estratosféricos.

Em 2008, o novo CEO, Ed Coleman, adotou um lema bem simples, que nunca deve ser negligenciado: menos é mais. A empresa teve de demitir como nunca, desfez-se de inúmeros ativos, vendeu operações, tocou os ‘desinvestimento’ e começou sua reestruturação.

Até então, explica o Mauricio Cataneo, diretor-presidente da Unisys Brasil, a estratégia do grupo, em todo o mundo, era atacar o mercado de forma bastante ampla, e todos os segmentos e indústrias eram alvo. Só que, à medida que foi se distanciando do chamado DNA, foi se perdendo. Atirar para todos os lados é um erro bastante comum entre as empresas que temos visto por aqui.

“Numa empresa de 142 anos de idade, com 90 de Brasil, a adaptação ao mercado foi sempre uma constante”, diz Cataneo.

Deu certo. Entre 2009 e 2014, o valor das ações foi multiplicado por dez, e houve lucro em todos os trimestres. A dívida de US$ 1,4 bilhão foi renegociada para US$ 1,2 bilhão, sendo que US$ 1 bilhão foi pago até setembro de 2013, com o restante sendo rolado para 2017, e 2014 fechando em US$ 3,35 bilhões de receita. Belos números.

O recado, pois, se repete: não dá para abrir mão do tal do DNA. No caso da Unisys, valeu voltar às áreas de datacenter, segurança da informação e suporte, com foco em verticais como finanças, varejo, transportes (portos, aeroportos e cias aéreas) e setor público. Nada, por exemplo, de vender PCs, mercado onde ela esteve presente até o fim dos anos 90 — assim como a IBM.

Hoje, US$ 3 trilhões em transações financeiras interbancárias rodam diariamente em sistemas Unisys, que também processa 25% das cargas aéreas transportadas no mundo. Peso pesado. Aqui no Brasil, a empresa responde pelo processamento de mais de 70% dos contratos de crédito imobiliário no Brasil.

Ou seja: na hora da crise, a solução é voltar às origens. Claro que é legítimo a empresa querer ganhar o mundo. O problema é querer abraçar o mundo com as pernas. Em geral, não dá certo.



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