Não resta a menor dúvida do aumento de pessoas portadoras de deficiências no mercado profissional. Se não temos um colega de trabalho, certamente somos atendidos por um em vários serviços disponibilizados. No entanto, em raríssimos casos por conta da conscientização social da empresa ou pela potencialidade daquele indivíduo, mas sim por força da lei 8.213/91 que completa 32 anos. Diga-se de passagem nem sempre cumprida, apesar das multas poderem chegar a R$ 228 mil.
Infelizmente são raras as organizações que mantém uma quantidade maior do que a determinada a legislação, o que aponta um forte indício de que não é uma inclusão espontânea, refletindo ainda um sistema de recrutamento viciado em estigmas e preconceitos e não nas reais potencialidades dos candidatos.
Algumas organizações chegam a crueldade de preencher estatisticamente as vagas exigidas mas não implantam a real inclusão deixando de designar funções e atividades significativas ou as mantém fora do processo de crescimento organizacional, como: promoções, destaques, cargos de chefia, treinamentos ou cursos de aprimoramento.
Mais empáticos e dedicados
E não resta a menor dúvida da potencialidade dessas pessoas, que se agarram com toda sua força a oportunidade resultando numa tendência maior a dedicação, estudo e preparação para o exercício profissional. Fora que, por sofrerem uma série de discriminações ao longo da vida, acabam sendo muito mais empáticos com o atendimento ao público e no relacionamento com os colegas de trabalho.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência no Brasil. Em 2018, o mercado de trabalho formal contabilizou a presença de 456,7 mil pessoas com deficiência e reabilitadas Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) reinseridas no mercado de trabalho. Os dados são da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério da Economia. O documento foi publicado em outubro de 2019.
Pela legislação, entidades com mais mais de 100 empregados precisam reservar 2% das vagas para este segmento chegando a 5% para as que possuem mais de 1.000 empregados. A medida também inclui pessoas reabilitadas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).
Embaixadores da Representatividade
Com o objetivo de quebrar as barreiras que excluem as pessoas com deficiência de forma social e econômica, a Ação Social para Igualdade das Diferenças lança Claudio Aleoni Arruda e Vitória Behs como Embaixadores. Tem o objetivo de investir na construção de uma comunidade de representantes da causa para divulgar ações, colaborar na construção coletiva de projetos e gerar conteúdo para engajar a audiência e o movimento das pessoas com deficiência.
“Não será apenas um projeto de voluntariado e parceria, mas também é para gerar renda para eles, para difundir e potencializar suas vozes nas redes sociais. A nossa ideia é que, no próximo ano, a gente possa ter mais embaixadores, representando mais causas. Queremos ampliar esse grupo para que a gente possa, de fato, ter uma grande comunidade de representantes da causa, com os quais a gente possa fazer uma série de debates, discussões e construção coletiva de projetos”, explica Leonardo Mesquita, líder do Projeto da ASID Brasil.
Currículos dos Embaixadores ASID
Claudio Aleoni Arruda, 37 anos, tem síndrome de Down, e sua grande paixão sempre foi o hipismo. Natural de São Paulo, já carregou a tocha olímpica e também é um cavaleiro, tendo conquistado em 2009 o título de Vice-Campeão da Regional Metropolitana de São Paulo e Vice-Campeão Paulista de Hipismo na série intermediaria, saltando 60 cm.
“Pensar alto é acreditar sempre em nossos sonhos. Quero ter muitos seguidores no Instagram e fazer bastante conteúdo. Quero que a sociedade tenha outro olhar em relação a nós, pessoas com deficiência, para acabar com o preconceito e o capacitismo”, afirma Cláudio, sobre os planos em ser um dos Embaixadores da ASID.
Já Vitória Behs, ou Vi Behs, é uma pessoa com deficiência física e tem na moda seu objetivo de vida. Estilista e consultora já participou de castings, ensaio de fotos e vídeos para lojas de roupas em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Além disso, chamou a atenção nas redes sociais para a falta de acessibilidade arquitetônica na cidade de Canasvieiras (SC), o que, após viralizar, acabou pressionando a prefeitura a adaptar o local. Além de gostar de assistir séries, ler e escrever, ela fala fluentemente inglês e estuda alemão.
"Vai ser uma experiência muito legal e engrandecedora. O projeto irá abranger as pautas para a população em geral”, complementa.
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