Coronel da reserva foi demitido do Hospital das Forças Armadas, onde era contratado como prestador de serviçoReprodução/Redes Sociais

Brasília - O Comando Militar do Planalto (CMP) concluiu nesta sexta, 13, em apenas três dias, o primeiro Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado para apurar fatos relacionados ao ataque às sedes dos Três Poderes, no último domingo, 8, em Brasília. O coronel da reserva Adriano Camargo Testoni foi indiciado por injúria contra os integrantes do Alto-Comando da Força Terrestre e por ofensa contra as Forças Armadas, ambos crimes previstos no Código Penal Militar. Nas formas agravadas dos delitos, o oficial pode pegar até 2 anos de prisão.

A solução do inquérito foi dada pelo general Gustavo Henrique Menezes Dutra, comandante militar do Planalto, que enviou o IPM ao Ministério Público Militar (MPM), que vai analisar a conduta descrita nos autos para denunciar o coronel. A celeridade da apuração serve de recado do Comando do Exército ao público interno de que não ficarão impunes atos de indisciplina e eventuais crimes praticados no domingo.

Oficial da Arma de Infantaria, Testoni participou dos atos antidemocráticos na Esplanada e divulgou dois vídeos em redes sociais com ofendendo o Exército e xingando generais do Alto-Comando e de sua turma da Academia das Agulhas Negras (1987).

"Forças Armadas filhas da p... Bando de generais filhos da p... Vanguardeiros de m... Covardes. Olha o que está acontecendo com a gente. Freire Gomes (ex-comandante do Exército), filho da p... Alto-Comando do c.... Olha aqui o povo, minha esposa. Esse nosso Exército é uma m... Vão tudo tomar no c...", esbravejou o coronel enquanto se retirava da Esplanada, após a PM usar gás lacrimogêneo contra os extremistas. O oficial aparecia abraçado com a mulher.

Em seguida, o coronel, que é guerreiro de selva e tem o curso de montanha, divulgou um segundo vídeo com ofensas. Ele foi demitido na segunda-feira, 9, do Hospital das Forças Armadas, onde era contratado como prestador de serviço por tempo determinado. Sua conduta foi reprovada de forma generalizada pelos oficiais ouvidos pelo 'Estadão'.
O IPM do caso foi aberto por determinação do general Dutra, que também ordenou a instauração de outra investigação sobre a atuação do Batalhão da Guarda Presidencial nos eventos de domingo.

Na terça-feira, 10, Testoni foi convocado para depor e devia ter comparecido na quarta-feira, ao CMP, mas entregou atestado médico para justificar a ausência. Um dia antes, divulgou vídeo desculpando-se com os colegas de turma. Disse que estava com a cabeça quente e que amava o Exército. O CMP usou os vídeos do coronel como prova do crime.
Desconforto 
A decisão ocorre em meio ao desconforto entre militares, que se recusaram a dar o golpe pretendido pelos extremistas apoiadores de Bolsonaro, os quais se sentem traídos. Além disso, os militares são apontados como lenientes pelos campos da esquerda.
Durante a semana, Dutra visitou seis unidades sob seu comando. Em uma delas, justificou à tropa formada as prisões dos acampados na frente do QG do Exército, em Brasília: "Fizemos o certo. Não tem caminho fora do que é o certo".