Por cadu.bruno

Rio - No lugar de corre-corre, pânico, balas de borracha e bombas de efeito moral, uma explosão criativa vai colorir a Lapa durante todo o dia de hoje — pouco mais de um mês depois que o berço da boemia carioca foi cenário de verdadeiras cenas de guerra no final da manifestação de 20 de junho, que levou 300 mil pessoas às ruas. Batizado de ‘Ocupa Lapa’, o encontro reunirá, das 10h às 22h, artistas dos mais diferentes segmentos. Vai ter música, exposições, performances, teatro, leitura de poesias e dança.

“Essa ideia surgiu como um repúdio ao que aconteceu no mês passado, quando a Lapa foi cercada pelo Batalhão de Choque. Pessoas foram acuadas, se refugiaram. Eu, por exemplo, fiquei dentro de um bar, fui atacada com bala de borracha. E isso aconteceu logo na Lapa, que é a síntese da cultura carioca. Toda a cidade se encontra lá. É um lugar fundamental para a imagem do Rio e do Brasil no mundo”, comenta Adriana Schneider, atriz e professora de direção teatral na UFRJ.

O encontro foi organizado em reuniões com diversos artistas, sempre às terças-feiras. Mas, assim como em outras manifestações, não há uma liderança — tudo é decidido coletivamente. “A característica é horizontal”, frisa o músico Ricardo Cotrin, que é percussionista do Cordão do Boitatá. E, como de praxe nos novos tempos, o real e o virtual caminham juntos: o evento tem mais de mil curtidas no Facebook.

A programação começa com uma intervenção do grupo Tá Na Rua. Depois, haverá participação de grupos como Teatro de Anônimo e Teatro do Oprimido, e das bandas Dona Joana e Choque do Magriça.

“A classe artística quer ser ouvida há tempos. Participamos de audiências e tivemos reunião com o secretário de Cultura, Sérgio Sá Leitão. Apesar de todos os esforços, existe a prática de um diálogo surdo com a gente”, critica Adriana. “Estávamos ficando desanimados. Foi quando estouraram as manifestações”, completa.

Tropa

Às 11h30, uma inusitada ‘Tropa de Sorte’ sairá da Lapa em direção à Praça da Cruz Vermelha. “Pessoas podem chegar vestidas em trajes livremente inspiradas no Choque. Vai ter gente armado até com Bala Juquinha”, conta Adriana. “Os escudos podem ser nossos cartazes”, complementa Cotrin. “Não é um bloco de Carnaval. Nossa ideia também não é, simplesmente, fazer uns showzinhos na praça. O propósito é uma manifestação artística, onde todos possam se expressar ativamente”, conclui ele.

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