Por marta.valim
Lindália Reis, diretora de Inovação da Estácio, e equipe de pesquisa e desenvolvimento da universidade no espaço de co-working do Startup NaveMaira Coelho

Quem quer começar uma startup esbarra, logo no começo, com um vocabulário estranho, que inclui palavras e expressões como: equity, pitch, speeed dating e business model canvas. Entender o que elas significam é apenas o primeiro passo. O empreendedor iniciante ainda tem que saber se sua ideia é viável, como criar o novo negócio, geri-lo, apresentá-lo ao mercado e buscar financiamento. Nesse ponto, programas como o Startup Nave da Estácio, StartupRio e StartupRJ do Sebrae podem ajudar.

A universidade Estácio abriu inscrições para o primeiro ciclo de pré-aceleração de startups, do Núcleo de Aceleração e Valorização, que incluirá aulas presenciais e mentoria, entre agosto e dezembro deste ano. O programa terá uma parte dedicada à formação, com 80 horas de aulas sobre ferramentas aplicadas à criação de novos negócios, gestão de projetos, plano de marketing e comunicação, e 16 horas de orientação jurídica e financeira. No fim do ciclo, haverá um demo day, em que os participantes apresentarão o resultado de seus projetos para uma banca de especialistas e investidores.

Segundo a diretora de Inovação da Estácio, Lindália Reis, o Startup Nave foi pensado a partir de uma necessidade observada no mercado há cerca de um ano. “Dentro do ecossistema de empreendedores e de startups, havia alguns programas de incubadoras junto a universidades, em que o aluno tinha que pagar, programas de desafio, aceleradores e investidores. Nesse meio do caminho, quem é que estava atuando? O startuper acabava sendo um autodidata”, explica. “A gente descobriu que poderia colaborar se criasse uma formação em educação empreendedora, selecionasse esses startupers iniciantes e os amadurecesse para lançá-los ao mercado com mais chances de sucesso e competitividade”, acrescenta.

O "Startup Nave" é gratuito e não está restrito aos estudantes da Estácio. A exigência é que as startups sejam formadas por equipes de duas a cinco pessoas, com pelo menos um integrante que seja aluno, ex-aluno ou egresso da universidade e que um participante tenha disponibilidade para cumprir a carga horária completa do programa.

“Entendemos que temos que fazer parte dessa rede de colaboração (típica do ambiente de novos negócios digitais). Com quase 450 mil alunos, se a gente começar a fomentar a inovação internamente e esses jovens puderem multiplicar (esse conhecimento) aqui ou no mercado, estamos abrindo portas para o jovem brasileiro de uma forma geral”, complementa Lindália Reis.

A ideia da universidade é expandir o projeto para outras unidades regionais. “O ensino superior tem que formar novos profissionais, mas que possam criar seus próprios negócios. Temos que mostrar para o jovem que ele tem capacidade de ser empreendedor e, mais ainda, um empreendedor inovador”, opina.

A inovação está presente no próprio espaço escolhido para sediar o projeto. O prédio fica localizado na Zona Portuária do Rio de Janeiro, vizinho do Instituto Nacional de Tecnologia, onde também devem ser instalados os núcleos de inovação de empresas como a Intel, Cisco e da Microsoft. O local é apontado pelo governo como o “Vale do Silício brasileiro”.

Além do espaço de co-working para as startups, o andar dedicado ao programa inclui uma “sala do futuro”, com móveis reciclados e de fácil locomoção que permitem a formação de grupos, além de uma lousa digital, o primeiro projeto patenteado pela universidade, que permite interação com os smartphones e tablets dos alunos.

Os interessados no programa devem enviar um vídeo defendendo seu projeto até dia 14 de julho. Os melhores farão uma apresentação presencial em que também deverão demonstrar uma postura empreendedora. Serão selecionados de dez a 20 projetos a cada semestre, com temas livres.

A iniciativa da Estácio, contudo, não é a única voltada para novos empreendedores. No Rio de Janeiro está em andamento o “StartupRio”. O governo do estado selecionou 50 projetos que receberão capacitação, mentoria e investimentos de R$ 100 mil cada um, com recursos da Faperj. No fim do programa, haverá um demo day para apresentação das startups ao mercado. As inscrições para este ano já foram encerradas, mas o secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, Alexandre Vieira, informou que, em novembro, deve ser lançado novo edital para o ano que vem. Segundo ele, o projeto deve se estender pelos próximos cinco anos. A capacitação é feita em parceria com o Sebrae.

O programa é gratuito, com duração de dez meses e oferece espaço de co-working no Catete. Segundo o secretário, a ideia é usar esse ambiente para atividades voltadas também para o público externo e ser um catalisador para o movimento de startups no Rio. “Nós focamos nessa fase da pré-aceleração porque a gente entende que o Rio já tem um ambiente muito positivo de aceleradoras, entre as maiores do país. Precisamos de um volume maior de projetos”, disse Vieira.

O “Sebrae StartupRJ”, uma das frentes do Projeto Transformar do Sebrae, criado em 2012, está com inscrições abertas para sua quinta turma. Segundo, Ivan Constant, coordenador de Empresas de Base Tecnológica da instituição, “o Sebrae busca atuar na base da pirâmide das startups”. O programa para os iniciantes é formado por três módulos de oito horas, aos sábados, e dois encontros, durante a semana, à noite, de duas horas cada, quando os participantes terão encontros com especialistas do mercado. Para participar, é cobrada uma taxa de mil reais, mas 70% do custo é subsidiado pelo Sebrae. Cada startup pode ter dois empresários.

Saiba em que fase está sua startup

Segundo Guilherme Junqueira, diretor executivo da Associação Brasileira de Startups (AbStartups), as novas empresas passam por quatro fases até tirarem uma ideia do papel e se tornarem aptas ao mercado. A primeira delas é a da curiosidade, onde o empreendedor se depara com um vocabulário estranho e busca informações na internet, cursos online e forma um conhecimento autodidata do que fazer. A partir daí, o inovador avança para a etapa que ele considera mais difícil, a da transformação da ideia em uma ação, a “ideação”. “É nesse momento que ele vai arregaçar as mangas ou contratar alguém para ajudá-lo, geralmente, quando envolve uma parte tecnológica”.

De acordo com Junqueira, esta também é a melhor hora para buscar capacitação. “Às vezes, ele (o empreendedor) empaca em um ponto como cobrar pelo seu serviço, fazer a divulgação ou ajustar o projeto ao mercado e deve buscar ajuda profissional”.

O diretor executivo da AbStartups explica que os programas de capacitação são indicados quando o empreendedor tem uma “ideia na cabeça e um time”. No caso de uma germinadora, grupos se reúnem para buscar soluções para um problema. “A ideia é criada e desenvolvida na germinadora. Depois vem a capacitação”, explica ele. Já a pré-aceleração, com programas mais longos, mescla capacitação com mentoria e costuma discutir os projetos caso a caso.

A terceira fase do processo é a operação. Para entrar em uma aceleradora, o produto, teoricamente, já está pronto para vender. A ideia é torná-lo escalável, ou seja, ampliar o número de clientes e das vendas, sem que isso acarrete grande aumento dos custos. “A startup já tem CNPJ, já tem os primeiros clientes”.

A aceleradora, normalmente, é composta por sócios que já tiveram startups e formam um conjunto de mentores. A aceleradora faz um investimento, em média de 20 a 30 mil, na startup e passa a ser sócia do projeto, ficando com 5 a 15% dos lucros. Nesse sentido, Junqueira destaca a importância de uma capacitação prévia. “Quanto mais embrionário estiver seu negócio, mais equity (participação na empresa) a aceleradora vai ter”.

“A incubadora é uma prima da aceleradora, sendo indicada para projetos que têm risco mais incerto e necessitam de aporte um pouco maior de dinheiro, que vem, geralmente, de financiamentos públicos não reembolsáveis. As incubadoras são mais indicadas no desenvolvimento de hardwares, biotecnologia, com um tempo mais longo de incubação, de 18 meses a dois anos, enquanto as aceleradoras são mais focadas em software”.

O quarto e último momento é chamado tração. Já existe um modelo de negócio, de cobrança e de vendas, a startup sabe quem é seu cliente e tem investimentos de cerca de R$ 1 milhão. Essa é a fase de crescimento e consolidação da nova empresa.

Entenda o “startupês”

equity: participação do sócio na empresa

pitch: apresentação do projeto da startup, geralmente, para investidores

speed dating: rápida encontro para apresentação de projetos da startup, com feedback de especialistas

business model canvas: ferramenta de gerenciamento estratégico, que permite desenvolver e esboçar modelos de negócios, através de um mapa visual.

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