Com frequência, a discussão sobre investir em educação e cultura põe seu foco na infância. A interação entre gerações, contudo, lembra bem toda a diferença que fazem as ações bem direcionadas a adultos. A relação entre esses dois grupos é total e incontornável. De crianças e jovens vem todo o frescor da novidade, o que nos inspira, nos motiva e nos comove; já os adultos e os mais velhos vivem num mundo que eles mesmos ajudaram a moldar.
É claro que nem sempre temos a situação ideal dos maduros tendendo mais à preservação do melhor, e dos pequenos à superação do pior. Acontece também de homens feitos defenderem mais seus privilégios do que avanços comuns, e de jovens darem a vida por inovações destrutivas. Daí o acerto de Hannah Arendt quando disse que um dos papeis cruciais da educação é o de preservar o mundo da revolução que os jovens costumam trazer, e dos estudantes o de inserir o que de mais original e inovador eles forem capazes.
Ninguém contesta, entendam bem, quão importante é investir em educação infantil. Os exemplos de Portugal, Finlândia, Indonésia e Coreia do Sul destacam a transformação possível com tal foco. Mas as crianças são parte de um ambiente que os adultos criaram. Isso ressalta a necessidade de equilíbrio na alocação de esforços e recursos. Por um lado, o entorno da criança pode pôr tudo a perder; por outro, uma educação completamente alheia ao que a circunda pode morrer logo, como uma planta nativa da Suécia que se plante em Cuiabá.
Elevar culturalmente os jovens proporciona modelos mais tangíveis. Ter referências próximas inspira e motiva. É vital celebrar mitos inspiradores, mas exemplos cotidianos são igualmente valiosos. Enquanto Machado nos instrui e inspira, os sucessos de Alexandre Soares Silva incentivam imediatamente. Mitos históricos como Bonifácio e Cairu são essenciais, mas também contam os feitos daqueles que conhecemos pessoalmente.
É essencial refletir sobre a gradação dos modelos. Ficção, figuras históricas e exemplos familiares: todos influenciam. São referências que constroem nosso ethos. Uma abordagem mais graduada reconhece as muitas fontes de inspiração e proporciona à personalidade um panorama completo.
Em todos os estágios da vida, a educação e a cultura requerem investimento, público e privado. Mas também é necessário tratá-las como profissão, com visão econômica e empreendedorismo. Só o idealismo não basta. É preciso que a ideia se sustente, para o próprio bem dela. Nesse sentido, grandes líderes de estado e figuras inspiradoras da sociedade podem fornecer um referencial importante que sirva de sustentáculo à cultura.
A dicotomia entre investir nas crianças ou nos adultos é, no final, uma falsa oposição. Investir tanto nelas quanto nestes é a chave para um desenvolvimento integral. A relação entre gerações é íntima demais para que nos esqueçamos: criam e recriam o mundo único em que vivemos. Da mesma forma, o sucesso da cultura depende do sucesso da educação. A recíproca também é verdadeira. De modo que uma abordagem conjunta, que conheça essa intersecção entre idades e reconheça esse intercâmbio de disciplinas, é a melhor estratégia para o futuro a que chamam próspero.