Deise Moura dos Anjos, 42 anos, presa suspeita de envenenar um bolo que causou a morte de três pessoas no Rio Grande Sul, negou o envolvimento no crime. Em depoimento à Polícia Civil, ela confirmou que tinha um relacionamento conturbado com a sogra, Zeli dos Anjos, e outros membros da família.
A suspeita passou por audiência de custódia que definiu a permanência dela por 30 dias no sistema prisional. A defesa alegou que as prisões temporárias "possuem caráter investigativo" e que "ainda restam diversos questionamentos e respostas em aberto neste caso".
De acordo com o depoimento, Deise relatou que teve uma série de desavenças com a sogra, por questões financeiras e outros episódios ocorridos entre elas. Inclusive, ela disse aos policiais que chamava a sogra de "Naja".
Mesmo assim, afirma que jamais desejou a morte de Zeli dos Anjos e de ninguém da família. Sobre Paulo, marido de Zeli que morreu no dia 3 setembro de 2024, ela afirmou que tinha um bom relacionamento.
Deise também contou aos investigadores sobre um desentendimento que teve com Tatiana Denize dos Anjos, sobrinha de Zeli, na época de seu casamento. Tatiana é uma das vítimas do caso.
Após a morte do sogro, a suspeita disse ter pesquisado no telefone sobre venenos fatais para seres humanos, porque tinha dúvidas sobre o que poderia ter causado a morte. Paulo faleceu após uma intoxicação alimentar e a polícia investiga se Deise tem relação com o caso.
Depois dos três falecimentos ocorridos no Natal, ela também teria pesquisado sobre reagente químico fatal. De acordo com a suspeita, o médico teria dito que o consumo do reagente poderia ter causado a morte das vítimas.
No velório de umas das vítimas, Deise também teria pesquisado sobre os sintomas das mortes. Na busca, teria aparecido arsênio, disse Deise. As pesquisas foram identificadas pela Polícia Civil, e estão entre os elementos que embasaram o pedido de prisão, autorizado pela Justiça.
Mortes
Seis integrantes de uma mesma família buscaram atendimento médico após apresentarem sintomas de intoxicação, que posteriormente foi atribuída ao consumo de um bolo contendo arsênio, conforme análise da Polícia Civil.
Três dessas pessoas acabaram falecendo: Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, e Maida Berenice Flores da Silva, 59 anos, irmãs de Zeli, e Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza. Zeli, que preparou o bolo, permanece internada na UTI em estado estável, segundo o último boletim médico.
Já um menino de 10 anos, neto de Neuza e filho de Tatiana, precisou de hospitalização por alguns dias, mas já se recupera em casa. Um outro membro da família, um homem, recebeu alta após ser atendido.
Investigação
A perícia constatou que a menor quantidade de arsênio encontrada no organismo de uma das vítimas foi 80 vezes maior do que o limite para contaminação ocupacional. Na vítima com a maior concentração da substância, essa quantidade foi 350 vezes superior.
A polícia afirma que a presença de arsênio no bolo descarta a possibilidade de intoxicação alimentar. A análise das amostras revelou que a maior quantidade de arsênio encontrada na farinha utilizada para fazer o bolo era 2.700 vezes superior ao limite aceitável.
Das 89 amostras analisadas, uma amostra de farinha apresentou alta concentração de arsênio, levando a polícia a concluir que a farinha foi a fonte de contaminação do bolo.
A investigação aponta que Deise Moura dos Anjos, nora da responsável pelo preparo do bolo, é a principal suspeita do crime. De acordo com a corporação, Deise tinha desavenças com a família há mais de duas décadas. A polícia ainda investiga como o arsênio foi parar na farinha e quem era o alvo da suspeita.
O caso ocorreu três meses após a morte do sogro de Deise. A polícia exumou o corpo para verificar se há conexão entre as mortes e a possibilidade de envenenamento.
A suspeita está detida no Presídio Estadual Feminino de Torres e responde por suspeita de triplo homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e com emprego de veneno e tripla tentativa de homicídio duplamente qualificada.
O delegado Marcus Vinícius Veloso, responsável pelo caso, afirmou em coletiva de imprensa na segunda-feira (6) que são "robustas as provas que apontam que ela (Deise Moura dos Anjos) é a autora [dos crimes]". No entanto, não divulgou detalhes das provas, inclusive o motivo para o crime, porque isso pode atrapalhar a investigação.
"Ela teve a intenção de cometer o crime. Foi um crime doloso", disse o delegado.
De acordo com o Tribunal de Justiça (TJ) do Rio Grande do Sul, um relatório preliminar dos dados extraídos do telefone da suspeita mostra que houve "busca na internet, inclusive no Google shopping, pelo termo arsênio e similares".
Arsênio é um elemento químico liberado no ambiente de maneira natural ou pela ação do homem e componente usado na fabricação de alguns pesticidas.
A exposição ao arsênio pode causar intoxicação alimentar e reações similares a alergias, câncer em caso de exposição recorrente, e até morte. No Brasil, a comercialização do arsênico é proibida como raticida e ele é utilizado de forma restrita.
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