Família viu a própria casa ser levada pela chuvaReprodução/Arquivo Pessoal

"Um medo de morrer de noite, no escuro, sem saber para onde a gente estava indo". Esse é o relato da empresária Luciana Cavalcante, moradora da cidade de Laje, que fica a 235 km de Salvador, mas poderia ser de outras milhares de pessoas que têm sofrido as consequências das fortes Chuvas no Sul da Bahia. Segundo dados Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o Estado apresentou o maior acúmulo de chuvas em 32 anos para dezembro. Até esta terça-feira, 28, já tinham sido registradas 21 mortes e 471.786 pessoas afetadas pela tragédia.
"Não tenho preparo emocional para vivenciar isso. Foi muito assustador. A gente de madrugada, no escuro. O barulho do rio, que estava muito alto. Um medo de morrer de noite, no escuro, sem saber para onde a gente estava indo", contou a empresária em entrevista ao G1.
"A primeira enchente foi 15 dias antes do natal. Nossa casa foi invadida, perdemos algumas coisas, mas nada grave. Só que a gente não esperava que depois do Natal voltasse a encher tanto. Fizemos contenções, botamos coisas para o alto, mas a água subiu muito rápido e não deu tempo de tirar tudo", acrescentou.
Apesar de terem assistido a casa desmoronar no último domingo, 26, ninguém da família de Luciana se feriu, mas as perdas materiais foram grandes: "Não tinha ninguém dentro de casa, graças a Deus. Nós ficamos na casa de vizinhos, vimos tudo a três metros de distância. Viemos para Laje, para abrir uma ótica, começar uma nova vida, e vimos nossa casa ser levada assim. Trouxemos tudo de Salvador, fogão, geladeira, micro-ondas, roupas. Perdi todos os meus livros, eu adoro ler. A água levou tudo, até o botijão de gás".
"É uma situação que eu nem sei dizer o que estou sentindo. Tem horas que parece que eu estou bem, depois eu choro, fico preocupada", lamentou.
Desabamento em Nova Canaã
Na cidade de Nova Canaã, no Sudoeste do estado, outra família viveu momentos de tensão ao escapar do desabamento da própria casa nesta terça-feira, 28. Os quatros moradores que residiam conseguiram fugir pelos fundos da residência minutos antes da queda. Todos escaparam ilesos.

Em razão das fortes chuvas que atingem o estado baiano, a casa foi ao chão em questão de minutos. Os vizinhos, que estavam do lado de fora, que perceberam a situação e avisaram aos moradores o que estava acontecendo.
De acordo com a prefeitura de Nova Canaã, técnicos da Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania foram até o local, retiraram os moradores e levaram as quatro pessoas para um local seguro. Eles estão recebendo suporte material e psicológico.
Maior desastre natural da história
Para o governador da Bahia, Rui Costa (PT), o Estado atravessa “o maior desastre natural da história”. Em entrevista coletiva, Costa disse que ainda não é possível dizer quando começará a reconstrução das áreas destruídas pelas enchentes que atingem a região neste mês.
"A Bahia está devastada e ainda não é possível estipular quando as estradas vão ser recuperadas. Não sabemos a extensão. Vamos ter que olhar, caso a caso, a solução técnica. Em alguns lugares vamos ter que mudar a opção. Uma ponte de 50 metros de largura, por exemplo, que foi levada pela água pode ser um pouco maior, com 70 metros, para facilitar a passagem do rio", adiantou.