Por daniela.lima

Rio - “Cara, imagina se o Cartola estivesse vivo para ver o sucesso do samba hoje? Ou se os primeiros capoeiristas vissem como o esporte está profissionalizado? É assim que me sinto hoje com o funk”, alegra-se um dos pioneiros dos batidões, DJ Marlboro. Ele abre um sorrisão ao ver a Praça da Apoteose já em clima de baile. Realizada pela primeira vez no reduto do samba, a Rio Parada Funk, em sua terceira edição, conta no domingo a história do gênero com mais de 100 atrações. 

Terceira edição da Rio Parada Funk invade a Praça da Apoteose no domingo com 12 palcos Fernando Souza / Agência O Dia


No roteiro, grandes nomes, como o próprio Marlboro, Mr. Catra, MC Koringa, MC Buchecha, MC
Marcinho, Tati Quebra-Barraco e Fernanda Abreu — todos no palco Eu Amo Baile Funk, a partir das 18h. E novidades como as MCs Marcelly (do hit ‘Bigode Grosso’) e Karyne da Provi. E mais DJs, equipes de som e VJs. O melhor: a entrada é franca (mas é preciso imprimir o tíquete no site do evento).

As atrações se apresentam em 12 palcos (isso mesmo, você leu direito, 12 palcos!) montados ao
longo da Apoteose. “E ainda tem cinco carros de som para recepcionar todo mundo na entrada”,
alegra-se o curador do evento, o legendário DJ Grandmaster Raphael, lançador de vários sucessos, como o ‘Rap do Pirão’, de Cidinho & Doca.

Mas, com tanto som, vai dar para todo mundo ouvir as mensagens dos MCs, Raphael? “Vai, e o
espírito do baile é assim mesmo, com muitos graves. Quando o evento rolou no Centro, foi num
espaço bem menor”.

A Parada agora acontece no Sambódromo e o clima é de funk-enredo. Os tais 12 palcos mostram, cada um, um momento ou lugar histórico do funk. Há, neles, homenagens ao batidão do tamborzão, aos pioneiros do estilo (Cidinho Cambalhota, Ademir Lemos, Mr. Funky Santos, Luizinho Disc Jockey Soul), a bailes que marcaram época (como o Baile da Baixada e o Emoções da Rocinha) e até às favelas cariocas. E também a programas de rádio clássicos que divulgaram os bailes e os primeiros batidões. A turma do Apavoramento Sound System cuida de um desses palcos e também pilota os poderosos carros de som. 

Com entrada gratuita, Rio Parada Funk contará com mais de 100 artistasFernando Souza / Agência O Dia


“Vamos lembrar também das equipes de som. A história dos bailes começou com elas”, conta Raphael, outra figura lá do passado do estilo musical (começou a discotecar em 1976 ). Ele felicita o fato de o estilo estar hoje cada vez mais pop e repleto de fãs e artistas de todas as idades. E com muitas MCs mulheres. “O funk é democrático, sempre foi. Quem quiser fazer som com a gente sempre vai ser bem-vindo.”

A Rio Parada Funk é para dançar, mas tem também o lado consciente. As comunidades pacificadas do Rio receberam recentemente a 2ª Conferência Funk, com os temas ‘Funk: Cultura Urbana Popular’ e ‘Rio, Cidade do Funk’. Ainda assim, Marlboro lamenta que o gênero esteja meio fora das favelas.

“As UPPs não permitem. Voltamos à época em que a polícia mandava acabar com os bailes no Rio”, lamenta. “Mas quem sabe no ano que vem a gente não tem um Funkódromo? Já viemos para a Apoteose, a ideia é continuar aqui”, alegra-se o DJ, enquanto mostra, no celular, seu Instagram para a reportagem de O DIA. Lá pelas tantas, um vídeo exibe uma plateia lotada em Santa Catarina, esperando pelo baile. “No Instagram, consigo até ver um mapa dos lugares onde fiz show. O funk roda o Brasil e o mundo!” 

MC Marcinho é uma das atrações que se apresentam na ApoteoseFelipe O%26%2339%3BNeill / Agência O Dia


DE BOA NO PASSINHO

O funk, como garante Grandmaster Raphael, não tem preconceito. Nem faixa etária. “O passinho
trouxe mais crianças para o funk”, conta o DJ. Trouxe também uma série de jovens para dançar e
resgatou funkeiros com algum tempo de estrada. Na Rio Parada Funk, estão vários nomes do estilo de dança, como o grupo Os Ousados, que afirma que a inovação na pista está na moda, mas vem de muito, muito antes. “Já temos 15 anos de carreira”, diz o MC Tigrão, um dos integrantes.

“Aqui, cada um traz sua história para a dança. Tem gente que é do hip hop, um de nós é
capoeirista. Misturamos todas essas gingas no nosso show”, ele completa. E deixa claro que o
passinho já é quase um esporte — para quem quiser se aventurar, há oficinas de passinho em arenas culturais no Rio. “Existe o passinho do basquete, o do tortinho. E o duelo do passinho, que é a junção de todos os tipos de dança. Todo mundo pode fazer.”

Lugar de criança (e de pré-adolescente) também é na pista: grupos como Os Sensacionais do Passinho estão no roteiro da Rio Parada Funk. Maria Fernanda Barbosa, 12 anos, e Ruth Rodrigues, 13, meninas do grupo, estão ansiosíssimas. “Um amigo nosso fez uma música para a gente dançar”, diz Ruth. Quem também vem na onda do passinho é a bela MC Sabrina, abrindo mais uma fronteira para a mulher no funk. “Tudo começou com a Cacau, depois veio a Tati Quebra-Barraco. Elas falam de relacionamentos, trazem um lado mais sensual. Eu venho com um lado mais moleca”, explica.

SERVIÇO
PRAÇA DA APOTEOSE. Avenida Marquês de Sapucaí s/nº, Praça Onze. Domingo, de meio-dia às 22h. Entrada franca, mas os ingressos precisam ser impressos no site www.rioparadafunk.com.br/blog. Livre.

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