Por julia.amin

Rio - Só quem já perdeu a oportunidade de ir a um show da sua banda favorita sabe como é essa dor. Principalmente se o grupo de que você mais gosta for estrangeiro, daqueles que só vêm ao Brasil uma vez a cada dois ou três anos. Enivaldo Andrade, o Russo, conhece bem a sensação. Aos 38 anos, o porteiro de um colégio de Botafogo, no Rio de Janeiro, já perdeu pelo menos 10 apresentações dos americanos do Red Hot Chili Peppers no Brasil nos últimos 20 anos.

Russo (esquerda) contou com a ajuda de Lucas Vasconcelos (centro) e Pedro Botafogo (direita) na campanhaReprodução Facebook

Mas este ano será diferente. Neste sábado, a banda toca no Rio de Janeiro , e Enivaldo vai finalmente ver os músicos ao vivo pela primeira vez, cortesia de três alunos do colégio onde o carioca trabalha. Pedro Botafogo, 17, Lucas Vasconcelos, 16, e Eric Fernandes, 18, organizaram uma vaquinha para arrecadar R$ 240 e levar Russo ao show da banda de Anthony Kiedis.

Sem que o porteiro soubesse, os garotos organizaram uma campanha entre todos os alunos do colégio para levantar fundos para comprar a entrada para o show. “Arrecadamos os R$ 240 do ingresso e chegamos a negar dinheiro oferecido pelos alunos por já ter a quantia necessária”, conta Pedro em entrevista ao iG. As doações geralmente ficavam entre R$ 10 e R$ 15. “A ideia inicial não tinha nenhum tipo de objetivo material”, garante.

Depois de já ter alcançado o objetivo, o trio foi entregar o ticket ao porteiro, e gravou tudo. O vídeo foi colocado na internet há duas semanas e já passou das 20 mil exibições. “Decidimos dar o presente por saber que ele não teria condições de comprar o ingresso por conta própria, e como uma oportunidade de fazer o bem”, explica Pedro.

Pedro estava certo. O principal motivo pelo qual Enivaldo nunca viu seus ídolos ao vivo foi o dinheiro curto. “Nunca fui por motivo de grana. Sempre fui muito humilde e já passei, e passo às vezes, muita dificuldade”, lamenta o porteiro, que diz ser fã do RHCP desde 1985.

Para Russo, o gesto dos alunos foi um exemplo. “Foi uma prova de amor ao próximo. Eles deixam algo bem claro: se você não pode fazer tudo, faça tudo que puder”, acredita. Ele acha que a sua ótima relação com os alunos foi o que motivou os garotos a abraçar a campanha. “É uma relação muito agradável. Eles param para conversar comigo, perguntam como estou, e eu faço o mesmo. Também conversamos sobre várias bandas”, conta.

O porteiro Enivaldo Andrade%2C o Russo%2C vai ao show do Red Hot Chili Peppers no Rio de JaneiroReprodução Internet

A apenas um dia do show, Enivaldo já não consegue conter a ansiedade. “Quando penso [no show] me dá arrepios. Vai ser muito da hora”, antecipa. “Vou curtir as músicas ao vivo, tirar muitas fotos e conhecer fãs como eu”, projeta, animado. Pedro também irá ao show. “É minha banda favorita. Certamente vou no show, ainda mais por ser no dia do meu aniversário”, diz.

Apesar de já estar com o ingresso na mão, Russo não consegue acreditar em tudo o que aconteceu. “Desde que peguei o ingresso, meus pés ainda não tocaram o chão”, revela. “Vai ser um dia muito especial na minha vida. Conto as horas, os minutos e os segundos para a chegada do show”.

A vontade de Russo de recompensar os três garotos também é muito grande. “Eu quero muito recompensá-los, pois eles significam muito para mim”, garante. Mas a recompensa não é necessária, pelo menos para Pedro. “[Fizemos] Só por fazer o bem, sem esperar nada em troca”.


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