Por nara.boechat

Rio - Os números são expressivos. São 63 anos de idade, 40 de carreira e cinco de ‘Profissão Repórter’. Mas apesar do longo tempo, Caco Barcellos já pensou em outras opções de carreira. “Gosto de observar a vida dos outros, não de ser observado. Nesse sentido, eu escolhi a profissão certa. Mas também gostaria de ser jogador de futebol. Não consigo esquecer essa frustração. Ser arquiteto, tocar rock ‘n’ roll...”, enumera Caco, que curte punk rock, rap e dedilha na guitarra os clássicos ‘Taximan’ (Beatles) e ‘Satisfaction’ (Rolling Stones).

Caco Barcellos confessa que a experiência não o deixa seguro e conta como corre atrás da notíciaZé Paulo Cardeal / TV Globo

Expert em investigação e denúncias, ele sabe da importância de seu trabalho, mas não se deixa acomodar pelo tempo de estrada e jura que tem complexo de inferioridade. “Acho que sou um cidadão de quinta categoria, então, para conseguir alguma coisa, eu tenho que me esforçar muito. Quando uma história cai no meu colo, penso no que eu fiz para merecer e acho que ela não dever ser tão boa assim, já que veio muito fácil. Então, trabalho feito um maluco. Talvez seja culpa, não sei de quê. Eu reconheço, sem falsa modéstia, que tenho umas coisas feitas por aí, mas isso não me habilita a achar que o próximo eu vou fazer bem. A experiência não vale como garantia”, diz.

As consequências das reportagens que ele e sua equipe produzem são, em maioria, positivas. Mas há também o lado negativo. Durante uma viagem à África, em junho, Caco contraiu uma vertigem viral. “Os médicos dizem que pode ter sido água contaminada que entrou pela boca ou nariz. Estou curado, mas tem resíduos da doença, ainda estou um pouco debilitado”, conta.

Tímido, mas com um senso de humor elevado, Caco só tira o sorriso do rosto quando o assunto é ameaça de morte, já que ele mexe na ‘ferida’ de muitos poderosos, da polícia corrupta e de bandidos. “Não gosto de falar sobre isso porque parece que, quando eu falo, volta. Mas de cada 10 matérias, talvez em 9,9 eu estou do lado de quem sofreu alguma coisa e dificilmente apontando o dedo contra quem fez a injustiça. Por conta disso, eu recebo quase nada de ameaças. Sou um sujeito que não deseja punição para ninguém. Seria um péssimo juiz, um medíocre delegado”, avalia.

O jornalista também é firme na sua posição e não se deixa levar pelos problemas sociais que atingem seus entrevistados. “Não gosto de solidariedade, prefiro justiça. Um país justo não precisa ser solidário. Se você dá o devido valor que a pessoa tem, ela não precisa te pedir nada. Eu não dou dinheiro porque acho muito delicado, sobretudo se me pedem antes da reportagem. Se pedem depois eu acho menos grave. Mas não é ético aceitar. É complicado tecnicamente, porque, se eu ofereço isso, a pessoa pode contar a história só para ter a certeza de que vai receber aquela grana e pode até exagerar para ganhar mais. Não gosto de dar dinheiro nem como pessoa física, quando não estou trabalhando. Até dou esmola e tal, mas acho legal que as pessoas ganhem um bom dinheiro pelo trabalho que fizeram”, justifica.

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