Representante brasileiro da empresa Davati Medical Supply, Cristiano Alberto Carvalho, na CPI da Covid, 15Pedro França/Agência Senado

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ESTADÃO CONTEÚDO
Brasília - Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o representante da Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Carvalho, afirmou ter sido procurado insistentemente pelo ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, para dar seguimento às tratativas envolvendo a venda de vacinas ao ministério da Saúde, mas negou ter recebido qualquer pedido de propina. Segundo o depoente, lhe foi apresentado apenas um comissionamento que chegou a ele através do grupo do coronel Marcelo Blanco, que esteve presente em jantar, em um restaurante em Brasília, onde teria ocorrido pedido de propina por doses da AstraZeneca.
O vendedor da Davati disse que recebeu mensagens de Roberto Dias em 3 de março, a partir das 19h, em que o então diretor se apresentava e pedia uma conversa. "Não retornei a primeira mensagem. Eu estava absolutamente incrédulo que era um funcionário do Ministério da Saúde entrando em contato comigo. Ele se apresentou como diretor de Logística e eu fui checar, estava achando que era fake news", disse ele.

Carvalho relatou ter recebido várias mensagens e duas ligações de Dias até que ele respondesse, às 21h.

Segundo Carvalho, relatando sobre o encontro do policial militar Luiz Paulo Dominguetti e de Blanco com o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, em jantar no restaurante Vasto no dia 25 de fevereiro, onde o pedido de propina teria acontecido, seus pares apenas lhe informam que o encontro tinha sido "muito bom".
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Carvalho também afirmou que Dominguetti nunca mencionou o valor de US$ 1 de propina por dose, apenas disse que havia sido pedido um "comissionamento".

"A informação que veio a mim foi que, vale ressaltar isso, não foi o nome propina, ele usou comissionamento. Ele se referiu a esse comissionamento como vindo do grupo do tentente-coronel Blanco [ex-diretor substituto do Departamento de Logística] e a pessoa que tinha apresentado ele ao Blanco, chamado Odilon", declarou. 
Carvalho destacou que foi procurado por Roberto Dias em 03 de fevereiro, e apresentou prints da conversa. O depoente se disse "incrédulo" com que um funcionário do ministério da Saúde estivesse lhe procurando, afirmando que o contrato, "não fazia muito sentido". Ele leu diversas mensagens de Dias lhe pedindo contato. Carvalho afirmou que dada a insistência, ele viu os contatos como uma oportunidade.

Carvalho declarou que suas conversas com Dias foram apenas profissionais, sem menção a nenhum pedido de propina para finalizar seu contato, e que Dias lhe procurava apenas para questionar temas relacionados à chegada de vacinas no Brasil.
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O líder do governo, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), minimizou as conversas mostradas por Cristiano Carvalho com o ex-diretor do Ministério da Saúde. "A gente constata a falta de credenciamento, de capacidade técnica, de habilidade técnica para que essa empresa pudessem tratar com o governo brasileiro sobre a compra de vacinas. Estou realmente constrangido com os diálogos que estão sendo aqui mostrados", declarou. Bezerra reforçou que não foram gastos recursos e o relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL) rebateu dizendo que o crime é caracterizado mesmo sem dinheiro pago".

A Davati atuou como intermediária na venda de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca ao governo brasileiro. Negócio que está sendo investigado após denúncia de um suposto esquema de propina.

De acordo com o Dominguetti, que seria um representante autônomo da Davati, o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, teria condicionado fazer negócio com a empresa em troca de propinas no valor de U$ 1 por dose de vacina.
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