Prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, entoa cantos de incentivo a abordagens violentas pela GCMReprodução/X

São Paulo - O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), foi gravado cantando uma música de incentivo à violência junto com agentes da Guarda Civil Metropolitana. Na ocasião, uma cerimônia da corporação na terça-feira (21), ele cantou: "gás de pimenta na cara dos vagabundos".
O vídeo ganhou destaque nas redes sociais e diversas pessoas repudiaram a ação do prefeito. Um internauta comentou: "Que absurdo. É a normalização da violência policial pela extrema-direita", "É de causar náuseas ver essa gente", disse outro.
 
Também houve quem normalizasse e defendesse o ocorrido. "Isso só gera polêmica entre os vagabundos. Pessoas de bem não precisam temer", escreveu um internauta. Outro disse que "estranho seria se cantassem 'gás de pimenta na cara do trabalhador'".
O DIA cobrou explicações da prefeitura sobre os cânticos, mas o órgão informou que não vai se manifestar sobre o ocorrido.
Apesar de andarem armados e terem autoridade para realizar abordagens em quem considerem suspeitos, estes guardas civis são de responsabilidade da Prefeitura de São Paulo e não têm relação com a Polícia Militar do estado, que frequentemente é alvo de críticas pelo uso desmedido da violência em alguns casos.
Vereadora cobra respostas
Diante deste cenário, a vereadora e presidente da Comissão de Direitos Humanos, Luna Zarattini (PT), criticou duramente a ação do prefeito. Ela entende que esta é uma gestão que banaliza a violência.
"Exigimos respostas! Depois da vergonha pública em que o prefeito Ricardo Nunes e a GCM entoaram cantos de incitação à violência, protocolei um ofício para cobrar explicações da Secretaria de Segurança Urbana.

- Quais são os critérios de formação da GCM?
- Há treinamento em direitos humanos ou incentivo a práticas truculentas?
- Quantas violações de direitos humanos foram registradas no último ano?

São Paulo merece uma segurança que respeite os cidadãos, não uma gestão que banaliza a violência. Vamos seguir cobrando transparência e mudanças!", escreveu no X.
Violência cresce em São Paulo
Dados do monitoramento do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp) do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) mostram que o número de mortes decorrentes de intervenção policial, no ano passado, foi o maior da década.
Os números indicam aumento de 65% de mortes, de 542 para 835, entre 2023 e 2024. O menor número registrado na série histórica, alimentada desde 2017, foi em 2022, com 477 mortes.
Além das mortes, alguns casos não letais chamam a atenção. Em abril de 2024, um vídeo que gerou bastante repercussão mostra um homem com o pescoço segurado por um policial e sendo alvo de spray de pimenta no rosto.
Ele, que foi identificado como César, parecia agoniado após ser atacado. Ele não oferecia resistência e estava envolvido em uma polêmica sobre o pagamento de um aluguel.
Já em setembro, um policial militar atingiu o rosto de um morador de Heliópolis, bairro que abriga uma grande comunidade na Zona Sul de São Paulo, com um spray de pimenta sem que houvesse qualquer tipo de ameaça por parte do cidadão.
Em outubro, policiais militares foram filmados agredindo pessoas em um velório em Bauru, interior do estado. A cerimônia estava sendo realizada para o enterro de dois jovens que morreram no dia anterior em um suposto confronto com os agentes.
Um dos casos mais marcantes aconteceu em dezembro, quando um policial militar simplesmente atirou um homem de uma ponte, fazendo com que ele precisasse ser hospitalizado.
Em nota enviada à Agência Brasil na última semana, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo disse não compactuar com estes excessos de seus agentes.
"A SSP ressalta seu compromisso com a legalidade, transparência e respeito aos direitos humanos fundamentais. A pasta não compactua com excessos ou desvios de conduta, punindo exemplarmente aqueles que infringem a lei e desobedecem aos protocolos estabelecidos pelas forças de segurança", diz a nota.