Flávia Caroline, do 'De Férias com o Ex' - Reprodução de internet
Flávia Caroline, do 'De Férias com o Ex'Reprodução de internet
Por O Dia
Quando, em pleno 2020, você imaginou ver em uma emissora de TV um programa que transforma o machismo, a homofobia e o assédio em entretenimento? Pois bem, meu caro leitor... É isso o que a MTV Brasil faz em seu 'De Férias com o ex'. A emissora que quer falar com os jovens - os mesmos jovens que ainda estão em seu processo de formação de caráter e são influenciáveis - trata o sexo, a mulher e as minorias como banalidade. E não pense você que o fato de colocar participantes gays em sua atração é estar apoiando uma causa. Pelo contrário e vamos explicar o motivo:
Em entrevistas de vários participantes após a participação no programa, é muito comum ouvir a frase "passei a maior parte do tempo bêbado no programa". O artifício usado para deixar os participantes desinibidos vem atrelado a uma série de problemas: o primeiro deles é a mensagem subliminar que o álcool consumido em excesso é algo bom, que te deixa mais solto, mais sociável, "ajuda na pegação", essa tal "pegação" leva ao sexo, que durante o programa é banalizado, pois em nenhum momento os participantes são alertados sobre a prática do sexo seguro. Logo, a mensagem que é passada para o telespectador é que isso não é a preocupação, que o que importa é transar. Vale lembrar que a rotatividade de parceiros de alguns participantes é bem grande e ainda incentivada pela 'Suíte do amor' e pelo 'Tablet', que é comandado pela produção e induz os participantes a trocar de parceiros a cada vez que vão ao tal quarto.
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Todos os dias, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), são contabilizados no mundo mais de 1 milhão de casos de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) curáveis entre pessoas de 15 a 49 anos. E essas doenças estão em alta no Brasil, segundo dados coletados pelo Ministério da Saúde. Ainda segundo a UNAIDS, temos outros dados:
ESTATÍSTICAS GLOBAIS SOBRE HIV 2019
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- 37,9 milhões [32,7 milhões—44,0 milhões] de pessoas em todo o mundo vivendo com HIV (até o fim de 2018).
- 1,7 milhão [1,4 milhão—2,3 milhões] de novas infecções por HIV (até o fim de 2018).
- 770 000 [570 000—1,1 milhão] de pessoas morreram de doenças relacionadas à AIDS (até o fim de 2018).

Esses dados são para mostrar que devemos nos cuidar, independente de gênero, idade ou etnia. Mas na contramão disso, a MTV Brasil faz um desserviço para seu público trazendo a mensagem errada aos jovens em formação. Ainda mais a TV sendo um veículo de massa. Outra grande questão é que a emissora ainda dá visibilidade sem nenhum tipo de repreensão ao machismo e à homofobia, exatamente num momento em que a luta contra essas práticas clamam por apoio.
A participante Flávia Caroline, em um dos episódios onde seu ex, Victor Padulo chegava à casa, mostrou seu total desconforto por atitudes que já haviam acontecido no passado e evitou contar que tinha transado na noite anterior com outro participante, temendo a reação do recém chegado. Claro que a produção do programa através do tal 'tablet' não só chamou os dois para tal 'Sala da verdade' como, apesar dos diversos pedidos da moça para não falar sobre o assunto com o ex, o instrumento de comunicação entre a produção e os participantes trouxe imagens do acontecido na noite anterior, deixando Flavia em total desconforto e visivelmente com medo. Suas mãos chegavam a tremer, como pode ser visto nos vídeos abaixo.
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Durante o vídeo, é possível ver que Flávia foi assediada e colocada numa posição de julgamento com outros participantes falando que ela havia mentido em não contar ao ex o que aconteceu. Flávia, aos prantos em conversa com Caio, outro participante, expressa como se sentia durante a relação com o ex e demonstra um gatilho: "E foi muito difícil para eu conseguir terminar com ele, porque eu amava ele pra caralho, só que quanto mais eu ficava, mais eu me machucava e mais eu deixava de ser eu. Eu perdi quem eu era, eu virei um vegetal no último ano de nosso relacionamento. Me olhava no espelho e me sentia a pessoa mais horrível do mundo e quando eu terminei com ele eu recuperei quem eu era".
MACHISMO e ASSÉDIO. Em letras grandes. É isso que a postura da MTV Brasil e seus diretores estão apoiando, principalmente Tiago Worcman, vice-presidente sênior e executivo da emissora. Por seu cargo, Tiago é o homem que dá ok ou não para as produções serem feitas. É assim que o canal acredita que mulheres devem ser tratadas? Constrangidas em rede nacional? E os closes ginecológicos que são feitos nas participantes mulheres durante as festas ou quando estão de biquíni? Por que com os homens isso não acontece?
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Bom, para não prolongar ainda mais esse já prolongado texto, vamos citar a homofobia do programa e sua emissora. Com a novidade de trazer participantes gays para essa edição, a intenção era se mostrar à frente e livre dos preconceitos, mas na verdade só deixou mais claro o quanto ainda propagam a cultura homofóbica. Enquanto todas as cenas de casais ditos heterossexuais são divulgadas às pencas, as entre casais gays são editadas e escondidas. Basta ver o episodio de quinta-feira (16), onde três casais héteros transaram e as cenas foram exibidas livremente. Já as cenas entre o casal Jarlles e Leonardo foram omitidas, deixando somente no ar que 'coisinhas' aconteceram como foi dito na edição do programa. A pergunta é: casais gays devem ser escondidos? Somente casais ditos heterossexuais são considerados apresentáveis para a MTV Brasil?
Na minha modesta opinião, penso que é o caso do Ministério Público Federal entrar na jogada para averiguar todas essas praticas da MTV Brasil.
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