Thiago Rezende Pimentel Trindade, ex-militar das Forças ArmadasReprodução

Thiago Rezende Pimentel Trindade, ex-militar das Forças Armadas, foi absolvido após quase dois anos preso por acusações de extorsão mediante sequestro em Cabo Frio. O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro expediu o alvará de soltura em no último dia 28 de junho.

O caso aconteceu em 19 de outubro de 2021, no bairro Alto da Rasa. Na época, Rafael Pizarro da Silva, o Pirata; e Jonatas Dias da Silva, o Mineiro, foram sequestrados por três pessoas, sendo Thiago acusado de ser um dos sequestradores.

Segundo denúncia apresentada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), as vítimas estavam em uma lanchonete na Rua Justiniano de Souza, quando o policial militar Bruno Paulo Pereira do Carmo do Valle; o ex-militar, Thiago Rezende Pimentel Trindade, conhecido como Mexicano; e Cristiano Ribeiro Xavier, o Baiano, chegaram a bordo de um automóvel e ordenaram que eles sentassem no chão. Logo em seguida, as vítimas foram algemadas e colocadas no carro.

O PM Bruno conduzia o automóvel no momento, enquanto Thiago supostamente estava no banco do carona, portando uma arma de fogo. Baiano, que ficou dentro do veículo todo o tempo, prestava auxílio à ação criminosa.

Conforme a denúncia, o grupo teria exigido uma quantia considerável de dinheiro para libertar as vítimas. A ação dos criminosos tinha como objetivo de obter, para si, vantagem patrimonial, além de reduzir uma taxa paga ao líder do tráfico local da facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP), identificado como Valdinei Quintanilha, o Macaco, em razão da exploração de empresa de TV a cabo clandestina, como condição/preço do resgate.
Thiago foi apontado como um dos líderes do esquema, com alegações de que ele utilizava uma empresa de televisão clandestina, conhecida como "Gato Net", para financiar atividades ilícitas - Arquivo do processo
Thiago foi apontado como um dos líderes do esquema, com alegações de que ele utilizava uma empresa de televisão clandestina, conhecida como "Gato Net", para financiar atividades ilícitasArquivo do processo
Durante as investigações, Thiago foi apontado como um dos líderes do esquema, com alegações de que ele utilizava uma empresa de televisão clandestina, conhecida como “Gato Net”, para financiar atividades ilícitas, incluindo milícia.

Na época, a prisão de Thiago ganhou grande repercussão na mídia local, levando à condenação no dia 7 de fevereiro de 2023, pela Juíza Titular da 2° Vara Criminal da Comarca de Cabo Frio, Janaina Prerira Pomposelli, que julgou procedente a condenação não apenas de Thiago, mas dos também réus Bruno Paulo Pereira do Carmo do Valle e Cristiano Ribeiro Xavier pela prática do crime de extorsão mediante sequestro.

“Considerado o conceito analítico do crime, verifica-se que os acusados são culpáveis, imputáveis e estavam cientes de seu modo de agir, podendo e sendo exigida a conduta
compatível com a norma proibitiva implicitamente contida no tipo penal praticado, não se encontrando presente qualquer causa de exclusão de tipicidade ou ilicitude fática”, diz um trecho da sentença.

Os três foram condenados a 9 anos e 4 meses de reclusão em regime fechado, e 11 dias de multas. Os acusados já haviam sido presos preventivamente em 23 de setembro de 2022.

No entanto, desde o início, Thiago e a defesa alegaram falta de provas concretas que sustentassem as acusações. A defesa argumentou que o ex-paraquedista das Forças Armadas, estava tentando se reinventar profissionalmente durante a pandemia, vendendo aplicativos de televisão em uma área distante dos crimes de que foi acusado.

A virada no caso ocorreu com a apresentação de novas evidências e uma revisão detalhada do processo. Uma perícia técnica revelou que a pessoa identificada em um vídeo de segurança como sendo Thiago tinha uma diferença de altura de seis centímetros em relação a ele. Além disso, durante a audiência, a vítima do sequestro não reconheceu Thiago como um dos sequestradores, o que enfraqueceu significativamente a acusação.
O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, ao revisar o caso, constatou a ausência de provas suficientes para sustentar a condenação de Thiago. Em decisão unânime, a 6ª Câmara Criminal absolveu o então acusado, resultando na expedição do alvará de soltura. No documento, é enfatizado que Thiago deve ser colocado em liberdade imediatamente, a menos que estivesse preso por outros motivos, o que não era o caso.

Thiago, em sua defesa, afirmou que nunca teve envolvimento com atividades criminosas. Ele explicou que a empresa que foi acusado de supostamente utilizar para financiar a milícia nunca teve conta jurídica ou movimentação financeira significativa, e, ainda, que utilizava essa empresa apenas para formalizar sua situação de microempreendedor individual e pagar suas contas, incluindo aluguel, carro e faculdade.

Thiago contou, ainda, que durante o tempo em que esteve preso, perdeu familiares, amigos, o carro e “a credibilidade e a liberdade de ir e vir”. Sua vida acadêmica também foi interrompida, pois ele estava cursando o segundo período de Educação Física. Mesmo após a absolvição, Thiago teme pela segurança e pela imagem pública que foi construída em torno de seu nome.