Vitória Strada
Vitória StradaDivulgação/Vinicius Mochizuki
Por O Dia
A coluna se orgulha de entrevistar Vitória Strada. A atriz, que interpreta a engraçada Kyra de 'Salve-se quem Puder', sempre encarou de frente todas as novidades de sua vida e com o coração aberto. Estreou na TV já como protagonista de novela da Rede Globo e abriu o coração para seu primeiro relacionamento homoafetivo. Ela namora a atriz Marcella Rica. Vitória também relata um importante acontecido: um assédio sofrido ainda na adolescência e que ficou marcado pra sempre em seu pensamento.
Como e quando aconteceram os primeiros passos na carreira artística?
Comecei a trabalhar como modelo no início da adolescência. Eu sempre fui muito responsável, mas a carreira de modelo me trouxe ainda mais maturidade. Sou filha única e saí do meu ninho para me virar sozinha. Isso exige praticidade e a gente aprende na marra. A disciplina eu já tinha, aprendi desde cedo porque era atleta de ginástica rítmica. Fui muito feliz modelando e ter essa vivência foi fundamental pra eu chegar onde estou hoje. Com o tempo, fazendo comerciais e tendo contato com a interpretação, fui ficando encantada. Mas foi durante o meu primeiro trabalho como atriz, o longa 'Real Beleza', que filmei em 2015, que eu percebi que era aquilo que eu queria pra minha vida. Depois de fazer esse filme, tive a certeza de que aquele seria o meu caminho.
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O que você prefere: cinema ou TV?
Difícil essa. Sou apaixonada pelos dois, e ainda incluo o teatro nisso. Porque são meios tão diferentes e complementares... Tanto na TV como no cinema e no teatro, um ator se vê com entregas diferentes e específicas. Mas que ajudam a tornar o ator mais completo e preparado para desafios de personagens diferentes uns dos outros. Eu adoro o processo de fazer novela. Adoro me preparar, estudar o texto, estar no set... Adoro me surpreender com os rumos de uma trama, porque a novela é uma obra aberta. Já no cinema, a gente sabe toda a trajetória dos personagens e da história, e a preparação é bem diferente. E é uma delícia também. No teatro, sentimos a presença do público, cada noite contamos a mesma história, mas com uma sensação diferente. É difícil escolher um. Prefiro é ter um personagem desafiador numa história interessante para contar, seja onde for.
Fale sobre a experiência em viver Kyra/Cleide em 'Salve-se quem puder'?
Depois de duas mocinhas, em tramas de época e com histórias e com viés dramático muito forte, encontro a Kyra no meu caminho. Leve, engraçada, solar, atrapalhada... descontrolada! Ela é o oposto do que eu havia feito na TV até então. Uma diversão dentro e fora do set, e que me reservou encontros incríveis com colegas que levarei para o resto da vida. Mas essa novela, como tudo o que está acontecendo em nossas vidas desde o começo da pandemia, fará parte de um capítulo inesperado e sem precedentes da minha trajetória profissional. Parar de repente, ver a Globo interromper tudo, foi um primeiro impacto. Pegar toda aquela energia da Kyra e, de uma hora para outra, colocar em outro lugar, e trabalhar a ansiedade, não foi fácil. E agora a retomada. Voltar ao set, recomeçar a história, reviver a Kyra. Jamais imaginei viver isso. Mas, apesar de toda a insegurança, do medo e dos problemas com os quais estamos lidando por conta da pandemia, foi uma alegria conseguir continuar a história da Kyra, ainda mais nesse momento pesado. Tirar um sorriso do público é o meu objetivo.
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Você sempre interpretou mocinhas e em 'Salve-se quem puder', a personagem chega a ser caricata. Como foi esse processo de transformação?
Eu encarei a Kyra como todas as outras personagens. Como uma pessoa real. Ela é intensa, livre, doidinha e com muito bom humor. E justamente pra não cair na caricatura levo todas as situações dela a sério em cena. Se ela está correndo de uma galinha é porque ela tem medo, e esse medo é real. Assim não fica raso. Mas esse processo foi muito interessante. Como atriz, mudar essa chave de um trabalho para o outro, é muito desafiador e enriquecedor. Comédia não é fácil de fazer, tenho aprendido muito.
Que papel gostaria de interpretar na TV ou no cinema?
Não tem um papel específico, tenho sede de histórias desafiadoras para contar, de pessoas diversas. Uma vila de repente? Acho que seria uma experiência interessante.
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Quais são suas referências em atuação?
Assisti uma série nessa quarentena que me deixou fã do trabalho de uma atriz: Jodie Comer. Também admiro muito a Anne Hathaway. No Brasil tenho muitas atrizes e atores que admiro e posso ressaltar alguns que tive o prazer de ver atuar como Tony Ramos, Alinne Moraes e Andrea Horta.
Como foi o retorno das gravações da novela por conta da pandemia?
É muito desafiador, porque é uma readaptação num momento em que ainda não temos respostas, soluções e prazos. Não temos vacina, não temos um tratamento que nos dê certeza de cura e lidamos com notícias de perdas e mortes todos os dias. Ao mesmo tempo, tenho o privilégio de ter conseguido ficar em casa, segura e de ter o meu emprego garantido. Com o retorno, tenho a esperança de levar um pouco de alegria as pessoas de casa em meio ao caos que estamos vivendo. Mas é claro que essa nova realidade exige o cuidado e atenção de todos a todo momento. Precisamos ter mais concentração e dedicação, para seguir com o fluxo das gravações respeitando todos os protocolos feitos para estarmos protegidos e protegermos o próximo.
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O que mais diverte você durante as gravações?
O texto da Kyra é maravilhoso. Se fosse um monólogo, eu já iria me divertir. Mas a troca com os colegas é maravilhosa. Tem momentos em que precisamos parar a cena por conta de crise de riso. Acho que as trapalhadas dela são muito divertidas. Eu me jogo! Ali é a Kyra. E ela pode tudo.
Quais são seus próximos projetos profissionais?
Por enquanto, terminar de contar a história de Kyra!
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Como e quando conheceu a Marcella?
Conheci através de amigos em comum no final das gravações de 'Espelho da Vida'.
Você já teve outros relacionamentos com mulheres? Você se considera homo ou bissexual?
A  Marcella é meu primeiro relacionamento com outra mulher. Foi uma surpresa, mas que veio pra me fazer feliz. Eu só tinha me apaixonado por homens, e então me apaixonei por ela. Quando percebi, me permiti viver o que estava sentindo sem preconceitos comigo mesma.
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Quais os segredos para ter uma carreira de sucesso?
Sucesso é difícil de definir. E para cada pessoa tem um significado diferente. Sucesso profissional pra mim é acordar feliz com o meu trabalho. Tenho colhido bons frutos e sou muita grata pelas oportunidades que tive até agora. Estudo e me dedico bastante, como em tudo que faço. sou muito exigente comigo mesma, então meu lema é dar o melhor de mim sempre para depois não pensar "eu devia ter feito mais" ou pra quando eu quiser me criticar eu pensar "eu dei o meu melhor, era o melhor que eu tinha naquele momento e isso é lindo".
Você é mulher muito bonita, já sofreu algum tipo de assédio? Fale a respeito.
Obrigada pelo elogio! E com certeza já sofri. As 'cantadas' de homens muito mais velhos desde nova que me deixavam constrangida. Comentários durante sessões de fotos onde o homem acha que pode 'brincar' com você só por estar usando biquíni. São situações que marcam uma mulher, e é triste ver que acontece ainda nos dias de hoje, em que as vítimas se sentem acuadas com situações de poder que as impedem de fazer alguma coisa. Somos assediadas, nos sentimos mal e ainda não podemos falar nada, pois somente nós contabilizamos os prejuízos. É triste. Uma vez um homem tocou em mim dentro de um ônibus. Me senti invadida. Sabia que eu não havia feito nada, mas mesmo assim me senti mal em contar para o meu pai, por exemplo. Saí chorando de dentro do ônibus e com medo de ser perseguida pelo homem. Foi uma experiência muito ruim que eu não desejo para ninguém. Com a maturidade, hoje, eu consigo perceber pequenos abusos e assédios sofridos e que na época me deixaram com um sentimento estranho mas que eu não sabia identificar. A sociedade machista não ensina que um homem não deve tratar a mulher como objeto ou como algo público, que pode falar e fazer o que quiser. E é justamente essa a nossa luta. Para que essas situações não aconteçam mais.