Maria de Fátima Syriaco, de 17 anosArquivo pessoal

Cabo Frio - A denúncia de um suposto erro médico cometido no Hospital Municipal da Mulher de Cabo Frio está ganhando grande repercussão nas redes sociais após a morte de Maria de Fátima Syriaco, de 17 anos, na última segunda-feira (24). Dias após passar por uma cesárea, ao ser transferida para outra unidade da cidade, foi descoberta uma úlcera e que o intestino da jovem havia sido perfurado durante a cirurgia.
De acordo com o relato da família, a ‘batalha’ de Maria durou 34 dias. Eles contam que a jovem deu entrada no Hospital da Mulher somente com a pressão alta e que, três dias após o parto, recebeu alta. Contudo, os familiares perceberam que ela estava inchada e decidiram retornar à unidade. Depois disso, Maria não voltou para casa.
Lá, conforme a denúncia, os profissionais trataram, no primeiro momento, como gases. Entretanto, uma ultrassonografia foi realizada e eles perceberam que havia líquido acumulado dentro dela, então realizaram uma drenagem. Familiares contam que, durante dias, “eles apenas apertavam a barriga para ver como estava”.
“E os dias foram se passando, até que eles viram que não podiam fazer mais nada por ela. Aí, no dia 2 de junho, foi feita a transferência [para o Hospital São José Operário], e dali em diante começou a luta dela pela vida”, disse uma prima. Ela conta que foi descoberta uma úlcera e que o intestino dela tinha sido perfurado durante o parto.
“No laudo médico eles tentaram omitir a úlcera perfurada e o intestino, encobrindo um erro do Hospital da Mulher. Voltamos para fazer a reclamação no São José Operário e eles pediram um prazo de 15 dias para entregar o prontuário”, disse o pai da jovem nas redes sociais, que também destacou: “Aqui é um pai indignado que precisa fazer justiça, não só pela minha filhinha, mas por todos os pais e mães, e por ela, que não teve a oportunidade de cuidar de seu filho”.
Na última segunda-feira (24), após o que a família denomina como uma “batalha contra o tempo”, Maria de Fátima veio a óbito. “Só queremos justiça pela Maria e por todas as outras mulheres que perderam a vida dentro daquele hospital”, disse a prima, complementando: “uma jovem alegre, cheia de saúde e super feliz pela chegada do seu primeiro filho, teve a vida interrompida por uma médica que não sabe trabalhar”.
Nas redes sociais, outros familiares e amigos também lamentaram a partida precoce de Maria.
“Eles destruíram o sonho da minha filha tão amada. Uma menina doce, onde o seu maior sonho era ser mãe, e por causa de uma negligência só pode ter o seu filho tão esperado nos braços por cinco dias. Foram 34 dias de muita luta, mas a batalha foi implacável e ela perdeu. Senhor, cuida do meu docinho pra mim até o dia do nosso encontro. Filha, um dia a mamãe vai poder te beijar e abraçar de novo. Eu quero justiça”, desabafou a mãe da jovem.
“Deixamos ali uma filha, mãe, neta, esposa, irmã que tinha um futuro lindo pela frente. [Agora], ficamos com a dor da saudade e da revolta. A nossa menina entrou andando e super feliz por aquelas portas há um mês e sofreu tudo o que sofreu… Hospital Municipal da Mulher matou mais um sonho, matou uma menina de 17 anos que só queria dar à luz ao seu primeiro filho”, disse outro familiar.
Diante dos fatos, o Jornal O Dia entrou em contato com a prefeitura de Cabo Frio, que, em nota, negou a existência de qualquer perfuração provocada pela cesárea, destacando que “o diagnóstico da mesma era úlcera duodenal”.
Confira a nota na íntegra:
“A Prefeitura de Cabo Frio informa que a paciente M.F.S.R., de 17 anos, foi internada no Hospital da Mulher, no dia 22 de maio, com quadro de pré-eclâmpsia, sendo submetida a cesárea de urgência e deu à luz um bebê recém-nascido saudável, do sexo masculino.
A paciente evoluiu com melhora da pressão, sendo encaminhada para o alojamento conjunto e, como estava estabilizada, recebeu alta três dias após o parto.
Quando retornou à unidade, em 48 horas, apresentava infecção na ferida operatória. A equipe realizou a drenagem e iniciou o tratamento com antibiótico para terapia de amplo espectro.
Ainda assim, a paciente evoluiu com distensão abdominal, avaliada com tomografia e pela equipe de cirurgia geral. Como ela apresentava feridas nas pernas foi colhido material e enviado à biópsia.
Como M.F. S. R. não respondeu satisfatoriamente ao tratamento foi solicitada a transferência para o Hospital São José Operário. A paciente estava lúcida e orientada quando foi transferida. Na unidade passou por quatro cirurgias e não respondeu positivamente, vindo a óbito na semana passada.
A Prefeitura esclarece que não houve perfuração causada pela cesárea e o diagnóstico da mesma era úlcera duodenal.
O Governo Municipal lamenta profundamente a perda da paciente e garante que a equipe da Secretaria de Saúde usou todos os recursos possíveis para a recuperação da mesma”.