Fernando MansurSABRINA NICOLAZZI

Nenhum braço e o sorriso mais largo do mundo! Esta pode ser a singela descrição de um senhor que ganha a vida vendendo guloseimas em um sinal de trânsito.
A bandeja com as balas fica apoiada em um dos ombros. Junto dela há uma cestinha onde os compradores depositam as notas ou moedas usadas para a compra.
Faça chuva ou faça sol, lá está o homem sem nenhum braço, distribuindo simpatia e esperança, subindo e descendo a rua entre carros e motos, no espaço de alguns segundos entre os verdes e vermelhos da sinaleira – que é como o semáforo é chamado aqui.
Ao lado tem uma igreja e uma praça, ostentando uma figueira centenária.
Passo por ali muitas vezes e sempre compro uma jujuba, admirando a disposição daquele homem, cujo nome ainda não sei. Outro dia, ao cumprimentá-lo, já me sentindo um velho conhecido, perguntei-lhe:
- Como vai o senhor, tudo bem?
- Sim, tudo bem. Quando estamos com saúde e disposição está tudo bem. Não adianta ser rico e não ter saúde. Prefiro ser pobrezinho e ter saúde.
Tudo isso dito com palavras firmes e sinceras e um rosto estampado de contentamento, feliz com o que a vida lhe deu. Que lição!!! Pensei. E me lembrei de “O homem de um braço só”, a belíssima canção de João Nogueira e Paulo César Pinheiro:
Com um braço só/Já dei tapa em vagabundo/Dei a volta pelo mundo/Mas também já fiz o bem. ...
Não importa quantos braços, mas a quantidade de bem que se pode fazer. Isso é o que vale! É o melhor que vamos levar desta vida, junto com as lembranças de balas e sorrisos que tivermos a sorte – ou o merecimento – de encontrar naquele instante fugaz em que temos de decidir se vamos ou não aprender a lição que a vida quer nos ensinar.