Por nadedja.calado

Rio - Nem as letrinhas pequenas nem as palavras difíceis intimidam: em termos de cosméticos, a mulherada quer mesmo saber o que está consumindo. A tendência ao veganismo — consumo de produtos 100% vegetais e sem testes em animais — já superou o universo da culinária e aterrissou na maquiagem e nos produtos para cabelo. E ao que tudo indica, essa moda veio para ficar.

No Empório Veganza, em Ipanema, os ingredientes e comidinhas dividem espaço com esmaltes, maquiagens, óleos essenciais e produtos para cabelo. Todos veganos. A franquia, que nasceu em Vitória e já conta com 8 lojas pelo Brasil, chegou ao Rio no ano passado, trazida pelo empresário Johan Pereira: "A procura é enorme e cada vez mais marcas surgem para atender a demanda. É um mercado em ascensão", explicou.

Tratamento BioResult no Salão Six Amis no LeblonNadedja Calado / Agência O Dia

Uma das marcas que lideraram essa mudança foi a badalada Lola Cosmetics, que conquistou as cariocas com produtos para cabelo moderninhos, embalagens ilustradas e nomes bem-humorados. Além de 100% vegana, a marca conta com produtos livres de silicone, parafina e sulfatos, demanda das praticantes das técnicas "low" e "no poo". A iniciativa partiu da sócia-fundadora da marca, Dione Vasconcellos: "Eu sou vegana há 4 anos, minha filha é vegana e a marca precisava ser também. Gostaria que todo mundo fosse!", disse.

A designer Tayná Carvalho, 22, também aderiu ao estilo de vida sem olhar para trás: "A dificuldade de deixar de consumir esses produtos é muito pequena, comparada à vida de um ser vivo. Se não conseguirmos enxergar dessa maneira, não nos importamos realmente com os animais". E ela aposta no crescimento dessa tendência: "Minha consciência está mais leve, posso influenciar outras pessoas a fazerem o mesmo que eu. Veganismo é isso, de pouquinho em pouquinho a gente chega em algum lugar".

A designer Tayná Carvalho é vegana e só usa produtos cruelty-free.Reprodução Internet

As adesão por parte das marcas acompanha uma tendência global: na União Europeia, por exemplo, os testes de cosméticos em animais já estão proibidos desde 2013. Quem também aposta nessa tendência faz tempo é o empresário Felipe Rechtman, que criou no Rio a linha para cabelos BioResult, feita com os produtos da Zerran, marca americana totalmente vegana. As clientes que quiserem tratar as madeixas sem peso na consciência podem aproveitar as parcerias da marca com salões de beleza da cidade, como o conceituado Care, em Ipanema, e o Six Amies, no Leblon.

A linha de produtos veganos da ZerranNadedja Calado / Agência O Dia

Além dos tratamentos, a BioResult passou a oferecer um alisamento livre de formol. Todos os produtos são, além de veganos, biodegradáveis e sem perfume. "É totalmente seguro, não agressivo e o resultado é ótimo. Testo os tratamentos diretamente no cabelo das donas dos salões, porque confio totalmente", contou Felipe. A cabeleireira Wanderleia, do Six Amis, também aprovou a linha: "É melhor para o profissional porque não irrita a pele nem os olhos, e as clientes adoraram", comemorou. 

Mesmo as marcas que não são totalmente veganas caminham nessa direção. É o caso da Dermage, empresa de dermocosméticos que acaba de lançar uma linha vegan, a Deli Fresh Organics, ecologicamente correta e com extratos orgânicos de Lichia, Gojiberry e Linhaça. Quem ganha, claro, são consumidoras como a economista Kesia Braga, 25, que vinha tendo dificuldades de encontrar esses produtos: "Não é tão acessível quanto eu gostaria, mas acredito que os avanços tecnológicos e o apelo das mulheres podem fazer com que cada vez mais produtos sejam livres de crueldade", disse. 

Para os empresários, o mercado é sedutor. Segundo dados da Sociedade Vegetariana Brasileira pelo Google Trends, a busca pelo termo "vegano" cresceu 1000% no ano passado. E, de mulher em mulher, está conseguindo transformar o modo de produção dos produtos de beleza.

A estudante Poliana Mourilhe, 27, também contou como decidiu pelo veganismo: "Sempre amei os animais, mas o consumo de animais estava naturalizado em mim. A gente acaba não questionando os hábitos. Mas um dia tive uma epifania, e não foi difícil. Não vou sustentar uma indústria que causa sofrimento", defendeu.


Reportagem da estagiária Nadedja Calado

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