Colunista Rafael Nogueirareprodução
Os conservadores não se definem pela busca e manutenção de privilégios. Sua essência reside na prática do bom senso. E na preservação de uma sabedoria ancestral, respeitada e cultivada pela leitura. Enraizados na tradição, os conservadores buscam realizar-se em sua circunstância única e irrepetível, mas sempre em consideração a parâmetros estabelecidos por sábios de épocas passadas, entre os quais se destaca Aristóteles.
O pensamento aristotélico nos deixou algumas joias que podem fazer a diferença na busca atemporal pela eudaimonia. Eudaimonia é um termo grego que nos remete àquela felicidade em que convergem alegria, virtude e inteligência. Vejamos quais são essas preciosidades, e avaliemos se elas já não perderam o valor.
Para Aristóteles, a beleza, longe de ser superficial, é uma virtude; reflete ordem, simetria, definição. Na juventude, a beleza se mostra na força e na agilidade; na maturidade, em potencial bélico; na velhice, em independência. Reconhecendo o impacto social da aparência, ele aconselha cuidados pessoais, bons trajes, condicionamento físico, asseio regular. Beleza atrai honra. Honra, na antiguidade, significava reputação respeitável entre os pares. A inclinação moderna que nos manda "não ligar para o que os outros pensam" não é bem o que Aristóteles defendia. Buscar a honra por feitos meritórios é, para ele, uma virtude legítima que contribui para a felicidade própria e geral.
Para Aristóteles, a riqueza se relaciona com a utilização ativa dos recursos que contribuem para uma vida produtiva e agradável. Longe de qualquer coisa parecida com ostentação. Ter recursos suficientes transcende a busca por prazer, porque proporciona mais segurança e saúde, manutenção e cultivo da beleza, educação mais ampla, séria e profunda, ampliando o potencial de uma existência plena.
O Filósofo defendia uma vida organizada. A ordem não apenas aprimora só a estética, mas infunde também, por hábitos relacionados, grande clareza mental.
A família, em seu entender, é fundamental — um casamento harmonioso e relações positivas com os filhos irradiam alegria para todas as áreas da vida. Seus conselhos relativos ao tratamento respeitoso do cônjuge e à paternidade exemplar transcendem o tempo, oferecendo princípios duradouros para a felicidade na família. Às mulheres recomendava o exemplo de Penélope, aos homens o de Odisseu.
Aristóteles atribui grande importância à inteligência, considerando uma vida em conformidade com a razão como a melhor possível, bem como a mais agradável, ao contrário do famoso "a ignorância é uma bênção". O comprometimento com a aprendizagem contínua e envolvimento com as letras, ciências e artes são os elementos constitutivos dessa vida intelectualmente ativa. A comunicação eficaz é, segundo ele, indispensável. A força da oratória está intrinsecamente ligada à virtude, e o caráter contribui significativamente para o objetivo da persuasão.
Aristóteles exalta também a amizade. Se nascidas da utilidade, do prazer ou da virtude, as amizades contribuem para a felicidade, mais nos fazem felizes aquelas atadas pelas virtudes que inspiram e incentivam à excelência.
Essa exploração da filosofia de Aristóteles põe em evidência que a empáfia, o preconceito e a ignorância enterram fundo as mais valiosas riquezas que nos conduzem à felicidade; lições que a modernidade teima em esquecer.
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