Fernando MansurSABRINA NICOLAZZI

Ainda sou pobre, hoje me dei conta.
Assim, de repente, me veio essa imagem, um tipo de insight, bem nítido, ao ter um pensamento vulgar. Por que pobre? Porque ainda abrigo pensamentos de limites, baixezas, medos e invejas, mesquinhez e avareza. Como alguém com tais sentimentos pode se sentir livre?
Costumamos negar nossas ‘imperfeições’, as ‘sombras’, em contraposição ao lado mais luminoso do ser. A Psicologia Analítica, de C. G. Jung, enfatiza que quando negamos a ‘sombra’, além de nos empobrecermos, ficamos divididos, fragmentados, incompletos. Negligenciamos uma parte importante de nossa constituição. Sem lhe darmos a devida atenção, o desequilíbrio se instala. Então precisamos de ajuda.
O sentimento de pobreza foi profundo e tocou algum ponto até então impenetrável de meu ser.
Dinheiro só não torna ninguém rico, mas a formosura daquilo que abrigamos sob a pele clara ou escura, beleza pura.
Ninguém é só bonito, nem Caetano, todos temos nossas colheitas a fazer de nossas desmesuras, de nossos enganos fortuitos, de nossas ações mal engendradas, de nossos afetos escusos, mas não desculpados.
Hoje me vi feio, não com a feiura usual de um físico desarmônico, mas aquela de perceber a amplitude possível ser enquadrada, limitada pela vileza de um pensamento diminuidor. Esta é a causa da dor verdadeira, costumeira, repetitiva, que nos acompanha sem nos darmos conta de sua origem.
Como virar esse jogo?
A transcendência é o salão de embelezar sentimentos.
É para lá que eu vou. Podemos. Vamos!