A Precisa Medicamentos saiu de acordos de R$ 27,4 milhões em 2018 pela venda de 11,7 milhões de preservativos femininos, para o total de R$ 1,67 bilhão durante o governo Bolsonaro.AFP
Fundada em 1999, em Santos, a Precisa tem como foco o fornecimento de medicamentos de alto custo. A empresa passou às mãos de Maximiano em 2014. A Global também é alvo de suspeitas de irregularidades em negócios anteriores feitos com a Postalis, fundo de pensão dos funcionários dos Correios, na Petrobrás e com o próprio Ministério da Saúde, no caso dos remédios nunca entregues.
Com Max no comando, a Precisa também assinou um contrato com o governo do Distrito Federal, de Ibaneis Rocha (MDB), aliado de primeira hora de Bolsonaro. A empresa é uma das investigadas na operação Falso Negativo, que apura a compra de milhares de testes rápidos de covid-19 com suspeitas de serem superfaturados e de baixa qualidade. O sobrepreço apontado pelos procuradores é de pelo menos R$ 18 milhões.
O acesso do dono da Precisa no governo Bolsonaro também foi registrado em documentos do Ministério das Relações Exteriores. Telegrama sigiloso, ao qual o Estadão teve acesso, afirma que Max foi recebido em janeiro deste ano na embaixada brasileira em Nova Délhi com uma comitiva ligada à Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC).
As empresas de Maximiano - Precisa e Global - não são filiadas à ABCVAC, e nem o empresário faz parte dos quadros da entidade. A CPI quer entender o motivo de o empresário ter chefiado a delegação e falado em nome das clínicas privadas.
Após o encontro na Índia, a associação anunciou acordo com o laboratório indiano Bharat Biothec, intermediado pela Precisa, para a compra de R$ 5 milhões de doses da Covaxin. A empresa de Maximiano importaria as vacinas indianas, ficaria como responsável pelo armazenamento, transporte e logística dos imunizantes e os venderia ao mercado privado. A ABCVAC intermediou o contato entre a Precisa e seus associados. Cada clínica escolheu uma determinada quantidade de vacinas.
O negócio, porém, não saiu do papel por impedimentos legais. A lei que permitiu a compra pela iniciativa privada, aprovada em março no Congresso, prevê o repasse de 100% das doses para a vacinação na rede pública e proíbe a cobrança pela aplicação, o que inviabiliza a venda pelas clínicas privadas.
Ao Estadão, o presidente da ABCVAC, Geraldo Barbosa, negou que ele ou algum representante da entidade tenham ido à reunião na sede da embaixada em Nova Déhli. "Eu nunca tive contato, nunca fui solicitado, não participei dessa reunião. Eu não sei porque isso foi citado", afirmou Barbosa, que pretende procurar a embaixada para saber porque a associação foi citada no documento. Diante disso, o Estadão questionou a embaixada brasileira para saber a pedido de quem Max foi atendido pelo embaixador - uma agenda difícil de ser conquistada. Não houve resposta.
Os documentos da embaixada também revelam que Max mantinha relações no Ministério da Economia. No encontro em janeiro, o empresário afirmou que havia discutido com a pasta de Paulo Guedes a abertura de uma linha de crédito para clínicas privadas adquirirem vacinas no exterior.
Procurada, a Precisa Medicamentos negou qualquer relação com Ricardo Barros e afirmou que todos os seus contratos "seguem práticas de compliance e atendem às regras de licitação". O Ministério da Saúde não se manifestou sobre a Precisa até as 20h45 de ontem.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid quer investigar a ligação do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), com a compra de outras vacinas pelo Ministério da Saúde, além da Covaxin. Agora, outros dois contratos entraram na mira da CPI: o da russa Sputinik V e o da chinesa Convidecia. Nos três, o quadro é parecido: vacinas mais caras compradas de laboratórios por meio de intermediários no Brasil, com elos com Barros. A apuração é discutida após os depoimentos do deputado Luis Miranda (DEM-DF) e de seu irmão Luis Ricardo Miranda. Luis Miranda disse ter ouvido do presidente Jair Bolsonaro o nome de Barros quando o alertou sobre esquema na compra da Covaxin. Barros nega a acusação.
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