Por daniela.lima
Rio - Quando o Papa pisou em solo carioca, em julho, Cacá Diegues não teve dúvidas: montou uma equipe e foi registrar o que acontecia pelas ruas da cidade. “A gente começou sem saber o que ia fazer. De repente, percebi coisas como a ida de peregrinos a um terreiro de candomblé”, conta o cineasta, sobre uma das coisas que mais o emocionaram durante as filmagens que originaram o DVD ‘Rio de Fé — Um Encontro Com o Papa Francisco’, que chega às lojas na sexta-feira. 
Filme de Cacá Diegues mostra a tolerância religiosa durante a Jornada Mundial da JuventudeDivulgação


A partir daí, o principal foco do documentário passou a ser a tolerância religiosa. Em uma das cenas, um gay diz que, após aceitar sua sexualidade, se sente mais próximo de Deus. Em outra, jovens vindos de outros países para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) visitam um terreiro de candomblé. Os protestos feitos pela Marcha das Vadias também estão na montagem, que deixou de fora a cena em que manifestantes quebram imagens de santos. “Não precisava disso”, defende Cacá.

Ao ser indagado sobre as controvérsias que seu filme pode causar, o cineasta responde: “Acho que vai gerar polêmica, sim. Ainda não ouvi nada sobre isso, mas não estou me iludindo.” Outro que diz não se iludir é o babalorixá Ivanir dos Santos, um dos entrevistados de ‘Rio de Fé’. Ele elogia o documentário e o respeito às diferenças tanto pregado pelo Pontífice, mas alerta:
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“O prefeito, que deu dinheiro para a JMJ, este ano não ofereceu nenhum recurso para a Caminhada Pela Liberdade Religiosa. A relação do estado com a minha religião é diferente”, ressalta Ivanir, que, durante debate após a exibição do filme, na última segunda-feira, apontou também para o baixo número de evangélicos e católicos na passeata realizada em setembro.
Cacá reconhece que há setores conservadores do catolicismo, mas acredita que a postura do Papa representa uma nova era para a Igreja. “A JMJ foi praticamente uma passagem bíblica. Tinha gente rezando, fazendo manifestação política... E todos tiveram o seu espaço”, comenta o diretor.
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“Se for olhar a Igreja por seu papel histórico no Brasil, não dialogaria com ela, mas não posso ser idiota”, diz o babalorixá, que pondera: “Os católicos, por exemplo, estão sofrendo nas festas de São João por causa dos evangélicos, que não acreditam em santos. Não posso não ser solidário só porque não é comigo”, diz ele, referindo-se à retirada das tradicionais imagens das comemorações.