Por monica.lima

A trajetória de Kleber Cavalcante Gomes, o Criolo, na música é bastante incomum. Após 20 anos de estrada, o rapper paulista estava decidido a encerrar a carreira, pois a atividade mal lhe permitia pagar as contas. Em 2011, lançou “Nó na Orelha”, disco dedicado a sua família e que marcaria sua despedida. Ele só não imaginava que a obra produzida por Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral o colocaria sob os holofotes nacionais e, menos de um ano depois, estaria dividindo o palco com Caetano Veloso. Em “Convoque seu Buda”, álbum que acaba de lançar, Criolo passeia, mais uma vez, pelos mais variados ritmos da música brasileira com o talento e a criatividade já reconhecidos pelo público e pela crítica. Após o show que fez junto com o rapper no Rio de Janeiro, Milton Nascimento afirmou que, além de um encontro entre amigos, a apresentação representava um “ato político”. A conotação política é uma forte marca da obra de Criolo e aparece com ainda mais força em seu novo trabalho. Na turnê de apresentação do novo álbum, afirma que visitará canções do disco que o projetou, além de seu primeiro trabalho, mais marcado pelo rap, “Ainda há Tempo”.

A conotação política é uma forte marca da obra de Criolo e aparece com mais força em seu novo trabalho "Convoque seu Buda"Caroline Bittencourt/Divulgação

“Eu estou sempre no Grajaú, ou aqui na região do centro velho de São Paulo, na Santa Efigênia, e ali é a Cracolândia. A qualquer hora do dia, você está vendo cinco, dez, 20 pessoas entregues a essa doença, passando por situação difícil. É a verdade do que a gente vê, pessoas lutando para ter moradia, para sair de um vício. Isso é uma realidade. Machuca, porque desde criança você vê isso. E a gente não quer ver nosso povo sofrendo desse jeito”, explica, falando sobre a inspiração para suas composições.

Ainda falando sobre política, ele classifica como “deprimente” a manifestação de preconceito contra os nordestinos durante as eleições, especialmente em São Paulo. “O que é isso? Que falta de respeito inadmissível. É vergonhoso, sobretudo por ter vindo de pessoas que se dizem cultas. Como assim? Não estou entendendo. Ou melhor, estamos entendendo bem e sempre soubemos disso, só que, agora, as pessoas não estão mais disfarçando esse sentimento”, dispara. Filho de nordestinos criado no bairro do Grajaú, em São Paulo, Criolo afirma que não se trata de uma realidade nova.

“Uma vez, passei em casa depois de ter tido um acidente, e meu pai tinha chegado do serviço, por coincidência, e me levou para o pronto-socorro. Ao chegarmos lá, fui prontamente atendido, mas meu pai demorou quase duas horas para ser liberado, porque, por ser negro e nordestino, chamaram a polícia para investigar se ele tinha participado de um sequestro, pois um jovem que tinha sofrido um acidente durante um sequestro estava lá”, conta.

O novo disco, que levou três meses para ser produzido, traz participações com outros nomes da nova geração da música brasileira, como Tulipa Ruiz, Juçara Marçal e o rapper Neto. Ele explica que, conforme compunha as canções, os nomes dos parceiros vinham à mente. Mais uma vez, o álbum ultrapassa as barreiras do rap e dialoga com diversos ritmos, brasileiros, africanos e jamaicanos, passeando pelo samba, reggae, e o dub, sob a tutela de Ganjaman.

Não é só o diálogo entre estilos variados que Criolo propõe. Na visão do músico, a ausência desse elemento é uma das grandes mazelas da sociedade atual. “Dentro de casa, tem pessoas que não conversam. O diálogo é, também, entender o que o outro está falando. É ter paciência para ouvir. Mas nós estamos todos muito ansiosos. A gente acabou de sair de uma ditadura, que acabou de sair de uma escravidão, que acabou de sair de uma invasão. A gente tem vergonha do nosso passado. Mas nossa história é muito rica. Existem pessoas que construíram nossa nação que são de uma beleza tão grande, que isso é um prato cheio para a gente se sentir valorizado e ter orgulho da nossa história, de nossa construção, em meio a todo o caos posto”.

Em abril deste ano, justamente por não ter conseguido estabelecer um diálogo com o público, Criolo virou alvo de brincadeiras na internet. Em entrevista a Lázaro Ramos, no programa Espelho, do Canal Brasil, ele tentou relativizar o conceito da nova classe média. Uma frase em especial, “Lázaro, alguém nos ajude a entender”, virou “meme” nas redes e, no disco novo, foi transformada em música por Criolo, na canção Cartão de Visita. “Na hora em que eu estava construindo o texto, a frase veio de modo natural. Como eu não fui aceito, não soube me comunicar, procurei seguir o toque das pessoas. Eu não tenho dimensão de quem está ouvindo o que eu estou falando. Estava conversando com um amigo, procurando ser o mais simples, como se eu tivesse aqui conversando com você, ou na laje de casa lá no Grajaú. Todo mundo cobra de qualquer pessoa que ela seja natural e ela mesmo. Só fui eu mesmo”, esclarece. Colaborou o estagiário João Pedro Soares

'Preconceito contra nordestino é falta de respeito inadmissível', diz Criolo - Confira a entrevista completa

AGENDA DE SHOWS

SÃO PAULO - SP: Sesc Vila Mariana (14, 15 e 16 de novembro)

RIO DE JANEIRO - RJ: Fundição Progresso (21 de novembro)

BELO HORIZONTE : Parque das Mangabeiras (22 de novembro)

PORTO ALEGRE - RS: Bar Opinião (03 e 04 de dezembro)

CAXIAS DO SUL - RS: All Need Mater Hall (05 de dezembro)

CURITIBA - PR: Ópera de Arame (06 de dezembro)

BRASÍLIA - DF: Parque da Cidade (07 de dezembro)

CUIABÁ - MT: Mandinga Festival (20 de dezembro)

O ‘canto do cisne’ de duas lendas vivas do Rock

Não deixa de ser irônico que os lançamentos mais badalados da indústria musical no final de 2014 sejam de dois mitos do rock que na prática não produzem material relevante há pelo menos trinta anos. Os críticos mais ácidos alegam que “Endless River”, o derradeiro álbum do Pink Floyd, e as reedições dos álbuns do Led Zeppelin não passam de caça-níqueis com embalagens luxuosas para colecionadores. A julgar pelo interesse e admiração que ambas as bandas despertam nas gerações mais novas, o mito parece resistir ao esgotamento criativo desses grandes músicos, que buscam ao mesmo tempo preservar o legado e dar um fim digno às suas gloriosas carreiras.

“Endless River”, o álbum de despedida do Pink Floyd é um tributo ao tecladista e cofundador Rick Wright, que morreu de câncer em 2008. Montado a partir de material que seria utilizado para uma edição dupla do álbum “Division Bell”, “Endless River” (Rio infinito, na tradução em inglês) traz as marcas registradas do Pink Floyd: o órgão e os sintetizadores pilotados pelo subestimado Wright produzem texturas encharcadas de eco e reverberação que fazem a cama para a guitarra inconfundível de David Gilmour costurar melodias límpidas, econômicas e melancólicas. Longe da inspiração de clássicos como “Dark Side Of The Moon” e “Wish You Were Here”, “Endless River”, é um canto de cisne digno de uma banda que, no auge criativo contribuiu para dar ao rock o status de arte.

Também foram lançadas as edições especiais de “Led Zeppelin IV” e “Houses of The Holy”. Pela quantidade de clássicos, ambos os álbuns parecem coletâneas. A remasterização a partir das fitas masters realça a característica que fez do Led Zeppelin uma lenda: os contrastes entre luz e trevas, leveza e peso, em que a dinâmica e a interação quase sobrenatural entre os integrantes eram absolutas. E como se não bastasse o material original, as novas edições trazem material de estúdio inédito, com versões alternativas que farão a felicidade dos fãs e atrairão as novas gerações. André Boudon

Filme sobre Joãosinho Trinta chega aos cinemas

Desde ontem está em cartaz nos cinemas o longametragem “Trinta”, que conta a história do carnavalesco Joãosinho Trinta. Estrelado por Matheus Nachtergaele e dirigido por Paulo Machline, o filme conta a história de Joãosinho, que nasceu em São Luis, no Maranhão, e se mudou para o Rio de Janeiro para ser bailarino. Antes de ingressar no samba e revolucionar os desfiles, o carnavalesco integrou o Corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio, chegando a encenar as óperas como “O Guarani”, de Carlos Gomes. Com produção em andamento desde 2002, o filme foi arquivado pelo diretor várias vezes até conseguir um patrocinador definitivo. Enquanto o roteiro ficou na gaveta, Machline produziu o documentário “A Raça Síntese de Joãosinho Trinta”, em que conta sua história através de entrevistas com o protagonista e pessoas de seu universo, com objetivo de usá-las como pesquisa para seu filme de ficção. Bem recebido no Festival do Rio, “Trinta” chega aos cinemas com a promessa de conquistar o público. Vale conferir!

NOTAS

10º Festival de Cinema Italiano tem início no MIS-SP

A partir da próxima terça-feira, dia 18, até domingo, 23, a 10ª edição do Festival de Cinema Italiano de São Paulo tem início no Museu da Imagem e do Som. Neste ano, o evento traz uma retrospectiva
de Pietro Germi, em homenagem ao seu centenário.

Show ‘100 anos de Caymmi’ acontece hoje no Vivo Rio

Hoje, Nana, Dori e Danilo se reúnem no Vivo Rio para homenagear o pai, o grande compositor Dorival Caymmi. O show é uma das comemorações ao aniversário de 100 anos do compositor baiano. Ingressos à venda no: ingressorapido.com.br

Moulin Rouge quebra recordes mundiais no cancan

Chegou às lojas ontem, o 60º Livro Guinness, que traz três novos recordes batidos pelo cabaré parisiense Moulin Rouge. Entre eles, o de mais “ronds de jambes” de cancan em menos tempo: 29 em 30 segundos, realizado por 44 dançarinas.

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