Não abordaremos aqui o aspecto jurídico da legítima defesa, quando alguém tira a vida de outrem para preservar a sua ou de sua família. A questão é: qual é a visão espírita de se matar alguém numa situação dessas? É um assassinato como os demais, tendo o mesmo grau de culpabilidade?
Deus é justo, julga mais a intenção do que o fato, lembra a nossa irmã Evelyn Freire em sua análise. No que toca ao assassinato, nem todos pagam o tributo dos seus feitos com a mesma intensidade, pois se leva em conta os seus sentimentos.
Ué!? E perante Deus? Há justificativa no assassinato mesmo em caso de legítima defesa? Somente a necessidade pode justificar o ato, desde que o agredido tivesse podido preservar sua vida sem atentar contra a do agressor. Só a necessidade de assim agir, baseada na impossibilidade total de preservar a vida sem atentar contra a vida do agressor, é que tem a justificativa divina.
O nível de culpa, no caso de legítima defesa é menor, se comparado com um crime praticado por maldade e que poderia ser evitado. No primeiro caso, existe uma atenuante, no segundo, não. A espiritualidade não é radical, impondo o conceito de que nem mesmo em legítima defesa se pode matar.
Existem correntes no Espiritismo, contudo, que defendem o ponto de vista de que mais vale receber a morte do que impingi-la a alguém, lembra Evelyn Freire. Para essas correntes, aquele que mata, mesmo em legítima defesa, vale-se da violência contra o agressor e a violência pode até ter atenuantes, mas sempre será considerada um atentado à vida e à lei divina de conservação da vida.
Existem, não obstante, aqueles que são obrigados a uma conduta perante a sociedade. É o caso do policial, que é parte da sociedade. Ele é uma das peças vitais para garantir a ordem e o direito na sociedade, ofício indispensável. Um policial, num confronto, acaba matando para não morrer. Então, como fica esta situação perante a espiritualidade e Deus?
Não estamos falando de um duelo. O policial atira por direito de justiça e de ordem, inibindo a ação de um criminoso ante a sociedade que ambos vivem. O policial possui aparato técnico e treinamento para o exercício da profissão e é amparado pelas leis para isso.
Um policial não atira para matar deliberadamente no exercício de sua função. Mas não é crime aos olhos de Deus o assassinato, mesmo em legítima defesa ou para defesa da sociedade? Não custa recordar: Deus é justo, julga mais pela intenção do que pelo fato. Só a necessidade pode justificar retirar a vida do agressor. É óbvio que, se o agredido pode preservar sua vida, sem atentar contra a de seu agressor, deve fazê-lo.
Átila Nunes