Retirada de lixo da Baía de Guanabarafoto de divulgação Projeto Uçá

Mais de sete toneladas de lixo retirados da Baía de Guanabara. Além do mar de plástico, compondo 75% de todos os detritos, assusta a quantidade do lixo hospitalar e a gravidade dos materiais cortantes encontrados. Nesta edição, ainda chama a atenção itens como pneus de avião, capacetes, cintos de suporte para revólver e munição. Um banheiro químico, encontrado no histórico das ações e virou símbolo do descaso com a natureza nesta região.
Confira o Top 10 dos itens mais encontrados (unidades recolhidas):
1 Sacola – 7.460
2 Garrafa PET – 7.151
3 Isopor – 3.790
4 Plástico Grosso – 2.959
5 Plástico – 2.842
6 Embalagem – 1.267
7 Tecido - 916
8 Sapato - 815
9 Garrafa de Vidro - 596
10 Chinelo – 160
A iniciativa da ONG Guardiões do Mar, varreu 8.6 hectares de manguezais. A operação foi realizada durante o defeso do caranguejo-uçá  unindo ambientalistas do Projeto, pescadores e catadores que realizam a maior ação de limpeza em um dos últimos paraísos da Baía de Guanabara. Assim, garantiu um salário e atividade a esses trabalhadores no período de defeso. Ou seja, quando não poderiam capturar o crustáceo, estavam com renda e preparando o "terreno" para retornarem a captura com mais segurança e limpeza.  
"A retirada dos resíduos aumenta ainda o espaço livre para que mudas de mangue se estabeleçam e não tenham que competir por espaço com os resíduos sólidos, proporcionando o crescimento de novas árvores, e consequentemente, de uma nova floresta - cujas folhas são o principal alimento do caranguejo-uçá, que, por sua vez, terá espaço para construção de suas tocas. O benefício é imediato para recuperar locais de reprodução de caranguejos”, explica a coordenadora geral do Projeto UÇÁ, Janaina Oliveira.
Mar de plástico
O descarte irregular de resíduos, prejudica a vida e a biodiversidade na Baía de Guanabara. Os detritos invadem ainda a Área de Proteção Ambiental de Guapi-Mirim, onde está localizado a maior faixa contínua de mangues do Estado do Rio. Essa área é de grande importância, berçário para dezenas de espécies de peixes e crustáceos e base de um ecossistema rico em biodiversidade.
“A situação da poluição por plásticos e outros resíduos é tão grave, que a expectativa é de que, até 2050, poderemos ter mais plásticos do que peixes no mar. Lembramos que o lixo não tem pé, braços e nem asas. Como eles chegam aos ambientes costeiros e causam seu impacto é responsabilidade de cada um. Cabe a nós, sensibilizar e mobilizar as pessoas para, em médio e longo prazo, nos ajudarem a diminuir esse impacto. E o que é melhor, sem distinção de gênero, faixa etária, credo ou qualquer outra forma discriminatória. O mal causado pelo plástico é igual para todos”, ressalta Pedro Belga, presidente da ONG Guardiões do Mar.
LimpaOca
Já foram recolhidas 51.458 toneladas de lixo de 47 hectares que chegam à Estação Ecológica da Guanabara, em Guapimirim. Em parceria com a UFF - Universidade Federal Fluminense, estão sendo identificados os organismos que se aderem à superfície destes resíduos sólidos retirados do manguezal, para uma pesquisa sobre a influência do lixo no ciclo de vida destes animais. A Operação LimpaOca foi considerada referência nacional pela Plataforma EduCares do Ministério do Meio Ambiente. 
"Dá um contentamento muito grande ver a vida voltar. O trabalho é imenso, sofremos. O sol castiga, os maruins nos devoram. A lama escorrega, engole. Mas quando a gente vê o mangue, vale a pena”, conta catadora de caranguejos Rita Duarte, 66 anos.
Problema crônico e novos desafios

Os resíduos sólidos chegam aos manguezais da APA de Guapi-Mirim através dos rios Guaxindiba, Guapi-Macacu e Caceribu, cujas nascentes são nos municípios de São Gonçalo, Itaboraí e Guapimirim. Devido às correntes marinhas, uma parte dos resíduos é trazida também de Duque de Caxias. 
“As pessoas se acostumaram a fazer os rios de lixeiras, para a água levar embora tudo o que não querem mais. Já está mais do que na hora de as pessoas se preocuparem com a Baía. Ela insiste em viver apesar dos ataques diários, mas morre um pouco a cada dia” — afirma Pedro Belga, presidente da ONG Guardiões do Mar.
Exemplo sendo seguido

A próxima etapa da operação será ainda mais desafiadora. Outras iniciativas vão replicar a metodologia utilizada pela Operação LimpaOca. É o caso do projeto Mangue ao Mar, em parceria com a Transpetro, que realizará seis atividades de limpeza nos próximos três anos, na Baía de Guanabara e Baía de Sepetiba (três em cada baía), envolvendo, no total, 126 pescadores e caranguejeiros, com previsão de retirada de 35 toneladas de resíduos.
Ilha de Lixo

O primeiro lugar a receber essa operação será a “Ilha de lixo” na Baía de Guanabara. Essa é uma das maiores concentrações de detritos da Baía. Formada em Campos Elísios, em Duque de Caxias, ela fica junto a uma área conhecida como Ilha do Morro Grande, em que rios e canais parecem separar os manguezais do continente. A “ilha” tem cerca de 20 hectares e uma camada de lixo de pelo menos um metro de profundidade. Os detritos são trazidos por rios e correntes e pelo vento Sudeste. Serão necessários 10 meses de atividades para a limpeza do local.

Outra frente de limpeza é o Projeto Guapiaçu. Nesta fase, foi escolhida para atendimento a localidade de Suruí, em Magé, onde atua a Associação de Caranguejeiros e Amigos dos Mangues de Magé – ACAMM, envolvendo, nos próximos três anos, 90 pescadores artesanais e catadores de caranguejo do município. A previsão é alcançar 30 toneladas de lixo retiradas do ecossistema e 12 hectares de manguezal beneficiados.