Polícia conclui inquérito e responsabiliza donas de escola e auxiliar por tortura de crianças em escola de São PauloReprodução

São Paulo - A Polícia Civil de São Paulo finalizou o inquérito e responsabilizou uma auxiliar e duas donas da Escola Infantil Colmeia Mágica, na Zona Leste de São Paulo, por tortura contra nove crianças que aparecem em vídeo amarradas e chorando no banheiro. A investigação foi concluída nesta segunda-feira (2) e encaminhada ao Ministério Público, que decidirá se as mulheres serão denunciadas.

Caso a resposta do órgão seja positiva e a Justiça aceite a acusação da Promotoria, as três se tornam rés no processo.

As irmãs Roberta e Fernanda Semer, responsáveis pela instituição, e a auxiliar de limpeza Solange da Silva Hernandez também foram indiciadas por maus-tratos, associação criminosa, perigo de vida e constrangimento.

Segundo os professores ouvidos pela polícia, Roberta, que era diretora da escola, não gostava do choro dos alunos e os amarrava com lençóis para que parassem de chorar. Roberta também foi acusada pelos colegas de trabalho de gritar com estudantes e funcionários da instituição.

Ainda de acordo com os professores, Fernanda era conivente com a situação. Já Solange foi acusada de cobrir a cabeça de um bebê com uma coberta. Depois disso, o aluno foi internado com dificuldades para respirar.

A escola também já sofreu denúncias de oferecer alimentos estragados e remédios que levariam as crianças ao sono. Para ajudar nas investigações, a polícia apreendeu lençóis, carteirinhas infantis e comprimidos.

Além da Polícia Civil, a Prefeitura de São Paulo abriu uma investigação contra a instituição, por meio da Diretoria Regional de Educação da área. De acordo com o órgão municipal, a escola funcionou por quase 16 anos sem permissão.
O delegado Renato Topan afirmou que: “A Polícia Civil agiu dentro da mais absoluta legalidade e respeitou todas as mais de 40 pessoas que estiveram na delegacia, inclusive as indiciadas. As falsas acusações sobre abuso de autoridade serão alvos de medidas de reparação moral e criminal contra quem, irresponsavelmente, as fez”.
As donas da escola estão em prisão preventiva na Penitenciária Feminina "Santa Maria Eufrásia Pelletier", de Tremembé, no interior de São Paulo desde a última semana de abril. Solange foi presa na segunda-feira (25) e Roberta na quinta-feira (28). A primeira responde ao processo em liberdade e a segunda se entregou em uma delegacia de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, após ficar mais de um mês foragida.
Em depoimentos anteriores à polícia, as três negaram as acusações.
Segundo a polícia, as irmãs atrapalharam a investigação e mudaram de endereço sem informar à Justiça.
Quando aceitou o pedido de prisão contra Roberta, o Ministério Público alegou que os vídeos que circularam nas redes sociais mostrando as crianças amarradas em um banheiro junto com depoimentos de testemunhas e fotos revelam que as crianças passaram por "intensos sofrimentos físicos e psicológicos".
Enquanto a escola ainda funcionava de forma irregular, em 2010, uma bebê de 3 meses morreu após se engasgar no berçário da creche. Em 2014, uma mãe acusou Roberta de arranhar o rosto do seu filho de 3 anos. Os dois casos, porém, já foram arquivados e não entraram na conclusão do inquérito da Polícia Civil.
Para a Justiça, que decretou a prisão temporária da diretora, "há fortes indícios" de que ela esteja envolvida "na prática dos delitos".
Em nota, a Polícia Civil diz que relatou o inquérito policial do caso à Justiça após o cumprimento das prisões preventivas das suspeitas e que "diligências complementares" prosseguem sob sigilo.