Por luana.benedito

Rio - No centro da polêmica sobre a suspeita de compra de votos pela candidatura do Rio aos Jogos Olímpicos de 2016 estão supostos pagamentos a dirigentes africanos que teriam recebido propina em troca do apoio para que o Brasil recebesse o evento. A suspeita é de que o acordo final tenha ocorrido em meio a festas e reuniões promovidas em Abuja, na Nigéria, três meses antes da votação em 2009.

Suspeita é que acordo tenha ocorrido em meio a a festas e reuniões promovidas em AbujaSaulo Cruz/Exemplus/COB

Na investigação conduzida no Rio e em Paris, todos os indícios apontam para Lamine Diack, ex-presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF). Em 2009, quando o Rio venceu a corrida para sediar os Jogos de 2016, Lamine Diack foi um dos primeiros que foi até a delegação brasileira para abraçar Pelé e outros membros do grupo quando o nome da cidade carioca foi anunciada. Naquele mesmo dia, Diack declararia que o Rio "mereceu ser campeão". Um dos membros comitê de ética da entidade liderada por Diack era ainda Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Rio-2016.

Fontes envolvidas no processo confirmaram à reportagem que, no total, estão examinando diferentes dirigentes esportivos por diversos processos de seleção de sedes para eventos. A suspeita é de que Diack tenha centralizado os pagamentos e eventualmente distribuído parte da propina.

De acordo com as investigações, Nuzman, foi até a Nigéria em julho de 2009 e teria se reunido com as delegações africanas. O Estado apurou que, em Abuja, ocorreu a Assembleia Geral da Associação de Comitês Olímpicos da África, com 53 participantes. O evento chegou a ter a presença do ex-presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, que realizou um discurso.

Mas foi o desembarque de Pelé como cabo eleitoral do Rio que gerou tumulto, com um número enorme de dirigentes tentando fazer uma foto ao lado do brasileiro ou obter um autógrafo. A ofensiva de charme do Brasil teria pelo menos chamado a atenção e a presença do ex-jogador chegou a deixar preocupadas as demais candidaturas, de Chicago, Madri e Tóquio, que também tinham se deslocado até a Nigéria. Longe da tietagem, porém, a suspeita é de que o encontro foi usado para acertar os pagamento pelos votos, o que ocorreria depois por meio de Diack.

Uma esperança dos investigadores é de que os documentos apreendidos em diferentes endereços deem as pistas dos receptores de propinas. Uma das fontes que participou da operação na última terça-feira revelou que os suspeitos detidos ou levados para prestar depoimento "não estavam preparados" para o que ocorreu, o que significa que não teriam destruído provas ou escondido documentos. "A quantidade de documento é muito grande", confirmou um dos agentes.

Outro na mira da Justiça é o auditor da votação no Comitê Olímpico Internacional (COI), que garantiu a vitória do Rio de Janeiro, o também africano Frankie Fredericks. Ele decidiu abandonar seus cargos dentro do COI horas antes que o comitê de ética da entidade revelasse ao público que ele seria suspenso.

De acordo com o Ministério Público francês, a família de Diack transferiu US$ 299,3 mil (aproximadamente R$ 932,9 mil) pela empresa Pamodzi para a empresa offshore Yemli Limited. O deposito ocorreu em 2 de outubro de 2009, dia da vitória do Rio para sediar os Jogos. Mas a empresa beneficiada tinha uma relação direta com Fredericks.

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