Sob muitos aspectos, o rosto que exibimos é esculpido pelo ambiente que nos envolve. O mundo atual difere radicalmente daquele que fez os homens no passado, e por esse e outros motivos somos tão espantosamente diferentes. Nesse contexto vemos duas realidades bem distintas: a vida nobre, caracterizada pelo esforço e superação, e a vida vulgar, marcada pela inércia.
É bom deixar claro que a diferença entre o nobre e o vulgar não se define pelo bolso ou pela classe social. Define-se por algo que está ou não está em qualquer classe ou lugar, e que podemos chamar, talvez imprecisamente, de mentalidade ou espírito.
Antes, a vida do homem comum era um desafio marcado por dificuldades, perigos, escassez e limitações; seu destino era limitado pela dependência. Já o mundo contemporâneo se apresenta como um universo de oportunidades quase ilimitadas, e ao redor dessa percepção primária, percebida em seu engano sempre tarde demais, que a alma contemporânea se deixa moldar.
Todos sabiam que viver é enfrentar limitações e, portanto, estar ciente das barreiras que nos restringem, mas a voz moderna ecoa: "Viver é ser o que se quer, sem limites, sem restrições. Entregue-se livremente a si mesmo. Nada é impossível, nada é perigoso e, em princípio, ninguém é melhor do que ninguém."
Essa experiência fundamental revoluciona a massa humana. Tradicionalmente, o homem comum estava condicionado por limitações e poderes sociais superiores. Qualquer melhoria em sua situação era vista como um golpe de sorte ou o resultado de um esforço hercúleo que exigia reconhecimento de honra e mérito. No entanto, a nova massa contemporânea vive uma existência de liberdade irrestrita, sem motivo aparente para reconhecer suas próprias limitações e, portanto, sem a necessidade de contar com instâncias externas, especialmente aquelas superiores.
Aqueles que se destacam, os nobres, sentem a necessidade intrínseca de apelar a uma norma superior a si mesmos. No início, distinguimos o homem excelente do homem comum pela ideia de que o primeiro exige muito de si mesmo, enquanto o último se contenta com o que é, sem se exigir esforço adicional. Contrariamente ao senso comum, é o nobre, e não a massa, que vive em uma servidão essencial. Sua vida não o satisfaz a menos que seja dedicada a algo transcendente, e a necessidade de servir não é vista como uma opressão, mas como disciplina dignificante.
A palavra "nobreza" sofreu uma lamentável degeneração em seu significado comum, comumente associada à "nobreza de sangue", hereditária. No entanto, seu verdadeiro sentido, essencialmente dinâmico, mas com algumas constantes, é bem diferente. Nobre significa "conhecido", aquele que se destacou da massa anônima por meio de esforços extraordinários que o tornaram famoso. Portanto, nobre é sinônimo de esforçado ou excelente. A nobreza é a busca contínua da excelência nas obrigações, não apenas no acúmulo de direitos. A nobreza implica esforço, não mera posse passiva. Pelo menos era isso que defendia José Ortega y Gasset.
É essencial entender que essa distinção vai além do âmbito político. A indocilidade política da "massa" é apenas um reflexo de sua indocilidade intelectual e moral mais profunda.
Embora tenha acesso a muitos recursos, o homem comum contemporâneo carece do conhecimento e da compreensão necessários para administrar adequadamente o que chamamos de civilização. É delicado, difícil, custoso preservar a civilização. Os bens da nobreza são conquistas que devem ser mantidas através do esforço contínuo, ao contrário dos direitos comuns, benefícios concedidos pela sorte ou pelo destino, exigentes de pouco ou nenhum esforço.