Quando um ideal nos inspira a alcançar objetivos lícitos, justos e realizáveis ele é valioso. Mas não nos tornamos o que idealizamos só por imaginar. É preciso esforço, adaptação ao inesperado, humildade ante o real. Isso vale para os indivíduos como para as sociedades.
Na atual política brasileira, a imaginação é oposta à realização, a promessa solapa a experiência, o ideal compete com o real. Se um candidato pede fechamento de perfis, desmonetização de canais e censura prévia contra desafetos, aparentemente basta viver falando em democracia para que o mundo não enxergue mais onde está o tirano, e até o defenda como arauto da liberdade.
O outro, vítima de difamações e ameaças de toda sorte (p.ex. simulam futebol com uma réplica de sua cabeça, torcem para que sofra mais atentados, xingam sua filha pequena etc. etc. etc.), parece compreender que esta é a sina das pessoas públicas.
O primeiro não nega que é amigo de ditadores, que deu sumiço em uma montanha de dinheiro público, que propôs a reeducação de adversários (seja lá o que isso quer dizer), mas, se aparece defendendo mulheres, negros, índios e pobres da boca para fora, está perdoado. Já o candidato que pede aos seus o respeito à Constituição, diminui os maus gastos públicos, reconhece os defeitos de suas falas, lidera uma diminuição notável da violência contra todos (incluindo especialmente as mulheres), fez as maiores bancadas feminina e negra no Congresso, além de dar aos pobres condições dignas em tempos adversos, este é tratado como se fosse Calígula, Nero ou o próprio Satanás.
Nessa lógica, prometer picanha e cerveja à vontade parece até melhor do que exibir, depois de pandemia e guerra, números de sucesso na Economia. Comparar o ideal de um com a realidade do outro é de uma desproporção maluca, que contamina até inteligências cultivadas.
Falta conservadorismo nos debates públicos. É o conservador que desconfia dos ideais em excesso, que prefere os dados da realidade às descrições de futuros paradisíacos, que não acredita nas promessas demagogas, e espera por dias mais felizes mas com os pés no chão, que antevê catástrofes quando soluções pouco estudadas e jamais testadas são usadas para sanar velhos problemas. É ele que imprime no ar um pessimismo são, que previne povos inteiros de passar do sonho ao pesadelo.
Postos lado a lado ideal com ideal e real com real, o atual presidente leva enorme vantagem porque tem projetos, e Lula, devaneios. Bolsonaro atravessou com sucesso o pior momento da história recente, e o petista, ao contrário, desperdiçou o melhor.
Na eleição passada, diziam que Bolsonaro, se eleito, imporia a todos uma ditadura atroz. É irônico porque em quatro anos de mandato foi ele quem mais ofereceu cuidado àqueles que supostamente ameaçava. Lula, nem eleito foi e já tem censurado opositores, exercendo o poder na base do medo, recurso necessário para “o Brasil voltará a ser feliz”. É, em suma, um utopista. E a utopia é isto: o último refúgio dos canalhas.
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