Por tabata.uchoa

Rio - Ela foi vista (ao vivo) por mais de 23 milhões de pessoas ao redor do mundo. Em 71 países espalhados pelos seis continentes, nunca deixou de arrancar sorrisos. Longe de ser qualquer fenômeno atual da internet, a aclamada coreografia ‘Revelations’ — do grupo americano Alvin Ailey American Dance Theater — é um dos mais renomados trabalhos de dança moderna no planeta. Pela terceira vez no Brasil, a companhia não deixará de mostrar o principal balé aos cariocas, em apresentações que se estendem de quarta a domingo, na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca.

Referência mundial%2C companhia americana Alvin Ailey se apresenta no RioDivulgação

“Todo mundo tem algo a superar. Acredito que a causa de tanto sucesso para essa dança está no fato de ela sempre passar mensagens de esperança, de modo atemporal, lançando no horizonte perspectivas mais prósperas”, explicou, ao telefone, falando de forma calma, Robert Battle, diretor artístico da companhia. Por sinal, foi a coreografia de sucesso recorde, criada em 1960 pela lendária figura de Alvin Ailey (fundador do grupo), que o lançou profissionalmente no mundo da dança. “Comecei a dançar com 12, 14 anos. Era muito envolvido com música. Via performances pela manhã, e lembro bem do meu primeiro contato com ‘Revelations’. Eu falei: ‘uau!’. Fiquei muito impressionado, com vontade de realmente entrar para o balé”, recorda Robert, com vigor entusiasmado.

Hoje, como terceira pessoa a ocupar o cargo de diretor artístico de uma das maiores companhias de dança moderna e afro-americana — conhecida também por “embaixadora cultural do mundo” —, o coreógrafo faz questão de lembrar o contexto político no qual o grupo foi criado — em 1958, quando os Estados Unidos eram extremamente racistas: os direitos ainda não eram os mesmos para negros e brancos. “Apesar de sempre trazermos à tona as nossas origens e tornarmos presente o passado, nunca deixamos de falar sobre questões universais, relativas ao espírito humano”, afirmou o coreógrafo.

No Rio, os 30 bailarinos do grupo apresentarão sete coreografias em dois programas diferentes (‘Revelations’ é a única presente em ambos). Em todos os números, ficam evidentes traços das culturas afro-americana, caribenha e indiana, como as canções gospel próprias dos Estados Unidos, além de ritmos percussivos e jazzísticos. “Queremos que o público entenda que a dança pode elevar o espírito, transcendendo barreiras linguísticas e étnicas, por exemplo”, defendeu.
Sobre a vinda para o Brasil, Robert não esconde um misto de ansiedade e animação. Será a terceira vez que ele vem ao país, desta vez como coreógrafo. “Amo a maneira como o povo brasileiro celebra os fatos da vida. Desejo apenas que o público se sinta positivamente conectado com o nosso trabalho”, afirma.

E sobre a dança brasileira, o que pensa um dos embaixadores da dança no mundo? “Acho admirável! É incrível a maneira como usam o solo, o chão, e o jeito agressivo dos movimentos”, diz, para em seguida revelar que já esteve envolvido com a capoeira, por alguns anos: “É tão fluente e bonito, mas também perigoso”, gargalha, lembrando novamente as raízes africanas. E já que o assunto gira em torno dos passos tupiniquins, Battle não poderia encerrar sem falar em samba: “Adoro o ritmo. Acho magnífico o fato de ser tão popular. Mas confesso que, mesmo tentando arriscar diversas vezes, acho difícil alcançar o gingado”.

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