Colunista Rafael Nogueirareprodução
O fomento à cultura e à economia criativa desempenha papel vital na construção de um país forte, rico e culto. Contrariamente às vozes que argumentam contra o financiamento público da cultura, a história está cheia de exemplos para mostrar como o apoio estatal à produção cultural vale muito a pena.
Um dos principais benefícios da cultura e da economia criativa vem de sua capacidade de alavancar ativos culturais e históricos para criar produtos e experiências únicas; abordagem que impulsiona, entre outras coisas, o próprio turismo. Assim, ao longo da história, líderes e governantes visionários reconheceram o poder da cultura para firmar a identidade de uma nação e atrair atenção dos povos. O teatro grego, um dos pilares da dramaturgia, floresceu não sem ajuda de prêmios estatais. Shakespeare, cujo legado é incomparável, recebeu apoio direto da rainha Elizabeth I. Outros casos notáveis incluem o compositor brasileiro Carlos Gomes, que alcançou reconhecimento internacional graças ao apoio direto de Pedro II, e Beethoven, cuja música foi beneficiada e incentivada pelo Império Austríaco. Villa-Lobos, ícone da música brasileira, também foi moldado por políticas de Estado que investiram em seu talento.
A Igreja Católica também desempenhou um papel significativo no financiamento de artistas. Durante a Idade Média e o Renascimento, era uma das principais instituições a patrocinar as artes na Europa. Exemplo notável é o teto da Capela Sistina, pintado por Michelangelo durante o papado de Júlio II, e só possível graças ao patrocínio da Igreja.
Outra iniciativa em prol da cultura, talvez a mais conhecida delas, foi o mecenato clássico, que desempenhou papel fundamental no apoio aos artistas. Um dos mecenas mais famosos da história foi Lorenzo de' Medici, líder político e patrono das artes em Florença durante o Renascimento. Ele apoiou artistas como Leonardo da Vinci, Sandro Botticelli e Michelangelo, contribuindo para o florescimento da cultura renascentista.
Além desses exemplos históricos, as políticas de incentivo cultural continuam a mostrar seu valor nos tempos modernos.
Números recentes destacam a importância da economia da cultura e das indústrias criativas (ECIC) no Brasil. Em 2020, esse setor movimentou uma impressionante cifra de R$ 230,14 bilhões, representando aproximadamente 3,11% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, de acordo com dados do Instituto Itaú Cultural, baseados no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Chama a atenção que a ECIC esteja apenas atrás de setores tradicionais como a construção civil e o transporte em termos de contribuição para a economia brasileira. Isso demonstra o potencial extraordinário dela, que supera até mesmo indústrias tão significativas quanto a extrativa e a automotiva.
Dentro da ECIC, destaca-se a indústria do cinema e do audiovisual: ultrapassa até mesmo o turismo. Isso ressalta o valor econômico e cultural da produção cinematográfica e audiovisual no Brasil, que não apenas atrai audiências internacionais, mas também gera empregos e impulsiona bastante a economia local.
Todos esses dados demonstram a relevância inegável da cultura e da criatividade como motores econômicos no Brasil. E destacam a necessidade contínua de investimento, sobretudo estatal, a esse setor que, sendo capaz de estabelecer para o país uma posição central no mundo, enriquece a identidade nacional não apenas no sentido metafórico, mas também no mais estrito sentido da palavra "riqueza".
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