Representante da Davati diz à CPI que foi procurado por Dominguetti para compra de vacinas
Cristiano Carvalho também disse aos senadores que não possui vínculo contratual com a companhia, apesar de ter sido representante da Davati nas tratativas com o Ministério da Saúde
Representante brasileiro da empresa Davati Medical Supply, Cristiano Alberto Carvalho, na CPI da Covid, 15 - Edilson Rodrigues/Agência Senado
Representante brasileiro da empresa Davati Medical Supply, Cristiano Alberto Carvalho, na CPI da Covid, 15Edilson Rodrigues/Agência Senado
Brasília - Durante sua fala à CPI da Covid nesta quinta-feira, 15, o representante da empresa Davati Medical Supply, Cristiano Alberto Carvalho, disse aos senadores que foi procurado pelo policial militar Luiz Paulo Dominguetti para a aquisição de vacinas pelo Ministério da Saúde. Segundo o depoente, Dominguetti tinha relação com a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), que estaria buscando fornecedores de vacina no exterior.
Carvalho disse que, até o início deste ano, nem conhecia Dominguetti. Com isso, a fala do depoente desta quinta-feira entra em discordância com o depoimento do PM. Durante a sessão em que esteve presente na CPI, ele afirmou que foi designado pela empresa norte-americana Davati para negociar lotes de vacinas no Brasil.
A afirmativa foi feita após questionamento do senador e relator da comissão Renan Calheiros (MDB-AL) sobre a relação de Cristiano com Dominguetti. Veja:
Cristiano Alberto Carvalho diz que foi procurado por Dominghetti para aquisição de vacinas.
"Eu conheci o senhor Dominghetti através de um colega em comum, o Rafael Alves...no início de janeiro, primeira quinzena de janeiro, aproximadamente. Que ele tinha uma demanda de vacinas do Ministério da Saúde, e até então eu não falei com ele. Eu só vim a ter contato telefônico com ele no dia 10 de fevereiro, até então ele tratava com o Rafael Alves", disse ele.
Carvalho continuou falando sobre as conversações para a comercialização da aquisição de vacinas. "Eu sempre fui incrédulo da situação de venda e comercialização de vacinas e nunca dei muita atenção a isso. Comecei a me atentar quando começaram a chegar a mim contatos oficiais do Ministério da Saúde - e-mails, telefonemas”, disse o depoente.
Cristiano também desmentiu, logo no início de sua oitiva, a afirmação de que ele seria o CEO da Davati no Brasil, feita por Dominguetti em seu depoimento à comissão. Segundo Cristiano, a empresa não teria negócios aqui no Brasil e o seu papel seria de intermediador, sem vínculos contratuais, na negociação entre a empresa e o Ministério da Saúde. Ele afirmou que apenas tem operação nos Estados Unidos, no estado do Texas. Ele acrescentou que a Medical Supply faz parte da Davati Group, que incorpora outros setores, como a construção civil.
Ainda segundo o depoente, o pedido de intermediação entre a empresa e o governo brasileiro teria sido feito por um amigo. Assista:
Cristiano Alberto Carvalho diz que não tinha vínculo com a Davati e que pedido de intermediação com o ministério da Saúde veio de um amigo.
O relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), reforçou o questionamento acerca da representação da empresa no Brasil. Segundo Cristiano, a companhia só tem operação fixa nos Estados Unidos, no estado do Texas, e “nem no Brasil, nem na América Latina ela tem qualquer tipo de escritório, representação formal ou contrato”. O depoente também informou que a Medical Supply faz parte da Davati Group, que atua em outras áreas além da farmacêutica, como Construção Civil nos EUA.
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Além disso, Calheiros questionou se a proposta de venda de vacinas ao Ministério da Saúde chegou para ele através das mãos de Dominghetti. "Sim, senhor. Ele já tinha uma parceria com a Senah, Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários, e eles estavam buscando um fornecedor no exterior para sanar essa demanda que eles tinham entre eles. Precisamente como eles se conheceram, como chegaram um ao outro, vou ser bem sincero a Vossa Excelência que não tenho como dizer", disse Carvalho.
O relator também demandou explicações do depoente acerca de suas atividades em nome da Davati. Segundo Cristiano, seu papel era integralmente mediar as tratativas comerciais entre o governo brasileiro e a sede da empresa nos Estados Unidos.
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"A atribuição seria aproximação. Eu era o mensageiro das informações que eu recebia nos Estados Unidos e passava aos interessados aqui no Brasil [...] Eu nunca enviei nenhuma proposta de preço, eu nunca enviei nenhuma proposta de compra e venda, sempre foram todas enviadas através do escritório central da empresa nos EUA, através do presidente, o sr. Herman Cardeneas", disse Cristiano.
Ainda durante a sessão, o senador Eduardo Braga (MDB-AM), indagou o depoente acerca do vínculo de Cristiano Carvalho com a Davati Medical Supply. O representante afirmou mais uma vez que não possuía vínculos empregatícios, mas confirmou à CPI a existência de uma carta de representação, em inglês, que indicaria sua relação com a companhia. Confira:
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Cristiano Alberto Carvalho diz que não tem contrato com a Davati e que tem somente uma carta de representação que não teria valor legal por estar em inglês. Logo depois, foi desmentido por Eduardo Braga.
Apesar de se classificar na CPI, por vezes, como vendedor, na carta, como reiterou a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), o nome de Cristiano é associado ao cargo de representante oficial da empresa no Brasil.
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Apesar de ter um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para silenciar sobre temas que possam incriminá-lo, Carvalho disse no início da sessão que iria responder todas as perguntas da CPI. Ele também havia feito um pedido para não comparecer à comissão, que foi negado pelo STF. "Vim para esclarecer todos os fatos", disse.
Davati Medical Supply
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Após o depoimento do policial militar Luiz Paulo Dominguetti, a Davati passou a chamar atenção dos senadores aos inúmeros relatos de inconsistências na negociação entre o Ministério da Saúde e a farmacêutica norte-americana. Dominguetti, que se apresenta como representante da empresa, afirmou que, em fevereiro deste ano, o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, pediu propina em troca da assinatura do contrato de compra de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca. Roberto Dias teria exigido o valor adicional de U$ 1 por cada dose do imunizante durante um jantar no restaurante Vasto, em um shopping de Brasília. Dias foi exonerado do cargo no mesmo dia em que a denúncia foi feita. O ex-diretor de Logística da Saúde já prestou depoimento à CPI e negou as acusações de que teria feito o pedido de propina, afirmando, ainda, que Dominguetti é um "picareta".
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