CPI realiza oitiva de um dos sócios da farmacêutica Belcher, Emanuel Catori. A empresa atuou como intermediária do laboratório chinês CanSino na negociação com o Ministério da Saúde pelo fornecimento de 60 mi de doses da vacina Convidencia ao custo de R$ 5 biEdilson Rodrigues/Agência Senad
“A carta de intenção foi emitida em apenas oito dias. Por quê? A Pfizer levou vários meses, quase um ano. É muita rapidez. Um tratamento muito diferenciado em relação à empresa. Há uma tentativa de venda de uma vacina 77% mais cara do que uma outra, também com dose única, é o caso da Janssen. Ao mesmo tempo, você tem uma empresa que vem de um processo de investigação com um prejuízo da ordem de R$ 18 milhões, é o caso do ‘falso negativo’, aqui no DF. (...) Para essa empresa, houve uma agilidade para tudo, com todas essas dificuldades. (...) Qual o nível de importância que o Ricardo Barros teve nessas tratativas?”, perguntou a senadora.
Em resposta, Catori afirmou que Barros não teve nenhuma participação nas tratativas. Minutos depois, ele pontuou que teria conversas periódicas de âmbito pessoal com Barros, devido à proximidade local dos dois - ambos residem em Maringá, no Paraná. O depoente reiterou que, mesmo com a quebra de sigilo telemático solicitada pela CPI, os senadores não encontrarão nenhuma conversa dele com o parlamentar com tratativas sobre a vacina.
Catori acrescentou ainda que foi recebido pelo secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, durante as tratativas envolvendo a vacina.
Logo depois, durante sua inquirição, o senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que seria falsa a alegação de Catori sobre nunca ter tratado da venda de vacinas com Barros.
“Eu não consigo acreditar que nos dias 13, 14 e 15 [de abril] esses empresários todos se reuniram com o secretário-executivo [do Ministério da Saúde], com a Embaixada da China, com o Ministério da Saúde, por um 'espírito humanitário' de doar vacinas para o SUS. Ao contrário, o tempo inteiro essas empresas atuaram no Congresso Nacional para facilitar a comercialização de vacinas. Houve aqui, sim, tráfico de influência, advocacia administrativa e outros crimes mais. (...) Quem ofereceu a vacina, eles não quiseram, mas foram atrás de outros que eram mais caras ou que tinham intermediação, algum interesse”, enfatizou o senador.
Renan contestou a declaração do empresário. Para o relator da CPI, há “uma contradição muito grande” no depoimento de Emanuel Catori e “um envolvimento muito sério” do líder do governo na Câmara na negociação de vacinas.
"É a repetição do modus operandi na aquisição de vacinas pelo governo federal. Recusou contatos com a Pfizer e com o Butantan, enquanto priorizou atravessadores com Belcher, Davati e Ricardo Barros. Enquanto brasileiros morriam e continuam a morrer. O senhor tenta passar a ideia de que, no encontro com Ricardo Barros, não poderia ter tratado da questão, uma vez que a CanSino não havia credenciado a Belcher. Mas não é verdade. Já havia uma carta de confidencialidade", afirmou.
O representante da Belcher admitiu conhecer o advogado Flávio Pansieri. Sócio do genro de Barros até março deste ano, Pansieri participou de uma reunião na Agência Nacional de vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o uso emergencial do imunizante Convidecia. Apesar disso, Catori negou que o deputado paranaense tenha atuado como “facilitador político” para a compra da CanSino.
Calheiros perguntou por que a vacina da CanSino era 70% mais cara do que o imunizante da farmacêutica Jansen, que também é aplicado em dose única. Segundo o empresário, isso se deve ao modelo de importação contratado pelo Ministério da Saúde. Enquanto a Jansen foi comprada pelo sistema CIF, em que frete e seguro são pagos pelos fornecedores, a Convidecia seria adquirida pelo sistema FOB, em que essas despesas já estão embutidas no valor final.
"Isso envolve logística, envolve frete. Por precisar manter uma temperatura de dois a oito graus, é um frete extremamente caro. Por isso tem toda essa diferença de valores", afirmou.
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