Depois de todas essas reflexões, percebi que a vida é como este meu amanhecer de terça-feira. Já houve fases em que o despertador das oportunidades tocava, mas o som parecia longe demais para escutá-loArte: Paulo Márcio
Amanhecer
Respondi que sim, e minha irmã completou: "Só que ela falou de uma forma terapêutica. Eu falo de forma 'irmanêutica'". Simplesmente não me lembrava dessa frase dela, que é genial! Aliás, acho que esta palavra deveria ser registrada nos dicionários
O alarme do celular passou a tocar de forma suave na terça-feira pela manhã, como um som que começava lá longe e ia se aproximando cada vez mais dos meus ouvidos. Conferi o relógio e vi que estava mesmo na hora de me levantar. Em alguns segundos, ainda na cama, com os olhos abertos, tentei me situar no tempo e no espaço, já me lembrando do compromisso on-line que tinha dali a uma hora. Neste instante, alguns pensamentos ainda não estavam tão claros para mim. Parecia que algumas coisas faziam um 'upload' na minha mente para ficarem mais evidentes. Afinal, quando durmo, eu descanso. Felizmente.
No entanto, nem sempre foi assim. Houve um tempo em que a tristeza me acordava ou mal me deixava dormir. Hoje sei que acreditar que a nossa felicidade depende de alguém é viver em uma eterna insônia. Afinal, deixamos de sonhar, tanto de olhos fechados quanto abertos. E que bom é olhar para os lados e descobrir que há tanta vida por aí!
Voltando à terça-feira, cheguei ao corredor de casa antes do meu pai. Ele ainda não tinha saído do seu quarto, mas a televisão com o volume nas alturas denunciava que já deveria estar vendo o noticiário matinal. Assim, fui pé ante pé para me antecipar ao ritual dele do café.
Fiz um cafezinho bem rápido e, já sentada à mesa, comecei a passar os olhos no Instagram. Até que me deparei com uma artista que falava sobre o medo dos desafios da vida. Imediatamente, a minha mente puxou uma lembrança, mostrando que já havia de fato acordado - acredito que o café tenha boa participação nisso! Recordei uma conversa com a minha irmã por WhatsApp há alguns anos. Na época, eu vinha de uma frustração, e ela me disse mais ou menos assim, só que com as suas palavras: "Você está tentando, apesar do medo. Isto é viver". Rapidamente, entrei nas mensagens guardadas e tentei buscar esse bate-papo. Não consegui.
Acabei, no entanto, encontrando outra prosa nossa, em mais um momento difícil da minha vida. Ela me dizia: "Sua psicóloga deve ter falado o mesmo que eu". Respondi que sim, e minha irmã completou: "Só que ela falou de uma forma terapêutica. Eu falo de forma 'irmanêutica'". Simplesmente não me lembrava dessa frase dela, que é genial! Aliás, acho que esta palavra deveria ser registrada nos dicionários.
Depois de todas essas reflexões, percebi que a vida é como este meu amanhecer de terça-feira. Já houve fases em que o despertador das oportunidades tocava, mas o som parecia longe demais para escutá-lo. Talvez eu até ouvisse a campainha, mas fingia não perceber. Às vezes, a gente precisa de um período até abrir os olhos, acordar e colocar os pensamentos em ordem. Talvez a gente não perceba, logo de cara, que as pessoas que nos amam querem o nosso bem e, por isso mesmo, tentam nos chacoalhar com suas opiniões. A boa notícia é que dá tempo de ver isso tudo clarear, se estivermos dispostos. E aí a gente pode acordar em uma terça-feira, tomar café e rever a nossa trajetória.
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