Por daniela.lima

Rio - As entrevistas com Maria Bethânia foram tantas que o jornalista, crítico musical e colunista de O DIA Mauro Ferreira até já perdeu a conta. “Em uma ocasião, ela mesma brincou: ‘Não sei o que você ainda quer me perguntar, porque já sabe todas as minhas respostas’. Demos muitas risadas”, recorda ele. 

Mauro Ferreira%2C colunista de O DIA%2C lança livro 'Cantadas'José Pedro Monteiro / Agência O Dia


Ao completar duas décadas e meia de trabalho em redações, Mauro Ferreira lista a discografia de várias cantoras brasileiras que já entrevistou no livro ‘Cantadas — A Sedução da Voz Feminina em 25 Anos de Jornalismo Musical’ (Independente/Organograma Livros, 192 págs., R$ 35). O lançamento será no próximo dia 17, no restaurante Ettore, no Leblon.

‘Cantadas’ (cujo nome foi sugerido pelo amigo Rodrigo Amaral, responsável pelo projeto gráfico da obra, no formato dos antigos compactos, lembra?) foca em nomes históricos. Inclui Elza Soares, Gal Costa, Cássia Eller, Zizi Possi e Angela Ro Ro. Mas também estão lá Maria Rita, Teresa Cristina e Maria Gadú, revelações da década passada, e Tulipa Ruiz, bem mais recente, em meio às musas eternas. “Temos vozes masculinas relevantes, mas as mulheres provocam as maiores paixões”, atesta Ferreira.

A voz feminina é a sua grande paixão — e, garante ele, a preferência nacional. “Meus textos que mais repercutem são sobre cantoras”, revela. “Veja o ‘The Voice Brasil’: havia muitos concorrentes, mas o Brasil se encantou mesmo foi com a Ellen Oléria. Na Era do Rádio, Emilinha Borba e Marlene mobilizavam os fãs. Ainda hoje, o público discute se Gal é melhor do que Bethânia e vice-versa”.

Mauro FerreiraJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

Seleção difícil

Os discos de todas as escolhidas tocaram em seu aparelho de som durante a elaboração do livro. A seleção dos 25 nomes foi sofrida. “Poderia ter feito um livro com 50 ou com 100, mas selecionei cantoras com as quais tive relação profissional. Procurei também expor a diversidade de estilos do canto brasileiro e abraçar várias gerações”, explica. “Fui criado ouvindo a MPB e o samba dos anos 70, mas não quis centrar só nisso”.

Cida Moreira, nome feminino pouco divulgado, embora de carreira duradoura, está lá também. “Ela encarna a cantora de cabaré, de verve teatral. Deveria ser mais ouvida”, recomenda.

Em ‘Cantadas’, Cássia Eller (1962-2001) é o único nome que já “saiu de cena”, como Mauro Ferreira costuma dizer quando precisa se referir (em seu blognotasmusicais.blogspot.com, atualizado diariamente, ou na coluna semanal, publicada às segundas-feiras em O DIA) a algum artista morto. “Queria ter incluído Elis Regina e Clara Nunes, mas não tive o privilégio de conhecê-las”, lamenta.

Foi ele um dos debatedores em uma das últimas entrevistas de Cássia, no programa ‘Sem Censura’, da TV Brasil, em 23 de novembro de 2001. O vídeo está disponível no YouTube. “Quando lembro dela, fico triste. Ela partiu no auge artístico e comercial da carreira. Fico imaginando o que não teria feito nesses 12 anos. Ela foi, na área do rock, a grande cantora brasileira”. 

Música e novelas em livro

‘Cantadas’ é o segundo livro de Mauro Ferreira. Apaixonado por música, o jornalista estreou, curiosamente, escrevendo, com Cleodon Coelho, sobre a vida da novelista Janete Clair, em ‘Nossa Senhora das Oito’ (Ed. Mauad, 2003).

“Sempre fui noveleiro. Se não fosse crítico de música, acho que estaria escrevendo roteiros. O Brasil é o país das cantoras e das novelas”, decreta.

Ele conta que já pensou mesmo em migrar para a profissão de roteirista, chegou a escrever peças teatrais e teve dois textos encenados no Rio, ‘Terra de Cego’ (1997) e ‘Caiu na Rede é Peixe’ (2000). “Não me senti confortável ao estar simultaneamente dos dois lados e preferi o jornalismo”, explica.

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