Rafael NogueiraRafael Nogueira

O Brasil enfrenta uma das piores tragédias climáticas de sua história; o Rio Grande do Sul, a pior. Diante de uma crise em que a desorganização, a falta de prioridades claras e a ausência de solidariedade são evidentes, é impossível não questionar o papel da federação.
A tragédia no Rio Grande do Sul expõe uma realidade alarmante: enquanto milhares sofrem com a fome, o desabrigo e a morte, a mídia oficial repercute os fatos de maneira tímida, ou até mesmo insensível, fazendo com que a atenção pública seja desviada. A iniciativa da sociedade civil em momentos de crise é fundamental para garantir o suporte às regiões afetadas. Mas o governo federal e os outros estados têm o supremo dever de zelar pela mitigação dos danos, pelos salvamentos mais arriscados, pela reconstrução, enfim. No entanto, o que vemos é uma resposta insuficiente e descoordenada, com poucas exceções.
Desde um ponto de vista nacional, é inadmissível que um país com tantos recursos e potencialidades deixe seus cidadãos à mercê da própria sorte em momentos tão críticos, e ainda sendo alvo de zombarias e morosidades. Estados que contribuem mais do que recebem não podem ser relegados a segundo plano enquanto enfrentam tragédias de proporções catastróficas.
O espírito de caridade dos brasileiros deve ser o pilar sobre o qual construímos nossa nação, e é preciso agir com urgência para restaurar a confiança e a esperança em tempos de crise. A impressão de descaso é tamanha que muitos chegam a afirmar que são as iniciativas privadas que resolvem tudo. Mas é justamente nessas horas que fica ainda mais claro o papel insubstituível do Estado.
Os bombeiros, por exemplo, têm se destacado por seus esforços heroicos, arriscando suas vidas para salvar a de outros. Seus treinamentos especializados e dedicação têm sido fundamentais para o sucesso de muitos resgates, demonstrando a importância do serviço público em momentos de necessidade extrema.
Há um caso em que civis foram salvar uma família cuja casa havia sido destruída. A embarcação virou, e se sustentaram segurando durante horas o tronco de uma árvore. Bombeiros catarinenses os avistaram, numa inspeção feita às sombras da noite, e os salvaram. Será que devemos menosprezar seu heroísmo?
E quanto à logística? Mais gente no local significa mais água e mais comida. Mais itens adquiridos significa mais esforços de transporte e guarda. Quanto mais dinheiro arrecadado, maior a necessidade de braços para contabilizar os recursos, as demandas e as entregas. A assistência pública em casos de calamidades não é de hoje. Já a primeira Constituição do país, de 1824, previa a garantia de esforços estatais de natureza especial em situações como essa, como podemos ver no art. 179, § 31, que fala dos socorros públicos.
Isso não diminui o caráter fundamental da ajuda privada, que é proativa, solidária e independente, que pode ser a salvação daqueles que não poderiam mais esperar, que não anseia por comandos, que é criativa, que corta na carne para levar proteção, comida, água e abrigo às vítimas. O que defendo é a harmonia entre a gestão pública e a privada, e a valorização justa de ambas.
Gestores públicos devem compreender a urgência da situação e agir de forma ágil e flexível. Regras e cobranças cotidianas devem ser relaxadas para facilitar as operações de suporte, e revisões tributárias e reavaliações de autorizações e proibições são necessárias para garantir uma resposta eficaz à crise.
Neste momento de profunda tristeza e desespero, é imprescindível que o Brasil se una em solidariedade ao Rio Grande do Sul. Como nação, temos o dever de nos ajudarmos mutuamente em momentos de adversidade. Ou o Brasil serve para isso, ou não serve para nada.