Projetos fotográficos das páginas do mundo virtual ganham edições em livros
Fotos da página ‘Cartiê Bressão’ - uma brincadeira criada com o fotógrafo Henri Cartier-Bresson - são lançadas em livro financiado pelo público
Por daniela.lima
Rio - Na canção que virou hit, Adriana Calcanhotto bem lembrou: “cariocas são modernos”. A potência dessa modernidade é tanta que saiu dos smartphones para o papel. Exemplos não faltam para confirmar a novidade. Hoje, às 19h, na Livraria Argumento, no Leblon, as fotos da página ‘Cartiê Bressão’ — uma brincadeira criada no Facebook e Tumblr com o cultuado fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson (1908 - 2004) — são lançadas em livro (Versal Editores, 80 págs., R$ 50), financiado pelo público, em coletivo.
A ideia surgiu no ano passado, em blocos de Carnaval. Fantasiado de Jorge Thadeu (fotógrafo interpretado por Fábio Jr. na novela ‘Pedra Sobre Pedra’, em 1992), Pedro Garcia foi às ruas com uma câmera analógica. Sem pretensão, clicou a farra e acabou gostando do resultado. “Foi uma epifania carnavalesca”, classifica.
“Fotografo durante a minha rotina. Quando as cenas aparecem, tiro o meu iPhone do bolso e clico”, explica o publicitário, que ainda dá graça às imagens com legendas escritas num francês para lá de cariocado. “Uso sempre o Google Tradutor”, revela.
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Outra experiência virtual que ganhou o papel é o recém-lançado ‘Rio 365 — Um Documentário Fotográfico’ (Imã Editorial, 216 págs., R$ 75). A obra nasceu de um projeto no Instagram já pensado para a plataforma impressa. “Bolamos um jogo fotográfico para todos os usuários da rede. A cada semana, indicávamos um tema sobre a cidade, para compor um livro feito por cariocas”, explica André Galhardo, criador do projeto que contou com 36 curadores (entre eles, Nelson Vasconcelos, colunista de tecnologia de O DIA) para selecionar uma foto por dia. No total, mais de 100 mil imagens foram enviadas.
Criado na Vila da Penha, Hélio de la Peña participou da curadoria do tema ‘Zona Norte’. “Algumas fotos merecem sair da tela do computador. A que mais me chamou atenção é simples. Não há paisagem, nem mulher gostosa, mas as marcas de bola no portão recém-pintado me remeteram imediatamente à infância”, diz.
Veterano fotógrafo, Jorge Bispo também viu o projeto ‘Apartamento 302’ (246 págs., R$ 80), do Tumblr, virar livro. As mulheres nuas clicadas em sua casa podem agora ser folheadas. “O prazer tátil de um livro ainda é algo insubstituível. Está mais caro fazer material impresso, mas a vontade permanece a mesma”. Para desgosto dos marmanjos, Bispo decreta o fim do projeto: “Me mudei. Agora estou no 304”.
UM GOSTINHO DE OBRA ETERNA
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Não tem jeito: por mais que o mundo online seja dinâmico, represente o futuro e pareça... hmm... hype, os velhos impressos ainda têm seu valor. Ter o nome grafado nas páginas é sempre sedutor. Dá a sensação de que a obra em papel é eterna. Nem todas merecem, claro, mas tem sido assim desde o século 15...
Vem daí esse hábito, cada vez mais frequente, de levarmos para os livros as obras originalmente nascidas na internet. A rede é um balão de ensaio. Se você ganha admiradores, muitos likes, é sinal de que existe um público para o seu produto. Por que não torná-lo palpável? Vai na contramão do que dizem os defensores de que o mundo está se virtualizando. Pode ser, mas o que importa? A vida é curta, então vamos curtir.
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Um dos primeiros a descobrir isso foi a editora britânica Thames&Hudson. Aproveitando a onda avassaladora do Fotolog, espécie de avô do Instagram, a editora publicou em 2006 um livro com centenas de ótimas fotos, que mereceram mesmo ser eternizadas. O livro continua sendo vendido até hoje.
Eis, então, outro detalhe não menos importante nessa materialização. Como parte dos criadores ainda não consegue fazer grana com sua produção na web, os livros podem render alguns caraminguás. (Nelson Vasconcelos)