Arte coluna opinião_25 janeiro 2023Arte Paulo Esper

Como já disse noutro dia, sou comentarista de rádio às segundas-feiras. Quando um professor se torna comentarista é natural que invente um jeito de ensinar alguma coisa – o mesmo vale para o professor colunista: aproveito as datas a pretexto de dizer alguma coisa instrutiva, reflexiva, útil. Eu me inspirei em Barão do Rio Branco.
O Barão tinha uma coluna no Jornal do Brasil chamada “Efemérides Brasileiras”. O título difícil, bem ao gosto de diplomatas, esconde uma ideia muito simples: ele contava ao leitor o que tinha acontecido na história do Brasil nas mesmas datas de outros anos, em notas curtas que servem mais de lembrete do que de explicação.
Já eu falo de tudo. O meu assunto são as efemérides da semana, escolhidas arbitrariamente por mim. E esta semana tem tantas datas significativas que achei justo permitir que elas invadissem esta coluna conservadora.
Num 22 de janeiro (1532) foi fundada por Martim Afonso de Sousa a primeira vila do Brasil, São Vicente, que inaugurou a efetiva colonização do Brasil. Não me refiro só à exploração econômica mais intensa, mas sobretudo ao cruzamento cultural que até hoje é nota distintiva da identidade brasileira. No mesmo dia, no ano de 1797, nascia nossa primeira Imperatriz, Maria Leopoldina da Áustria.  O dia 23 de janeiro nos faz lembrar do nascimento de Stendhal (1783) e de João Ubaldo Ribeiro (1941), e das mortes de Northrop Frye (1991) e de Pierre Bordieu (2002).
Ano passado, no Dia de São Francisco de Sales (24/01), padroeiro dos jornalistas, morreu Olavo de Carvalho. Com a ousadia dos grandes brasileiros, que não se limitaram a dedicar suas vidas a agradar avançadas elites estrangeiras, Olavo não se conformou com a periferia, e se fez centro de um movimento cultural. Sua obra abraça valores de todas as culturas, e, com altivez e voz própria, fala tudo o que vê, sem pudor nem censura. As polêmicas em torno de seu nome não lhe fazem jus, porque falseiam seu pensamento e destacam seus momentos menos brilhantes.
Hoje (25/01) é aniversário da cidade de São Paulo, fundada no dia da conversão do apóstolo homônimo, em 1554. Foi batizada São Paulo de Piratininga por um grupo de jesuítas, entre os quais, Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, que escolheu o local com a ajuda de nativos Tupi, liderados por Tibiriçá, para melhor proteger seus assentamentos de grupos adversários. No mesmo dia, nasceram Jânio Quadros e Tom Jobim, respectivamente, em 1917 e 1927.
Em 26 de janeiro de 1546, a vila do porto de Santos era fundada por Braz Cubas, em terras cedidas para este fim por Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso que administrativa a vila de São Vicente. O porto de Santos é até o hoje o maior do Brasil, e do hemisfério sul, por sua localização geográfica especial, e pela prosperidade paulista.
O dia 27 de janeiro marca o Dia Internacional da Memória do Holocausto, cujos horrores o mundo não pode esquecer. E é preciso lembrar e pensar cuidadosamente a respeito, porque a astúcia dos maus é aproveitar a indizível maldade de outrora para fazer as vítimas de hoje, chamando-as de nazistas.
 
Rafael Nogueira é professor de História e Filosofia, ex-secretário nacional de Cultura e ex-presidente da Biblioteca Nacional