Dandara Mariana - Foto:Nana Moraes/ Produção: Cris França/ Make:Gabriel Reis
Dandara MarianaFoto:Nana Moraes/ Produção: Cris França/ Make:Gabriel Reis
Por O Dia
Basta entrar em cena em 'Verão 90' para Dandara Mariana incendiar a telinha. Também não é para menos. Além de interpretar sua homônima na trama das 7, a atriz também cai na dança em ritmo de lambada. Em entrevista exclusiva para a coluna, ela fala pela primeira vez sobre seu relacionamento com o chef de cozinha e empresário Alessandro Motta. A gata também falou sobre a reta final da novela, racismo e beleza, além de enaltecer seu pai, Romeu Evaristo, também ator, conhecido por interpretar o Saci na primeira versão do 'Sítio do Picapau Amarelo'. Confira!

Verão 90' está chegando ao fim, qual foi o maior aprendizado para você durante essa trama?
Pois é, estamos chegando à reta final de 'Verão 90', entrando nas últimas semanas de gravação, já estamos saudosos e comemorativos. Essa entrevista é uma ótima reflexão para finalizar esse trabalho. A trama em que a Dandara está inserida é muito interessante: uma garota honesta, humilde e trabalhadora que por paixão passa a fazer parte de uma família cujos alicerces foram construídos com base em falcatruas, mentiras, desonestidade e mau-caratismo. Uma garota vinda da Bahia com seu irmão para tentar a vida no Rio e correr atrás do seu maior sonho: sobreviver da arte, dançar. Guerreira, firme em suas crenças, esclarecida, orgulhosa de suas origens, focada... Dandara conquistou o público pela sua dignidade, caráter e forte personalidade. Minha garota arretada me ensinou que é possível conquistar os nossos sonhos, desde que se tenha oportunidade, foco, força, fé, consciência de quem se é, de onde veio e aonde quer chegar. Minha menina lambadeira 'deu uma lambada' nos machistas e moralistas, nos mostrou que, mesmo nos anos 90, lugar de mulher é onde ela quiser!

Torce para um final feliz de Dandara e Quinzinho (Caio Paduan)?
Torço pela felicidade da Dandara tanto no âmbito profissional quanto no pessoal. Se o Quinzinho estiver disposto a amadurecer e mudar, a rever suas atitudes, seu comportamento e, o principal, a aceitar e não mais criticar, mas admirar ter ao seu lado uma 'power mulher', sim, aí eu torço para que eles se entendam.

Você pretende continuar dançando após o fim da novela?
Sempre amei dançar, a dança faz parte da minha vida. Desde menina meu maior hobby era me expressar através da dança. Para mim, dançar é sinônimo de liberdade. Não conseguiria parar. Dançar faz bem a alma.

Você já viveu um relacionamento com diferença social grande? Como foi?
Já e mais de uma vez. Em primeiro lugar, deve haver amor, independentemente de criação e dinheiro. Cada um teve uma criação e uma história familiar. A base para se construir um relacionamento sólido, independentemente de diferença social, é ter bons diálogos, vontade de crescer junto, de aprender um com o outro, de conquistar desde as pequenas coisas, de ambos terem o ímpeto de estudar para que possam criar maiores perspectivas e assim sonharem juntos. Acredito que a unção desses quereres faz com que as diferenças sociais sejam mais sutis ou irrelevantes.

Você faria magia ou outro tipo de artifício para manter uma relação?
Não! Acho que feitiço sempre volta contra o feiticeiro (risos).

Você é muito discreta em seu relacionamento com o Alessandro. Por que escolheu levar assim?
Não gostamos de expor a nossa relação, é particular, estamos construindo.

Como você é numa relação a dois?
Perguntei ao Alessandro e ele me respondeu: "Maravilhosa, sem o telefone!" (risos). Brincadeiras à parte, procuro ser leve, divertida, amo compartilhar sorrisos! Ver o outro contente é bom demais. Eu me considero uma pessoa carinhosa, fui criada assim, mas quando estou virada no Jiraya, 'se saia, viu!' (risos).

Vocês são muito ciumentos um com o outro?
Ciúme em exagero precisa ser tratado e combatido. Não acho que ser muito ciumento seja prova de amor, pelo contrário, mina a si mesmo e ao outro, que passa a ser sufocado por aquela insegurança. Somos de boa. Assistimos à novela juntos sem problemas, as redes sociais não se tornam grandes questões, saímos juntos e separados para nos divertir acima de tudo. Respeitamos um o espaço do outro.

Sexo já foi tabu para você? Como você lida com isso?
Quando adolescente, tinha vergonha de falar sobre, mas não por repressão, por timidez. Com o amadurecimento, vamos ficando mais seguros e isso passa pelo sexo também.

Você tem vontade de casar e ter filhos?
Tenho, mas não agora. No momento estou muito focada no trabalho e ainda quero estudar fora do país.

Qual a maior lição você aprendeu com seu pai, Romeu Evaristo?
Aprendo diariamente com meu pai. Ele sempre me diz que é preciso ter humildade, caráter, disciplina e foco nos estudos.

Seu pai interpretou o Saci no 'Sítio do Picapau Amarelo'. O seriado marcou a infância de uma geração inteira. Qual é a sua lembrança do 'Sítio'?
Não peguei o 'Sítio' passando na televisão, assisti depois a alguns episódios e realmente era extremamente lúdico e fantástico! Minha memória emotiva está muito relacionada à trilha sonora, que era lindíssima! Tenho orgulho de ser filha de quem eu sou e de saber que meu pai marcou uma geração com um trabalho potente dentro de uma obra grandiosa.

Você completou 31 anos recentemente. Como tem encarado os 30? Existe crise dos 30 mesmo?
Estou me sentindo mara! Não passei por essa crise dos 30, eles vieram e de presente ganhei Dandara Brasil, essa personagem maravilhosa, só tenho o que agradecer e comemorar.

Qual seu maior sonho?
Fazer bons filmes e participar dos grandes festivais mundiais de cinema.

Já sofreu preconceito por ser negra?
Qual o negro que nunca sofreu preconceito no Brasil? Infelizmente, ainda vivemos em um país que estruturalmente acredita que uma pessoa negra é potencialmente perigosa apenas por ser negra. Infelizmente, ainda vivemos em um país onde negros não têm as mesmas oportunidades no mercado de trabalho. Infelizmente, ainda vivemos em um país onde, na maioria das vezes, estamos exercendo funções de subserviência: limpando o chão, servindo as mesas, empurrando carrinhos, abrindo portas, emboçando paredes, assegurando a segurança do homem branco. Estamos à margem. Nas favelas, nos presídios ou nos caixões. É preciso reverter esse quadro urgentemente!

Ser bonita ajuda ou atrapalha na sua profissão?
A beleza é relativa, mas ela sempre abre portas. Se ver diariamente numa tela, lidar com a sua auto-imagem e com o olhar do outro sobre você não é tão fácil assim, aceitamos ser julgados. Acho incrível quando existe beleza mas o talento se sobressai a ela. Ouvir 'você é muito boa atriz!" me é mais fascinante do que ouvir "que linda ela na novela!'.

Você sempre usou seus cabelos cacheados?
Sempre, nunca alisei! Mas na adolescência tinha vergonha de andar com ele solto, não assumia o volume natural que ele tem, vivia de rabo de cavalo. Até que uma 'power mulher' chamada Mel B (uma das Spice Girls) surgiu na mídia vestida de onça, com uma 'juba' maravilhosa e cheia de atitude! Me inspirei. Aí está a importância de termos referências, está aí o motivo pelo qual representatividade importa! Hoje amo meu cabelo natural e ainda bem que nós, mulheres negras, começamos a amá-lo e respeitá-lo, entendemos o poder do nosso black. Acordamos para o fato de que a padronização estética que era imposta e insistia em dizer que bom e bonito era cabelo liso, não dialogava com as nossas raízes e com nossa beleza, pelo contrário, negava cruelmente a imponência dos nossos cachos e traços. A ditadura do padrão de beleza nos excluía, mas nos fortalecemos e empoderamos. Cada uma tem a sua beleza e é nesse diferencial que reside o belo, e isso passa pelo cabelo também.

Todo mundo diz que cabelo cacheado dá muito trabalho. Como você cuida deles?
Cabelo em geral dá trabalho, quem tem cabelo passa por algum ritual para cuidá-lo. Tenho lavado o meu quase todos os dias por conta das gravações: passo xampu e na sequência faço uma hidratação rápida com um bom creme de massagem, enxáguo, tiro o excesso de água e finalizo com um live in e um óleozinho para dar um brilho, às vezes uso uma gelatina para modelar melhor os cachos. Quando chego no Projac, seco com difusor porque muitas das vezes não dá tempo de secar naturalmente.

O que não pode faltar na sua geladeira?
O Alê tem uma cozinha fitness chamada FitFood que entrega projetos semanais de congelados saudáveis, leves e frescos, como vivo na correria, sem tempo para cozinhar, mas querendo comer algo gostoso, saudável e prático, ando viciada na comida do namorado, @fitfooddelivery_ . Divulga aí (risos)!

Você tem alguma mania estranha?
Tenho mania de morder a língua em ocasiões não específicas (risos). É difícil de explicar, mas é de família, minha mãe e meu irmão também sofrem dessa esquisitice (risos).

Como você se vê daqui a dez anos?
Como já não teremos mais este governo aí (ainda bem!), espero que todos nós estejamos beeeeem melhor do que agora. Na vida pessoal, talvez casada e com filhos, quem sabe?