Colunista Rafael Nogueirareprodução

Estive na cerimônia de anúncio e premiação dos vencedores da 64ª edição do prêmio Jabuti, em São Paulo. Saíram vencedores autores, editores e outros profissionais ligados à produção do livro. Uma personalidade literária do ano foi escolhida. E foi também eleito um Livro do Ano – o vencedor deste levou para casa R$ 100 mil. Parabenizo todos mais uma vez, mas peço licença para uma reflexão: por que os livros que se saem melhor raramente aparecem nas listas dos mais comprados e mais lidos?
Dirão que o povo não tem critério para julgar algo tão específico, a ver gente que compra qualquer porcaria e nunca lê nada. Mas essa não é uma resposta séria. Os objetivos do evento são promover a leitura, colaborar com a instrução geral e com a participação crítica na democracia, além de movimentar o mercado do livro.
Creio fortemente que o Brasil se tornará um país de leitores, mas ainda estamos muito longe disso. Conhecer as regras das premiações, e julgá-las, é uma maneira de acelerar o passo nesse caminho. Quando estudantes se limitam a falar de livros com a distância e o mal-estar dos ambientes de educação compulsória, não se perguntam mais “que é literatura?”, “quais são os gêneros literários?”, “que é arte?”, “como julgar arte?”. Ninguém nega que todos devem conhecer as regras pelas quais são julgados.
Igualmente, entendo que todos tem de conhecer as regras pelas quais livros são julgados. O propósito do juiz – avaliar com justiça para que vença o melhor – é um ideal tanto mais distante quanto menos se estuda o universo dentro do qual está o objeto em análise, e quando as leis que regem a questão são ignoradas. É preciso formar-se para ser bom juiz.
Foi o que fiz quando, por três vezes, integrei a comissão julgadora do prêmio mais importante do país para ações que representam o patrimônio histórico e cultural. Além de rezar.
Falar de ideal parece coisa de sonhador, mas há um exemplo claro, concreto e popular de justiça: o VAR, tecnologia introduzida no futebol para diminuir erros e manipulações. Não sei dizer onde está a civilização e onde está a barbárie neste caso, mas o fato é que antes da técnica havia o xingamento – o juiz era julgado pela audiência, pelas torcidas, pelos narradores e comentaristas, e por aqueles que passam madrugadas discutindo futebol.
Como saber se não estão comprando jogos, se o juiz não é interessado, ou se ele não está despreocupado demais a ponto de ferir seriamente os interesses de uma das torcidas dos times em campo de forma injusta? Agora temos a técnica, antes tínhamos só o apelo à mãe.
Oxalá se preserve para sempre o direito constitucional de xingar o juiz, porque tanto o atual aumento da transparência, quanto o antigo custo pelo engano, ajudam o juiz, humano, demasiado humano, a acertar. Na democracia, o povo deve se ilustrar, porque julga pela pressão e pelo voto. Assim se torna crítico dos críticos, juiz dos juízes, quando algo o interessa de perto. Chegará o dia em que os livros tomarão assento em lugar privilegiado nos corações dos brasileiros.
Rafael Nogueira