Arte coluna opinião 18 de outubro 2023Arte Paulo Esper
A política não é só um campo de batalha para debates intelectuais; é assunto de cultos e iletrados, do bar e da rede social. Política tem a ver com cultura, mas também com instinto e bom senso. E isso tudo é saudável. Para a política não ser o terreno fértil onde se plantam só engano e desinformação, precisamos justamente dialogar, debater, discutir. Sem discutir, o último vídeo fica parecendo a última versão dos fatos.
Recentemente, num vídeo que circulou nas redes sociais, uma alemã radicada no Brasil dizia a uma brasileira por que não se considera patriota. Para ela, o patriotismo é algo "tão século XX". Disse o que disse com a empáfia do mau patriota, que vê no interlocutor estrangeiro um ignorante fora da moda que vigora no país dele. Faço um apelo à reflexão.
Lembrei logo da "Dama de Ferro", que, diante disso, estaria pronta a adicionar um tempero britânico à nossa mesa.
Quando falava de patriotismo, Margareth Thatcher demonstrava um senso crítico peculiar. Em seu livro "A Arte de Governar", em que compartilhava suas reflexões sobre Guerra Fria, ela disse que negou o convite para participar da celebração da reunificação alemã logo após a queda do Muro de Berlim. Ela não negava o direito dos alemães de serem patriotas, mas levantou uma sobrancelha.
As preocupações de Thatcher se baseavam na história tumultuada do patriotismo alemão. Por temor do que uma Alemanha unificada poderia ressuscitar, ela não estava muito empolgada em comemorar. Mas se dizia patriota, com muito orgulho de sua pátria, de sua língua, de suas tradições.
E o que o Brasil tem a ver com isso?
Se, de fato, uma alemã tem que tomar cuidado com o patriotismo, será que podemos dizer o mesmo de uma brasileira? Estamos felizes por ser brasileiros, o que é muito bom, muito justo, muito saudável, sobretudo porque isso não implica submeter ninguém, mas enfrentar nossos problemas com energia, celebrando nossas diferenças entre nós e em relação aos estrangeiros.
Outro influenciador, agora um comunista, também me pareceu descuidado, e isso ao falar justamente de Thatcher. Entre argumentos históricos apresentados com o absolutismo dos marxistas, adicionou coisas meio adolescentes do tipo: "ela não tinha só apelido legal; na verdade, ela também era chamada de bobalhona."
A história nos ensina que a Guerra Fria foi uma luta entre dois sistemas radicalmente diferentes. De um lado, o comunismo soviético buscava a expansão global de sua ideologia, não reconhecendo limites morais em sua busca pelo domínio. Do outro lado, o Ocidente representava a liberdade individual e a democracia, reconhecendo o valor único de cada ser humano.
A Guerra Fria terminou, mas a tensão entre esses sistemas não desapareceu. E sempre que o enganado de boa-fé ou o mentiroso maldoso tentar falar mal de nosso país ou bem de uma experiência violenta e totalitária, desconfie de desinformação e propaganda, os instrumentos por excelência dos que não gostam de discutir. Um juízo equilibrado, democrático não da boca para fora, mas de coração, deve sempre usar sua inteligência livre para fazer perguntas e propor ajustes, com uma dose de cultura e outra de bom senso.
Recentemente, num vídeo que circulou nas redes sociais, uma alemã radicada no Brasil dizia a uma brasileira por que não se considera patriota. Para ela, o patriotismo é algo "tão século XX". Disse o que disse com a empáfia do mau patriota, que vê no interlocutor estrangeiro um ignorante fora da moda que vigora no país dele. Faço um apelo à reflexão.
Lembrei logo da "Dama de Ferro", que, diante disso, estaria pronta a adicionar um tempero britânico à nossa mesa.
Quando falava de patriotismo, Margareth Thatcher demonstrava um senso crítico peculiar. Em seu livro "A Arte de Governar", em que compartilhava suas reflexões sobre Guerra Fria, ela disse que negou o convite para participar da celebração da reunificação alemã logo após a queda do Muro de Berlim. Ela não negava o direito dos alemães de serem patriotas, mas levantou uma sobrancelha.
As preocupações de Thatcher se baseavam na história tumultuada do patriotismo alemão. Por temor do que uma Alemanha unificada poderia ressuscitar, ela não estava muito empolgada em comemorar. Mas se dizia patriota, com muito orgulho de sua pátria, de sua língua, de suas tradições.
E o que o Brasil tem a ver com isso?
Se, de fato, uma alemã tem que tomar cuidado com o patriotismo, será que podemos dizer o mesmo de uma brasileira? Estamos felizes por ser brasileiros, o que é muito bom, muito justo, muito saudável, sobretudo porque isso não implica submeter ninguém, mas enfrentar nossos problemas com energia, celebrando nossas diferenças entre nós e em relação aos estrangeiros.
Outro influenciador, agora um comunista, também me pareceu descuidado, e isso ao falar justamente de Thatcher. Entre argumentos históricos apresentados com o absolutismo dos marxistas, adicionou coisas meio adolescentes do tipo: "ela não tinha só apelido legal; na verdade, ela também era chamada de bobalhona."
A história nos ensina que a Guerra Fria foi uma luta entre dois sistemas radicalmente diferentes. De um lado, o comunismo soviético buscava a expansão global de sua ideologia, não reconhecendo limites morais em sua busca pelo domínio. Do outro lado, o Ocidente representava a liberdade individual e a democracia, reconhecendo o valor único de cada ser humano.
A Guerra Fria terminou, mas a tensão entre esses sistemas não desapareceu. E sempre que o enganado de boa-fé ou o mentiroso maldoso tentar falar mal de nosso país ou bem de uma experiência violenta e totalitária, desconfie de desinformação e propaganda, os instrumentos por excelência dos que não gostam de discutir. Um juízo equilibrado, democrático não da boca para fora, mas de coração, deve sempre usar sua inteligência livre para fazer perguntas e propor ajustes, com uma dose de cultura e outra de bom senso.
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