Ricardo Cravo AlbinDivulgação

Pesquisador, jornalista e escritor, Ricardo Cravo Albin possui muitas paixões — sobretudo pelo Rio de Janeiro. Neste ano, chega à sexta edição o Almanaque Carioquice, produzido em parceria pelo Instituto Cultural Cravo Albin (ICCA) e pela Insight Comunicação, com roteiros para os mais diversos tipos de gosto e de público. Em entrevista a O DIA, o dicionarista da música brasileira fala sobre seus lugares preferidos na cidade, ressaltando a profunda ligação que tem com o Carnaval: "As pessoas precisam visitar as escolas de samba — e não só as principais, porque em cada uma há um celeiro de emoções diferentes", recomenda.
O DIA: Como o senhor define "carioquice"?
Ricardo: Ser carioca é um estado de espírito, e a revista foi criada para entrar a fundo nele, revelando como o Rio de Janeiro é encantador. A nossa pesquisa vem, sobretudo, do amor e da atenção que dedicamos à cidade.
De que maneira o Almanaque Carioquice contribui para o carioca conhecer o Rio?
Afora os lugares absolutamente icônicos como praias, sambas, Pão de açúcar e o Corcovado (que um turista, por exemplo, deve experienciar para dizer que esteve de fato no Rio), o carioca por vezes não se dá conta de ir a lugares que não são divulgados suficientemente para o público. Aí entramos nós.
Qual o lugar no Rio que todo carioca tem que conhecer?
Os lugares mais famosos são realmente imperdíveis, e têm que ser conhecidos por todos. Um mergulho em Copacabana revigora a alma. Mas, uma pessoa não pode deixar de conhecer os focos de música popular, que estão alojados sobretudo nas escolas de samba.
Onde o carioca deve ir para conhecer a própria história?
O Museu Nacional, cuja reconstrução tenho o prazer de acompanhar, é essencial. Também recomendo fortemente uma visita ao Museu da Imagem e do Som, um repositório do melhor da música popular, assim como o Instituto Cravo Albin, que tem um grande acervo do passado e do presente da música brasileira. No centenário da radiodifusão brasileira, devemos ouvir a rádio Roquette Pinto, que não é comercial, e vem desempenhando um trabalho muito interessante.
Há algum lugar que o senhor considera negligenciado pelos cariocas?
Negligenciado não é a palavra exata, mas a Urca poderia ser mais vistoriada pelo carioca. O calçadão e a mureta são incrivelmente sedutores, um percurso de 2km absolutamente essenciais. Assim como o Caminho do Bem-te-vi, na Praia Vermelha, que tem até uma trilha levando ao Morro da Urca, para as pessoas mais corajosas.
Quais as experiências musicais imperdíveis no Rio?
As pessoas precisam visitar as escolas de samba — e não só as principais, porque em cada uma há um celeiro de emoções diferentes. Mas é impensável não visitar quadras como a Mangueira, minha estação querida. Quando não, Vila Isabel, Beija Flor, Império Serrano e particularmente a Portela. Também é importante assistir aos espetáculos de choro, que, para nosso grande dissabor, andam sumidos.
O Instituto Cravo Albin passou a abrigar a liga de blocos de Carnaval Sebastiana. Como é essa parceria?
Abrigar a Sebastiana, que coordena os grandes blocos, entra na minha preocupação de promover a felicidade entre as pessoas. O Carnaval consolida a estrutura da alma carioca e joga para o mundo inteiro um aspecto inédito do Brasil: a possibilidade de um povo feliz e solar. Enquanto no resto do globo, vemos muito mais Lua do que Sol, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, o Carnaval celebra a luz, e é uma paráfrase contrária à guerra.
Como é o seu Rio de Janeiro afetivo?
Minha nova paixão é o recém inaugurado Largo do Boticário. A reforma é um exemplo de respeito ao patrimônio antigo. Uma ida ao Jardim Botânico também é essencial, é um dos lugares mais bonitos do mundo. Eu sempre me encontrava com Tom Jobim lá, e era um ambiente que nos estimulava a falar do Brasil. Também frequento muito o Parque do Flamengo e as nossas sedes de cultura, como a ABL e o PEN Clube do Brasil.