Por monica.lima
"O escritor é sempre muito inseguro%2C é alguém que não sabe muito bem o que faz e um livro é sempre um tiro no escuro"%2C diz TezzaDivulgação

Depois de conquistar uma surpreendente quantidade de prêmios com “O Filho Eterno”, Cristovão Tezza tornou-se uma das maiores referências contemporâneas na literatura brasileira. Com mais de 16 livros publicados, o escritor catarinense lança seu novo romance “O Professor”, em que conta a história de Heliseu da Motta e Silva, um catedrático aposentado que se prepara para receber, aos 71 anos, uma homenagem por sua carreira. Além da nova obra, Tezza se prepara para, em breve, acompanhar nas telonas as adaptações dos títulos “Juliano Pavollini”, lançado em 1989, e do sucesso de público “O Filho Eterno”, de 2007.

Qual foi o ponto de partida para a nova história?

É sempre um mistério pra mim de onde vem uma história. Comecei a escrever alguns rabiscos iniciais de “O Professor” há uns quatro anos, despretensiosamente, e depois pensei que dava um bom romance. O escritor é sempre muito inseguro, é alguém que não sabe muito bem o que faz e um livro é sempre um tiro no escuro. Eu imagino uma coisa e no livro sai outra. Escrever é um processo duvidoso e misterioso. O mais importante para mim é a como a história conversa com o leitor. “O Filho Eterno”, por exemplo, é um livro que eu tinha uma baixa expectativa, mas se tornou um sucesso.

Sua experiência com o universo acadêmico foi um impulso?

Certamente me deu o material para escrever, já que a narrativa se constrói em um mundo que conheço bem, mas isso não quer dizer que seja auto biográfica. Trata-se de uma história de ficção, que tem como pano de fundo a universidade e seu crescimento como instituição a partir dos anos 1960. O livro acompanha essa trajetória da história brasileira em forma de flashes.

Depois que recebeu os prêmios pelo “O Filho Eterno”, você disse que queria viver de literatura. Conseguiu realizar esse projeto?

Comecei a dar aula aos 34 anos, mas meu objetivo sempre foi ser escritor. A universidade acabou sendo um refúgio para que eu conseguisse me manter como escritor. Não estava lá me escondendo, mas minha pesquisa acadêmica teve um ponto final depois da minha tese. De certa forma, realizei aos 60 anos, o sonho que tinha aos 17. Quando escrevi “O Filho Eterno” era uma história sobre memória, um livro intuitivo. Hoje é a obra que me deu o empurrão para mudar de vida.

É mais fácil viver de literatura hoje?

Incomparavelmente mais fácil. Até os anos 2000, o escritor não tinha chance nenhuma. Hoje, é possível por uma série de fatores, como a distribuição da internet, o barateamento da produção, o aumento do número de leitores e mais editoras. Vivemos em tempos em que as editoras estrangeiras chegam ao Brasil, isso não era comum. Sempre falo que sobrevivo como um camelô literário, de palestra em palestra.

O que mudou na sua rotina?

Eu escrevo no mesmo ritmo de sempre, tenho uma média de lançamentos de dois em dois anos. A gente vai ficando velho e dormindo menos, então aproveito para escrever de manhã até a hora do almoço. O que não mudou é o método, sou muito metódico com tempo e sempre trabalho de segunda a sexta, produzindo uma página e meia por dia.

Hoje você testa novas linguagens e formatos? 

Quando escrevo, não penso como um teórico, sim como um químico que testa uma nova fórmula literária, vou descobrindo formatos na linguagem que o livro anterior não tinha. Já trabalhei bastante com a linguagem de realismo reflexivo, em 2004, com “O Fotógrafo” experimentei uma fórmula extremamente intimista. Mas, o amadurecimento das minhas estruturas sintáticas veio com “O Filho Eterno”. “O Professor” é uma síntese do meu olhar sobre o mundo. A velhice deve servir de alguma coisa e acho que é para contemplar um olhar mais complexo. A medida que o tempo passa, a gente tem dificuldade para simplificar as coisas.

Histórias do escritor ganham as telonas

Os livros “O Filho Eterno” e “Juliano Pavollini”, de Cristovão Tezza, passarão da literatura cinema no próximo ano. Com direitos comprados pela RT Features, do produtor Rodrigo Teixeira, “O Filho Eterno” começa a ser filmado ainda este ano com Paulo Machline na direção. “Este é um projeto muito importante e de enorme responsabilidade, um filme delicado que ainda está sendo escrito sem pressa”, detalha o cineasta indicado ao Oscar em 2001, pelo curta “Uma História de Futebol”. Em “Juliano Pavollini”, um menino criado em família interiorana foge de casa no dia em que seu pai morre e ele completa 16 anos. O livro, escrito em 1989, teve os direitos cinematográficos comprados pelo ator Caio Blat há dois anos, mas ainda está em fase de captação de patrocínio para as filmagens. O roteiro, já finalizado, foi construído em parceira com o pernambucano Hilton Lacerda, diretor de “Tatuagem” e roteirista de “Amarelo Manga”. Completa a equipe a diretora de arte Renata Pinheiro, de “Febre de Rato”. “Só escrevo o que vejo, meus livros são extremamente visuais, mas não tenho experiência de roteiro, sou escritor de literatura. Prefiro entregar o livro para que criem uma outra obra, com outra linguagem e outro olhar”,  explica Tezza.

Latorraca volta aos palcos em ‘Entredentes’

Com uma crítica bem humorada sobre as manifestações de horror que acontecem no mundo, a peça “Entredentes”, escrita e dirigida por Gerald Thomas, chega aos palcos do Sesc Consolação a partir da próxima quinta-feira, dia 10. Em cena, a história se desenrola a partir do encontro entre um islâmico radical, vivido por Edi Botelho, e um judeu ortodoxo, encenado por Ney Latorraca, no Muro das Lamentações, em Jerusalém. O espetáculo comemora os 50 anos de carreira de Ney Latorraca, além do retorno de Gerald Thomas à produção brasileira, desde “Kepler, The Dog - O cão que insultava mulheres”, de 2008.

“Muros servem para dividir, mas também para unir quando caem. E é onde se mija, onde o pau quebra, onde famílias são divididas, porque políticos assim o decidem do dia para noite. Eu os chamo de ‘muros dos despachos’ já que, na minha vida, vi tantos subirem e tantos caírem depois de mortes inúteis e tratados não respeitados”, destaca Gerald Thomas.

O diretor, que trabalha pela terceira vez Ney Latorraca — as outras foram em “Don Juan” (1995) e “Quartett” (1996) —, tem como método escrever papéis para atores específicos. “É uma coisa que começou com Julian Beck, que dirigi em 1985, em Nova York, e que continuou com as Fernandas (Montenegro e Torres). Se chama metalinguagem. Eu escrevo para a pessoa, com as idiossincrasias que ela tem. Então uso o que o ator tem de melhor e o que tem de pior também”, explica. Além de Latorraca, a peça conta com Edi Botelho, ator que integrou a Companhia de Ópera Seca, criada por Thomas em 1986, e Maria de Lima, atriz portuguesa radicada em Londres, que fez parte da London Dry Opera Company — também criada pelo diretor brasileiro —, onde atuou em “Throats” e “Gargólios”.

ONDE CONFERIR

"Entredentes” está em cartaz de 10 de abril a 11 de maio, no Teatro Anchieta do SESC Consolação. Rua Doutor Vila Nova, 245, na Vila Buarque, em São Paulo.

Obras de Edino Krieger em mostra retrospectiva, no CCBB carioca

A Mostra Sonora Brasil, que apresentará obras de Edino Krieger, compositor, produtor e crítico musical, está em exibição no Centro Cultural do Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB-RJ) até domingo. Além das obras de Edino, os espetáculos exibirão diversos compositores que tiveram obras apresentadas nas Bienais de Música Brasileira Contemporânea - evento de música contemporânea idealizado pelo compositor há 40 anos.

O Sonora Brasil é desenvolvido pelo Sesc há 17 anos e busca levar as obras das Bienais para as cidades fora do eixo Rio-São Paulo. Até o fim do ano, oito grupos se apresentarão em 123 cidades diferentes, totalizando 454 apresentações. Além de itinerar pelo país, a mostra apresenta programações relacionadas com o desenvolvimento histórico da música brasileira.

Hoje, haverá exibição do grupo Duo Cancionâncias,  contemplando diversos gêneros da música brasileira e latinoamericana contemporânea, com obras para violão e canto. Amanhã, será a vez do Quinteto Brasília, um dos poucos dessa formação a tocar clássicos de sopro em atividade no Brasil, executando obras próprias. Para encerrar, haverá um concerto do Quarteto Belmonte, grupo de cordas formado especialmente para o projeto, com músicos com larga experiência em orquestras.

ONDE ASSISTIR

Nos dias 4, 5 e 6 de abril, às 19h, no Centro Cultural do Banco do Brasil do Rio - Rua 1º de março, 66 (Centro).

NOTAS

'É tudo verdade’ a partir de hoje no Rio e em SP

A partir de hoje, está em cartaz a 19ª edição do Festival Internacional de Documentário, “É Tudo Verdade”, no Rio e em São Paulo. Até 13 de abril, serão apresentados 77 títulos, vindos de 26 países. Entre eles, “Um Homem Desaparece”, do japonês Shonei Imamura.

Mostra inédita sobre o Grupo ZERO, em SP

Pela primeira vez no país, a Pinacoteca apresenta a exposição “ZERO”. A mostra traz uma visão geral do “Grupo ZERO”, vanguarda alemã dos anos 1960 formada por Otto Piene, Heinz Mack e Günther, que alterou de forma decisiva a arte do período pós-guerra.


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