Atual secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli foi um nome importante no início do governo Lula, após o presidente escolhê-lo como interventor no Distrito Federal após os ataques em 8 de janeiro do ano passado. Com a saída de Flávio Dino do cargo de ministro da Justiça, Cappelli assumiu de forma interina. Agora, com a chegada de Ricardo Lewandowski ao posto, o secretário decidiu tirar férias com a família, mantendo o futuro indefinido. Em entrevista à coluna, Cappelli fala o que espera da Polícia Federal este ano. "Que puna todos culpados pelos ataques à democracia e desmonte as organizações criminosas que ameaçam o Brasil".
Secretário, se o senhor pudesse listar as prioridades absolutas da sua pasta para resolver os problemas de segurança pública do Rio de Janeiro, quais seriam?
Nós praticamente dobramos a capacidade de investigação da Polícia Federal (PF) no Rio de Janeiro, com mais homens, mais tecnologia, mais equipamentos. O líder de uma milícia importante não se entregou por acaso, ele foi cercado pela PF e só restou a ele se entregar. Estamos com um adicional de 550 homens da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Força Nacional no estado atuando nas rodovias federais. O roubo de cargas caiu bastante. Além disso, temos a GLO decretada pelo presidente Lula nos portos e aeroportos. Nestes locais, estão atuando juntos à PF, a Receita Federal, a Marinha e a Aeronáutica, com ótimos resultados. A chave para resolver a questão da segurança é integração, inteligência, planejamento e, claro, muito trabalho.
Qual a sua explicação para o fortalecimento do tráfico de drogas e das milícias no Rio de Janeiro?
O Rio vive há algum tempo uma sucessão de crises políticas que colocaram em xeque a autoridade do Estado. As forças de segurança se referenciam no exemplo de cima. Todo carioca assiste o crescimento das milícias e do tráfico. Eles cobram taxas de moradores e empresas. Sabotam o serviço público. Querem mandar no transporte público. Atuam como um verdadeiro estado paralelo. É preciso coragem para enfrentá-los. É uma situação que indigna a todos e não pode ser vista com naturalidade pelas autoridades.
O prefeito Eduardo Paes tem pedido ação do Governo Federal no enfrentamento das milícias depois que uma empreiteira foi chantageada a pagar propina senão uma obra municipal na Piedade não iria prosseguir.
É uma situação inaceitável. O prefeito da cidade que é o cartão postal do Brasil ter que pedir socorro pelas redes sociais. É preciso unir o Rio, sociedade civil e empresas para dar um basta nesta situação.
Que tipo de parceria o senhor considera perfeita entre os governos federal e estadual no combate ao crime? O que pode ser feito conjuntamente?
Nós acreditamos que não há outro caminho que não seja a integração, por isso apostamos tudo no SUSP – Sistema Único de Segurança Pública. Nós precisamos unificar desde a Guarda Municipal até a Polícia Federal. Temos várias parcerias com o governo do estado, inclusive na área de investigações financeiras e combate à lavagem de dinheiro. Seguir o dinheiro é decisivo.
O senhor já disse abertamente que a criminalidade do Rio tem ramificações perigosas que alcançam até os primeiros escalões da sociedade. O senhor pode explicar melhor?
A PF apreendeu uma série de fuzis recentemente em uma mansão na Barra da Tijuca. Veja, não foi em uma comunidade carente. Foi num local de gente rica. Os representantes do topo na "cadeia alimentar do crime" moram em mansões e se movem em carros de luxo. São os verdadeiros senhores do crime, os que financiam a entrada de armas, contrabando e drogas no estado.
O Rio é onde o ex-presidente Jair Bolsonaro tem sua base eleitoral. O que o senhor espera das investigações da Polícia Federal este ano?
Que puna todos os culpados pelos ataques à democracia e desmonte as organizações criminosas que ameaçam o Brasil.
Quem mandou matar Marielle e qual a motivação do crime?
Tenho plena confiança no trabalho técnico e profissional da PF. O caso seria resolvido.
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