Rio - Nem só de lances geniais vive a memória das Copas do Mundo. A mordida do jogador uruguaio Luis Suárez no ombro do atleta italiano Chiellini, no jogo em que o Uruguai eliminou a Itália, na última terça-feira, custou a sua permanência no Mundial do Brasil e, certamente, será sempre lembrada nas retrospectivas da competição. O Comitê Disciplinar da Fifa o suspendeu por nove jogos oficiais pelo Uruguai, e por quatro meses das atividades ligadas ao futebol.
O ato impulsivo do jogador afetou também sua imagem: a Adidas, apesar de continuar patrocinadora do uruguaio, suspendeu o contrato vigente para a Copa e o site de apostas 888poker encerrou sua ligação com Suárez.
Suárez é reincidente: em 2013, ele mordeu o zagueiro Ivanovic em partida entre Liverpool e Chelsea, e pegou gancho de dez partidas. Em 2010, na Holanda, jogando pelo Ajax, ele se exaltou durante uma discussão e mordeu o pescoço do atacante Bakkal, do PSV. Ficou suspenso por sete jogos.
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Adidas suspende atividades publicitárias com Suárez durante Copa do Mundo
Atitudes violentas já marcaram outras edições da Copa. Fonte inesgotável de discussões apaixonadas sobre táticas, regras e resultados, o futebol, nesses casos, fomenta uma reflexão sobre ética. Nem o 'Rei do Futebol', sempre caçado em campo, ficou livre de ter atitude semelhante. Em 1970, Pelé aplicou uma cotovelada no jogador Dagoberto Fontes, depois deste lhe dar um pisão na partida contra o Uruguai pelas semifinais da Copa do México. A discrição do gesto do 'Rei', aplaudido por muitos, levou o árbitro a punir o jogador uruguaio."Não é aquele negócio de dar, tem de saber fazer", diz o zagueiro Piazza no filme "Pelé Eterno", que mostra a vingança do jogador.
Na Copa de 1982, a vítima foi o brasileiro Batista. Diego Maradona, em sua estreia na competição, chutou o volante em uma dividida: foi expulso e a Argentina eliminada na segunda fase do Mundial, ao perder para os brasileiros por 3 a 1. Este ano, Diego revelou que queria, na verdade, acertar o jogador Falcão, mas errou. Na edição de 1994, o jogador Leonardo causou surpresa ao desferir violenta cotovelada no meia-campista Tab Ramos da seleção dos EUA, a dona da casa. A atitude intempestiva do brasileiro tirou da Copa o jogador uruguaio, naturalizado americano, ainda nas oitavas de final. Leonardo foi expulso e ficou de fora da competição. Tab sofreu lesões no cérebro e no maxilar e, vinte anos depois, revelou que ainda sente dores de cabeça. O ex-jogador faz parte da comissão técnica dos EUA e está no Brasil neste Mundial.

Em 1998, o inglês bonitão David Beckham perdeu a linha em frente ao juiz, durante jogo contra a Argentina. Revidou a falta cometida por Almeyda Simeone, que o derrubou, com um chute e foi expulso. A Copa de 2006, na Alemanha, ficou marcada pela cabeçada - e consequente expulsão - de Zinédine Zidane no italiano Marco Materazzi no jogo da final, vencido pela Azurra. O italiano confessou um ano depois que ofendeu a irmã do craque francês, de origem argelina. A cabeçada foi imortalizada em uma estátua de cinco metros de altura, do artista franco-argelino Adel Abdessemed, batizada de 'Coupe de Tête' (cabeçada). Ficou exposta diante do Centro Georges Pompidou, na região central de Paris, e depois foi comprada pela Autoridade de Museus do Catar. No país árabe, ficou exposta apenas um mês por causa de protestos religiosos, que viam ali uma idolatria não-mulçumana e o incitamento à violência.
