Tava abastecendo os bebedouros dos pássaros, bem cedinho, quando o celular avisou que tinha alerta. A amiga Elenilce mandou mensagem de voz: - Parceiro, você morreu e não avisou! - Eita, pensei alto. E a amiga continuou: - O pai do Tristão disse que ouviu por aí que você havia morrido. Tô ligando para confirmar...
Atônito, mas gozador, perguntei: confirmar se estou morto ou vivo? Claro que rimos.
No barato, é a quarta vez que me matam. Vou acabar acreditando. Ou, na pior das hipóteses, quando eu morrer, de fato, ninguém vai acreditar.
Quase me vi olhando para o meu caixão, para o meu cadáver, mas percebendo que minha imagem refletida na tela do celular ainda se mexia, confirmei: tudo não passou de um boato. Mais um.
Amigos, juro que pensei em avisar aos bancos. E, até colocar anúncios fúnebres nos jornais. Foi apenas uma tentação. Não sou trambiqueiro, muito menos estelionatário. Mas, na conversa com a amiga, chegamos à conclusão que, como sou um aposentado trabalhador, e tenho inúmeras tarefas diárias, acabei ficando ausente, por um certo período, das tais redes sociais. Pronto. “Ih fulano sumiu. Será que morreu?”... - A partir daí a morte é quase certa. Mais fácil mandar mensagens do tipo indagando e deixando dúvidas "será que morreu?" Claro! Morreu! Bem, o papo com Lelê continuou e ela chegou concluiu que os sumiços de rede são hoje a maior causa das fake mortes. É sinal de que o pior aconteceu".
Exemplo que posso lembrar, daqui da minha jurisdição: o Nelson, vez por outra, telefona me pedindo notícias do Fred. E justifica: - Ele não atende o telefone. Passo no portão dele e vejo tudo fechado... Notaram que, a partir daí é fácil pensar, e divulgar, que fulano morreu. Ou: - será que morreu?
Detalhe: Nelson não usa o zap. Somente o telefone. Quando não aparece aqui, no quintal, telefona e pergunta: - você me ligou? - Só para iniciar um papo. Boa estratégia.
Para evitar novo falecimento, falando do meu, Lelê sugeriu uma estatégia: - Luar, que tal inventar a obrigatoriedade da prova de vida entre os amigos?
Dúvidas surgidas na conversa com a amiga: prova de vida semanal, mensal, semestral? A confirmação será aqui na caverna com feijoada, cerveja, sob a vigilância eterna do passaredo que habita meu quintal? Ou deixar a dúvida nas redes e zaps da atualidade?
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