KakayDivulgação
Embora tenha sido eleito senador, é um político que não tem o respeito nem do Legislativo e muito menos do Judiciário. Ocupa o cargo em uma instituição, o Senado Federal, que tentou desmoralizar com a criminalização da política. É olhado com desdém e desprezo. Com muita dificuldade de se expressar, juntamente com sua baixíssima densidade intelectual, todas as vezes em que ocupar a tribuna, será questionado pelos seus pares sobre o papelão que desempenhou enquanto juiz e ministro.
Nesta semana, o presidente Lula deu uma sobrevida ao moribundo senador ao citá-lo duas vezes. É natural que o presidente o tenha como seu adversário, afinal, foi o então juiz que o prendeu por 580 dias de maneira ilegal, inconstitucional e imoral. O objetivo único era tirá-lo da disputa presidencial e eleger o projeto fascista do Bolsonaro. É admirável a capacidade de reação do Lula ao sair da prisão e se eleger Presidente da República pela terceira vez. Certamente, não podemos nos esquecer de que o principal responsável pela eleição do fascismo no Brasil deve ser exposto, diuturnamente, a todas as consequências das suas ações.
É absolutamente correto que tenhamos dúvidas e reticências a qualquer ato que envolva esse senador. É interessante notar que ele se fez de indignado e politizou a discussão. Logo ele, que se elegeu na onda da não política e do desprezo ao Parlamento. É um direito dele, urge enfrentá-lo. Como indigente intelectual que é, não será tão difícil.
No episódio, o brilhante ministro Flávio Dino deu o tom exato do que ocorreu: a Polícia Federal fez um excelente trabalho de investigação independente e, ao que tudo indica, preservou a vida desse adversário político do governo. É assim que deve ser. Sem perseguir e sem proteger. Mas o caso pode sim ser questionado, nunca a atuação da Polícia Federal. Desde a afetação da competência federal, em processo que parece ser da justiça comum estadual, a participação da juíza ligada ao senador bem como o levantamento do sigilo logo após a deflagração da operação.
O que não podemos fazer é o jogo bolsonarista de enfraquecer a Polícia Federal. Ao contrário, o trabalho técnico, científico e independente realizado por ela tem que ser exaltado e reconhecido como, aliás, fez o ministro da Justiça. Afinal, é essa polícia que irá analisar os documentos e áudios entregues pelo advogado Tacla Duran. Moro disse que “palavra de bandido não pode ser levada em consideração “, isso depois de se fiar apenas em delações coagidas para ser o herói da Operação Lava Jato.
Tudo que vem desse ex-juiz deve ser analisado com o devido cuidado. Dentro das regras constitucionais, é óbvio, dando a ele o benefício da presunção de inocência - contra o qual ele tanto lutou até ser derrotado por nós -, mas reconhecendo que esse cidadão não enxerga limites na luta pelo poder. Usou o poder Judiciário se auto promovendo um juiz de jurisdição nacional, tudo para atingir interesses inconfessáveis.
Frisando que devemos acompanhar com o rigor democrático todo esse episódio, não me furto de fazer alusão àquilo que parece ter sido a origem da discussão: a proibição de visitas íntimas. Lembro-me de que, nos anos '980, não existia visita íntima nos presídios de Brasília. Como membro da Comissão de Direitos Humanos, desenvolvi um árduo trabalho para introduzir esse direito no sistema penitenciário. Depois de longa negociação, a Secretaria de Segurança concordou em construir os quartos para esse fim e negociamos 45 minutos para os casais. No início, eu pleiteava uma hora e meia, e o secretário, o coronel Broxado, propunha 15 minutos. Fechamos em 45.
Recorrendo a Augusto dos Anjos, no poema Versos Íntimos: “Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro. A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, apedreja essa mão vil que te afaga, escarra nessa boca que te beija!”
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.