Veneno estava no arroz preparado com feijãoReprodução/TV Globo

O caso do envenenamento de uma família em Parnaíba, no litoral do Piauí, já registra a terceira vítima. Uma criança de apenas três anos, que estava internada desde a última quarta-feira (1º), não resistiu e morreu na madrugada desta segunda-feira (6). Outras duas pessoas continuam internadas após comerem baião de dois (arroz preparado com feijão) envenenado com uma substância tóxica semelhante ao "chumbinho".
Ao todo, nove pessoas da mesma família foram socorridas. Duas morreram, cinco receberam alta hospitalar e outras duas estão internadas - três crianças e dois adultos.
Segundo o delegado Abimael Silva, os sintomas dos familiares foram os mesmos: frequência cardíaca abaixo do normal e sudorese intensa.
Inicialmente, a suspeita era de que as vítimas teriam sido envenenadas por meio de peixes que receberam junto de uma cesta básica doada na noite do dia 31, mas nada foi encontrado no alimento.
O laudo pericial do Instituto de Medicina Legal (IML) sobre a comida que foi ingerida pela família revelou que o veneno estava no baião de dois (arroz preparado com feijão) preparado por eles no dia anterior. Com o resultado, a Polícia Civil do Piauí (PCPI) investiga o caso como homicídio.
Segundo o médico Antônio Nunes, diretor do IML, o veneno foi colocado em grande quantidade no baião de dois. "Estava em todo o arroz, em grânulos visíveis", disse.
A substância encontrada foi o veneno "terbufós", da classe dos organofosforados, utilizado como inseticida e nematicida (pragas de plantas). Ele ataca o sistema nervoso central e a comunicação entre músculos, causando tremores, crises convulsivas, falta de ar e cólicas. Os efeitos aparecem pouco tempo depois da exposição ao veneno, podem deixar sequelas neurológicas e causar a morte.
O veneno é o mesmo que usado para envenenar dois meninos de 7 e 8 anos da mesma família, em 2024. As crianças comeram cajus contaminados com a substância que foram dados a eles por uma vizinha. A mulher está presa por duplo homicídio qualificado.
A Polícia Civil investiga como o veneno chegou ao baião de dois. "É impossível ter ido parar lá sem intenção de alguém", afirmou o delegado.
De acordo com ele, o veneno foi colocado no arroz no dia 1° de janeiro, porque a família comeu o mesmo prato, da mesma panela, na noite de Réveillon.

"No dia 31, a família fez o baião de dois e consumiu, mas ninguém passou mal. Só depois do meio-dia do dia 1º começaram a sentir os efeitos", explicou.
Com a conclusão dos laudos, os investigadores buscam descobrir quem cometeu o crime: se foi alguém da família ou se outra pessoa entrou na casa sem ser percebido e envenenou o baião de dois.
Vítimas
A primeira morte ocorreu no dia 1º. Manoel Leandro da Silva, de 18 anos, passou mal logo após comer o alimento. Ele chegou a ser socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mais não resistiu e morreu ainda na ambulância.
"O Samu foi acionado e, quando chegou, uma das vítimas estava apresentando um quadro de convulsão. Iniciaram o atendimento e identificaram um possível envenenamento. Toda a família estava apresentando sinais de intoxicação. Parte dos peixes foi apreendida para a perícia ser feita", afirmou o delegado.
A segunda morte foi confirmada no dia seguinte. Um bebê, de apenas um ano e oito meses, estava internado no Hospital Regional Dirceu Arcoverde (Heda), mas também não resistiu. A criança é irmã de dois meninos, de 8 e 7 anos, que também morreram depois de comerem cajus envenenados em 2024.
Já a terceira morte na madrugada desta segunda, no Hospital de Urgência de Teresina. A vítima estava internada desde a última quarta-feira (1º).